Caro leitor, alguns dos nossos deputados apressam-se a voltar a trazer a debate a lei da eutanásia. É um motivo para rezarmos fervorosamente contra esta injustiça e por todas as pessoas que são a favor deste ato absolutamente contrário a qualquer sentido de decência humana, quanto mais cristã. E, a propósito da eutanásia e dos (enormes) malefícios da rampa deslizante que está a conduzir, na Alemanha, à legalização da eutanásia de pessoas idosas não doentes (!), recomendo a leitura do artigo O Suicídio da Liberdade, de Pedro Vaz Patto, Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz, publicado no Observador.
Agora gostava de chamar a atenção do leitor para o que durante a pandemia se passou num país europeu e que talvez o leitor tenha tido conhecimento pelos meios de comunicação social. Numa região autónoma desse país foi dada ordem ao serviço de ambulâncias para não levarem idosos com covid – e naturalmente com outras doenças – das famílias e dos lares para os hospitais porque seriam tratadas só pessoas com mais esperança de vida. E seriam os condutores das ambulâncias a explicar este facto às famílias e aos lares quando fossem chamados!
Na capital desse país sucedeu algo de parecido embora o governo tenha desmentido que houvesse essa ordem. Mas há poucos dias (estou a escrever no dia 20 junho) a TVI 24 passou um filme que mostrava uma pessoa, que parecia um médico, num hospital que a reportagem identificava, a dar instruções a pessoas sentadas numa sala. Isto no pico da pandemia. As instruções eram para não se aceitar no hospital pessoas com mais de 80 anos. E a reportagem explicava que eram instruções extensíveis a toda a capital. Assim, do covid, nessa cidade, nessa altura, morreram 6000 idosos com idades acima dos 80 anos.
No mesmo país, uma carrinha que ia de um lar para o centro de uma vila foi apedrejada por populares com medo que os idosos que transportava tivessem covid, entendendo que, por isso, os idosos não deviam ter atravessado a vila.
Em prédios, ainda desse mesmo país, vizinhos de pessoas que trabalhavam em hospitais, puseram papéis nas portas dos apartamentos dessas pessoas dizendo-lhes que fossem morar para outro sítio porque, como trabalhavam em hospitais, podiam trazer o covid para os prédios.
Todos estes factos são inqualificáveis. Não tenho adjetivação para eles. E porque é que eu falo disto ao leitor? Para quando vierem os debates sobre a eutanásia ou este tipo de notícias na televisão, ou os miúdos trouxerem da escola temas deste género o leitor os saiba formar. Filhos e netos. E se lá em casa estiverem uns amigos dos filhos também não perdem nada em ouvir. Porque, um dia, pelo caminho que as coisas levam, os seus filhos ou netos podem estar no meio de uma situação destas e têm de interpor objeção de consciência, têm de se revoltar. E o leitor vai ter responsabilidade nisso.
Hoje em dia, muitos casais católicos têm vergonha de educar os filhos nos valores da Igreja. Os filhos, adolescentes, não vão aceitar alguns desses valores. Mas têm que, pelo menos, saber quais são. E os pais também têm de saber quais são porque algumas vezes também não sabem.
Gonçalo Miller Guerra, sj
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