Queres uma Igreja profética? Muito bem! E que fazes para isso?, interroga papa

https://www.snpcultura.org/imagens/papa_francisco_20200629_pc.jpg«Dá-me pena ao ouvir proclamar: “Queremos uma Igreja profética”. Muito bem! E que fazes para que a Igreja seja profética? Servem vidas que manifestam o milagre do amor de Deus. Não potência, mas coerência; não palavras, mas oração; não proclamações, mas serviço.»

Foi com estas palavras que o papa vincou hoje, na missa da solenidade de S. Pedro e S. Paulo, a que presidiu no Vaticano, que ser-se profeta é mais do que apregoar palavras – aliás, muitas vezes devem ser omitidas, em favor de atos concretos.

«Hoje precisamos de profecia, mas de verdadeira profecia: não discursos que prometem o impossível, mas testemunhos de que o Evangelho é possível. Não são necessárias manifestações miraculosas», apontou Francisco.

Em síntese: «Queres uma Igreja profética? Começa a servir, e não digas nada. Não teoria, mas testemunho. Precisamos não de ser ricos, mas de amar os pobres; não de ganhar para nós, mas de nos gastarmos pelos outros».



Imagem Papa Francisco | Túmulo de S. Pedro | Basílica de S. Pedro, Vaticano, 29.6.2020 | D.R.

Imagem Papa Francisco | Missa e bênção dos pálios para os novos arcebispos metropolitas | Basílica de S. Pedro, Vaticano, 29.6.2020 | D.R.


Para serem discípulos de Cristo, os católicos têm também de assumir que a identidade cristã passa por ser contracorrente na cultura, não procurando, a todo o custo, a facilidade «do consenso do mundo, do estar de bem com todos (entre nós usa-se a expressão: “estar de bem com Deus e com o diabo”)».

«É inútil, e até chato, que os cristãos percam tempo a lamentar-se do mundo, da sociedade, daquilo que está errado. As lamentações não mudam nada. Lembremo-nos de que as lamentações são a segunda porta que fechamos ao Espírito Santo, como vos disse no dia de Pentecostes: a primeira é o narcisismo, a segunda o desânimo, a terceira é o pessimism», declarou.

Em vez de «projetos pastorais que parecem conter em si mesmos a própria eficiência, como se fossem sacramentos», a Igreja precisa de «pastores que ofereçam a vida: de enamorados de Deus», à semelhança de Pedro e Paulo, que não fugiram à morte que lhes foi infligida por ódio aos cristãos - «isto é profecia …e não palavras. Isto é profecia, a profecia que muda a história».

Na homilia, que começou por se deter na urgência da unidade na Igreja, Francisco recomendou a oração pelos governantes: «É uma tarefa que o Senhor nos confia. Temo-la cumprido? Ou limitamo-nos a falar, a insultar?».



Imagem Papa Francisco | Missa e bênção dos pálios para os novos arcebispos metropolitas | Basílica de S. Pedro, Vaticano, 29.6.2020 | D.R.

Imagem Papa Francisco | Missa e bênção dos pálios para os novos arcebispos metropolitas | Basílica de S. Pedro, Vaticano, 29.6.2020 | D.R.


«Quando rezamos, Deus espera que nos lembremos também de quem não pensa como nós, de quem nos bateu a porta na cara, das pessoas a quem nos custa perdoar. Só a oração desata as algemas, como a Pedro; só a oração deixa livre o caminho para a unidade», afirmou.

A unidade continua a ser precisa não só entre os católicos, mas entre os cristãos, e o dia de S. Pedro e S. Paulo, muito diferentes entre eles – o primeiro era «um pescador que passava os dias entre os remos e as redes», o segundo «um fariseu culto, que ensinava nas sinagogas» - é uma ocasião para fortalecer os laços com os ortodoxos: «Segundo uma bela tradição, hoje unimo-nos de maneira especial ao Patriarcado Ecuménico de Constantinopla».

«Hoje, eles não conseguiram vir, pela dificuldade de viajar devido ao coronavírus, mas quando desci para venerar as relíquias de Pedro, no coração sentia junto de mim o meu amado irmão Bartolomeu. Eles estão, aqui, connosco», disse Francisco.









 

Rui Jorge Martins
Fonte (texto e imagens): Sala de Imprensa da Santa Sé
Publicado em 29.06.2020

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