Conversão das paróquias precisa do encontro entre Evangelho e cultura

https://www.snpcultura.org/imagens/igreja_cidade_20200720_pc.jpgA instrução “A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja”, divulgada hoje pelo Vaticano, destaca que «o encontro fecundo e criativo entre o Evangelho e a cultura conduz a um progresso verdadeiro».

«De um lado, a Palavra de Deus encarna-se na história dos homens renovando-a; de outro lado, «a Igreja pode também ser enriquecida, e de facto é-o», lê-se no texto, que, logo no primeiro parágrafo, menciona as «notáveis transformações sociais e culturais» ocorridas nas últimas décadas.

O texto, assinado pela Congregação para o Clero, reitera que «a rapidez das alterações, a mudança dos modelos culturais, a facilidade para as deslocações e a velocidade da comunicação estão a transformar a perceção do espaço e do tempo».

Apesar desta aceleração, a Igreja, como já fora apontado há mais de meio século no concílio Vaticano II, «é capaz de entrar em comunicação com as diversas formas de cultura, com o que se enriquecem tanto a própria Igreja como essas várias culturas».

Por isso, «a comunidade cristã não deve ter medo de iniciar e acompanhar processos dentro de um território onde vivem diferentes culturas», e, por isso, «a “cultura do encontro” é o contexto que promove o diálogo, a solidariedade e a abertura a todos, fazendo emergir a centralidade da pessoa».



Como deixou de ser «o lugar primeiro da agregação e da sociabilidade, a paróquia é chamada a encontrar outras modalidades de vizinhança e de proximidade



No interior de regiões com culturas multiformes, e o mesmo ocorrendo dentro da própria comunidade católica, é necessário «que a paróquia seja um “lugar” que favorece o estar juntos e o crescimento das relações pessoais duradoras, que consintam a cada um de perceber o sentido de pertença e de ser bem quisto».

O documento aborda temas como os ministérios clericais e laicais, procurando intensificar a corresponsabilidade dos batizados», e salienta que «na Igreja há lugar para todos, e todos podem encontrar o seu lugar».

Ao mesmo tempo que reitera a condição de o pároco ser o «pastor próprio» da comunidade, a instrução valoriza a participação de diáconos, consagrados e leigos, e avaliza algumas experiências realizadas em Igrejas locais, propondo-as como opções válidas para toda a Igreja.

As situações apresentadas no texto são «uma preciosa ocasião para a conversão pastoral no sentido missionário», constituindo-se como «convites às comunidades paroquiais a sair de si mesmas, oferecendo instrumentos para uma reforma, também estrutural, orientada para um estilo de comunhão e de colaboração, de encontro e de proximidade, de misericórdia e de solicitude para o anúncio do Evangelho».

Um dos principais desencadeadores da mudança nas paróquias é o facto de a sua configuração enquanto território ser confrontado com a «crescente mobilidade e a cultura digital», que dilataram as fronteiras físicas da existência.



Além de «evidenciar a urgência» da renovação, a instrução «estabelece as possibilidades, os limites, os direitos e os deveres de pastores e leigos, para que a paróquia se redescubra a si mesma como lugar fundamental»



«De facto, de um lado, a vida das pessoas identifica-se sempre menos com um contexto definitivo e imutável, mas desenvolve-se “num território global e plural”; de outro lado, a cultura digital modificou de maneira irreversível a compreensão do espaço, e a linguagem e os comportamentos das pessoas, especialmente das gerações jovens», constata o documento.

Com efeito, não são raros os casos, sobretudo nas grandes cidades, em que comunidades atraem pessoas de dezenas de km, não só por motivos de alternância entre residência e trabalho, ou, sazonalmente, em virtude das férias, mas porque, aos sábados e domingos, se deslocam propositadamente para participar na missa.

Por outro lado, como deixou de ser «o lugar primeiro da agregação e da sociabilidade, a paróquia é chamada a encontrar outras modalidades de vizinhança e de proximidade no que diz respeito às atividades habituais».

Além de «evidenciar a urgência» da renovação, a instrução «estabelece as possibilidades, os limites, os direitos e os deveres de pastores e leigos, para que a paróquia se redescubra a si mesma como lugar fundamental do anúncio evangélico, da celebração da Eucaristia, espaço de fraternidade e caridade, de onde se irradia o testemunho cristão para o mundo».

A par de perspetivas de amplo espectro para o futuro da paróquia, o texto centra-se em muitas questões específicas, como o das ofertas dada para a celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos. A Congregação para o Clero lembra que se trata «de uma oferta que, por sua natureza, deve ser um ato livre da parte do ofertante, deixando a sua consciência e ao seu senso de responsabilidade eclesial, não um “preço a pagar” ou uma “taxa a exigir”, como se se tratasse de um tipo de “imposto sobre sacramentos”».


 

Rui Jorge Martins
Imagem: Fotokon/Bigstock.com
Publicado em 20.07.2020

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