Diz-se que a única coisa permanente é a mudança. O movimento do tempo revela um fluxo constante, com períodos de estabilidade que formam a próxima onda de mudança. Uma imagem da história é um pêndulo que se move para uma direção até que o seu próprio contrapeso o puxa de volta na direção oposta. Quando a mudança ocorre, é, geralmente, mais visível como intergeracional. Uma geração mantém as suas próprias estruturas e padrões de valores, enquanto os seus filhos procuram adaptar-se às suas necessidades e visão de vida.
Jesus sabia que a sua mensagem de justiça e amor seria disruptiva para pessoas cujo privilégio era mantido às custas de outras pessoas. A sua visão de uma sociedade mais igualitária ameaçava aqueles que usavam a força para controlar a sociedade e extraíam riqueza da terra mediante o trabalho de outras pessoas, incluindo escravos e estrangeiros residentes. Sob a mensagem de amor e relacionamento justo de Jesus, havia uma revolução implícita do coração, que exigia a transformação social.
Por isso, as palavras de Jesus no Evangelho de hoje (Mateus 10,34-11,1), sobre conflitos entre gerações e dentro das famílias, não surpreendem. O contexto histórico ampliou a urgência dos ensinamentos de Jesus. A Igreja das origens testemunhou levantamentos religiosos quando Jerusalém caiu durante a guerra judaico-romana, e uma grande diáspora fluiu do Médio Oriente para a bacia do Mediterrâneo. A perseguição romana aos cristãos dividiu ainda mais as famílias, e enquanto alguns tentavam acomodar-se a Roma, outros optaram pelo submundo.
Embora a maioria de nós viva relativamente tranquilo, podemos perguntar-nos que histórias serão, no futuro, narradas por milhões de refugiados e imigrantes que lutam hoje para reconstruir as suas vidas após fugir de guerras, desastres climáticos e pobreza. E quem pode dizer, com segurança, que a instabilidade e a incerteza profundas não nos aguardam a todos, num mundo que enfrenta novas ondas de mudança causadas pela expansão da consciência social, pelos fracassos institucionais e pelas mudanças ecológicas?
As palavras de Jesus devem perturbar-nos. A questão subjacente é: se tudo falhar, no que é que podemos confiar? Se a lealdade da família fracassar, ou não puder fornecer apoio, se a segurança social não nos oferecer um tratamento especial, se a religião institucional não nos liderar, o que faremos numa situação de crise? Jesus oferece-se a si mesmo a nós como uma bússola, ao tornar central o nosso relacionamento com Ele. Se pegarmos na nossa cruz e o seguirmos, não nos perderemos no caminho. Mesmo se perdermos a nossa vida por causa dele, haveremos de a encontrar. Jesus é a continuidade na mudança, a estabilidade na transição.
Ele conclui o ensinamento aos discípulos com a certeza de que quem os receber, recebê-lo-á a Ele e a quem o enviou. Mesmo um copo de água fresca dado a um discípulo será recordado e recompensado. Dentro destas promessas há todo um mundo de garantia de que, se mantivermos a fé, encontraremos a vida. Se fizermos do amor a nossa regra, faremos parte de uma abençoada rede de cuidado e doação que atenderá as nossas necessidades básicas como parte da grande peregrinação da história rumo à Comunidade Amada que é a Trindade. Confiar que isto é real e verdadeiro é a essência da fé.
In National Catholic Reporter
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: © Philippe Wojazer/Pool via AP
Publicado em 13.07.2020
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