Mesmo com o amor avassalador de Deus, o que decide é a liberdade do nosso “sim” ou “não”

https://www.snpcultura.org/imagens/decidir_20200709_pc.jpgAgimos bem ao procurar sempre boas novas nas leituras das Escrituras. O livro de Oseias contém algumas das mais comoventes expressões do amor de Deus pelo seu povo, mesmo na sua pecaminosidade; «Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto» (Oseias 11,3-4).

A única explicação para a encarnação é a misericórdia envolvente de Deus para com a criação e o povo que Ele escolheu ser seu. Deus tornou-se humano como nós para nos procurar e trazer de volta quando éramos como ovelhas perdidas. Jesus envia os seus apóstolos à sua frente para estender o convite de Deus ao ser humano para se voltar para a misericórdia divina. Ele capacita-os a demonstrar essa misericórdia através de uma onda de curas e exorcismos, inclusive mediante a ressurreição dos mortos.

No entanto, o Evangelho de hoje (Mateus 10,7-15) também contém um aviso. Os apóstolos não devem perder tempo onde não são bem-vindos. O seu dom de paz regressará a eles se não for correspondido. Nos termos mais severos que se possa imaginar, Jesus compara as cidades que rejeitam os seus mensageiros com Sodoma e Gomorra. «Sacudi o pó dos vossos pés» ao partir.

Mesmo com o amor avassalador de Deus, é a liberdade humana que decide. Qual é o valor do nosso “sim” se não pudermos dizer “não”? Jesus, mais tarde, olhará para Jerusalém e chorará, porque a cidade de David não conhecia a hora da visita de Deus. A consequência será a oportunidade perdida. Não há necessidade de punição. A virtude é a sua própria recompensa, enquanto a negligência é a sua própria perda. Simplesmente colhemos o que plantamos. A nossa fé religiosa não nos desculpa ou resgata da realidade. O Evangelho entra para o topo das leis básicas da vida e das regras de responsabilidade social.

A boa notícia é que ainda podemos controlar o resultado de grande parte da nossa realidade pessoal. Não somos vítimas de um destino cego ou do julgamento divino. Deus é sempre amor, sempre perdão, sempre pronto para nos mostrar como lidar com os desafios e reveses da vida, como ser inteligente e proativo. Mesmo quando cometemos erros ou agimos de maneira imprudente, se queremos ajuda, Deus oferece maneiras criativas de corrigir as coisas, começar de novo.

O discipulado cristão foi primeiramente denominado, simplesmente, "O Caminho". Era um conjunto de ensinamentos, mas sempre no contexto da comunidade, redes de relacionamentos, projetos comuns para tornar a vida mais pacífica e justa. Atraiu outras pessoas que viram os benefícios da caridade e do apoio mútuo. Foi neste contexto que os crentes experimentaram a presença viva de Jesus, cuja morte e ressurreição ofereceram um padrão de renúncia e alegria na vida do dia a dia. Somos convidados a abraçá-lo livremente como um estilo de vida e um encontro contínuo com o mistério de Deus. Esta é a boa notícia.


 

Pat Marrin
In National Catholic Reporter
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: 1STunningArt/Bigstock.com
Publicado em 09.07.2020

Comentários