A escritora Alice Vieira elogiou o papel dos avós na transmissão de “outro conhecimento” aos netos, destacando o impacto da pandemia nas relações humanas.
“Os avós transmitem coisas que os outros não podem transmitir”, refere na entrevista semanal conjunta à Renascença e Ecclesia, publicada e emitida a cada sexta-feira.
Numa conversa por ocasião do Dia dos Avós (26 de julho), Alice Vieira refere que há coisas que os avós “transmitem” e que os pais não fazem.
“Às vezes falamos de coisas que para nós ainda foram anteontem, e eles já nem sabem o que é que aconteceu. Temos de contar como é que foi a nossa vida, o que é que foi este país antes, o que é agora, o que é que se fez. Acho isso fundamental, haver esse contacto entre os avós e os netos”, sustenta.
A autora admite que não imagina como teria sido viver a pandemia sem as “novas tecnologias’, que lhe têm permitido estar perto da família e dos amigos, e não perder o contacto com as escolas, que costumava visitar com frequência.
“Aquilo que mais me custa é não poder beijar os meninos, não poder abraçar os meus netos. E quando algum vem – porque eles não vivem em Lisboa -, é só assim as mãozinhas e mais nada… o que é complicado, porque eu sou muito de afetos, de beijar os miúdos”, confessa.
Alice Vieira assinala que, por causa do confinamento e das preocupações com a Covid-19, as pessoas começaram a “falar mais” e a estar mais atentas à solidão dos outros.
A própria escritora tem uma lista para não se esquecer de telefonar a quem sabe que precisa, e aproximou-se de vizinhos que antes nem conhecia.
“Acho que as relações ficam melhores. Também não estou a dizer que o vírus traz coisas boas, mas há uma nova consciência. Preocupávamo-nos com coisas sem importância nenhuma, e agora, de repente, aquilo com que nos preocupamos são muito menos coisas, mas são muito mais importantes”, precisa.
Eu acho que as pessoas, no fim disto tudo, se calhar vão ficar melhores pessoas”.
Viúva, há 16 anos, do também jornalista Mário Castrim, Alice Vieira fala, ainda, da sua reaproximação à Igreja Católica, pela mão do amigo Tolentino Mendonça, e também do novo livro que está a caminho.
A obra chama-se ‘Pó de arroz e janelinha’ – um título inspirado nas memórias de infância – e está a ser escrito a meias com a amiga Manuela Niza.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)
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