Amar destapa os "ses" e os "mas" e os "quem
sabe?…" e os "logo se vê…". E as reticências todas que nos irrita que
existam mas que, de repente, se acotovelam à entrada do nosso coração -
todas a forçar a entrada! - sem lugar marcado e sem "bilhete". Amar puxa
tudo o mais que, parecendo escorreito, nos desarruma, por dentro, e nos
faz da cabeça um reboliço mas que - diabos nos levem! - parece inundar
de luz os nossos olhos. Amar atrai, meticulosamente, todas as pequenas
cicatrizes de todas as relações. Sobretudo aquelas que pareciam
arrumadas, sossegadas e resolvidas. E as outras que eram simples
beliscaduras ou arranhões sem importância mas que, de cisma em cisma, se
transformam num "tiranossauro" que nos magoa. Amar nunca acontece sem
um monte de dúvidas. Sem um montão delas; é mais assim. Amar nunca se
faz de um único fôlego. E, para mais - que irritação! - nunca se ama "à
primeira"! Amar atrai "irracionalidades" a perder de vista. E tantas e
tão tolas e tão "tirem-me deste filme!" que parece que não mandamos nem
sequer na “porcaria” dos sorrisos que queremos aferrolhar e, de repente,
que nos fogem do rosto, a torto e a direito. E, nos entretantos disto
tudo, o mundo parece em paz. E límpido. E esclarecido. E ninguém nos
tira da cabeça que os astros só se alinham porque os pusemos "no lugar".
E é tudo tão "sol" que a felicidade parece um acidente que veio, de
propósito, por "correio registado", ao nosso encontro.
Mas nada é
assim! Todos amamos à condição. E estamos atentos e atentos e mais
atentos. E fazemos tantas contas de cabeça que deixariam qualquer
calculadora sofisticada desolada e com complexos de inferioridade. E
temos baús de “pormenorzinhos estúpidos” que vamos guardando. E que, às
vezes, tornam quase tudo, dentro de nós, desenxabido. Ninguém ama sem
condições! Amar é tão “mais que tudo” que, de repente, parece que
aceitamos, "sem condições" nem exigências, aquilo que a vida nos deu.
Mas a verdade é que nunca lhe perdoamos uma única factura. E é por isso -
só por isso! - que, quando se ama, tudo parece "no lugar".
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