Em 1991, São João Paulo II propôs que se celebrasse anualmente um dia em defesa da vida em todos os países do mundo.Em resposta a este apelo do Papa a Conferência Episcopal Portuguesa instituiu em 1994, no Ano Internacional da Família, a celebração desta Semana.Conforme escreveu o Papa João Paulo II na Carta Encíclica “Evangelho da Vida” trata-se de “suscitar nas consciências, nas famílias, na Igreja e na sociedade, o reconhecimento do sentido da vida humana em todos os seus momentos e condições, concentrando a atenção de modo especial na gravidade do aborto e da eutanásia, sem, contudo, menosprezar os outros aspetos e momentos da vida”.Nunca é demais refletir sobre o valor e a inviolabilidade da vida desde a sua conceção até à morte, bem como rezar para que cresça na humanidade a consciência do valor da vida, o cuidado da vida, o respeito e a defesa da vida e celebrá-la como um grande dom que recebemos de Deus, com profundo reconhecimento. A vida que temos devemo-la a quem aceitou generosamente ser colaborador e aliado do Deus da vida, que se fez um de nós em JesusCristo, para que tivéssemos vida e vida em abundância. Com Jesus também nós somos chamados,por vocação,a ser promotores da vida.
2 - «A fragilidade humaniza a vida» é o tema para a semana da vida que começa este domingo. Porquê esta escolha e o seu contexto?
A escolha do tema vem na sequência doI Congresso Internacional daPastoral dos Idosos,que teve lugar em Roma 29 a 31 de janeiro de 2020, promovido pelo Dicastério para os Leigos, Família e a Vida, com a participação de 550 pessoas representantes das Conferências Episcopais, Congregações Religiosas, Associações e Movimentos de 60 países de todos os continentes, ligados à pastoral da terceira idade,sobre o papel dos idosos na Igreja e na família contra a cultura do descarte, sob o tema “A riqueza dos anos”. A Conferência Episcopal Portuguesa também participou, através de uma representação da Comissão Episcopal dos Leigos e a Família e Departamento Nacional da Pastoral Familiar.Foi o primeiro Congresso sobre este tema tão querido e frequentemente abordado pelo Papa Francisco. O número de participantes constituiu uma surpresa para a organização e manifesta a sua importância na atualidade, não só a nível da Europa, mas de outros continentes.A “revolução demográfica” que está afetando o mundo é um daqueles “sinais dos tempos”que não podemos deixar de levar em conta. Este Congresso veio despertar para o acompanhamento e cuidado pastoral dos idosos e o contributo dos idosos na pastoral.Nas nossas sociedades onde a cultura do desperdício e a marginalizarão da fragilidade frequentemente dominam a imaginação coletiva e as escolhas familiares, políticas e sociais, a “riqueza dos anos” nem sempre é aceite como a bênção de uma vida longa, mas como um peso,e não como a parte mais rica da sociedade, como foi afirmado no Congresso. Os idosos são testemunhas, guardiões da memória, da história e das raízes da fé entre as gerações mais jovens e a sociedade em geral. São o elo do ciclo da vida. Ao mesmo tempo, são protagonistas e destinatários da atenção pastoral da Igreja que deve valorizá-los,assumir o compromisso de os cuidar com amor e tirá-los das periferias existência da sua existência. A sua presença e a sua fragilidade humanizam a vida. A pandemia do coronavírus despertou-nos para a realidade da fragilidade. Este vírus desconhecido, invisível e incontrolável faz-nos reconhecer quão frágeis somos e como dependemos uns dos outros;lembrou-nos que “somos todos frágeis, todos iguais, todos preciosos”, como disse o Papa na homilia do Domingo da Divina Misericórdia (19 de abril).Esta experiência comum da própria fragilidade despertou e fez-nos crescer em humanidade, tornou-nos mais sensíveis, mais atentos, mais solícitos uns para com os outros. O confinamento ajudou-nos a conhecermos-mos e a conhecermos melhor os outros, gerou um movimento espontâneo proximidade e de grande solidariedade social, principalmente em relação aos mais frágeis, aos doentes, aos infetados, aos idosos, aos sós. Suscitou o reconhecimento em relação ao valor e à importância dos que heroicamente cuidam dos outros na linha da frente da pandemia.Cuidar dos mais frágeis humaniza-os, humaniza aquele que cuida e humaniza a sociedade, como é dito na mensagem para esta Semana da Vida.Embora o contexto da escolha do tema esteja relacionado com o Congresso e na sua sequência, infelizmente insere-seno contexto existencial que estamos a atravessar. Oxalá possa ser um contributo para “nos reconhecermos frágeis” e, com a ajuda do Senhor,“descobrirmo-nos preciosos nas nossas fragilidades”, como disse o Papa Francisco, na homilia do Domingo da Misericórdia (19 de abril).
3 –Há uma palavra de homenagem a todos os que estão na linha da frente do combate à pandemia. Qual a importância deste destaque e o coronavírus Covid-19 tornou ainda mais significativa a Semana da Vida 2020?
(Creio que na pergunta anterior, incluía resposta a esta pergunta)
4 –No 15 de maio é assinalado o Dia Internacional da Família. O que é pedido às famílias e às comunidades católicas no contexto deste dia e desta semana?
A família é um “tesouro escondido” na Igreja.A Semana da Vida é mais uma oportunidade, na sequência do confinamento, para descobrir este «tesouro» e consolidar a identidade da família como “Igreja doméstica”.Ao mesmo tempo, sensibilizar a família, para o apreço e o cuidado dos seus membros, sobretudo dos mais frágeis e idosos, crescer no respeito e no amor mútuos, suscitar a abertura para receber dos idosos os dons da sua sabedoria e da sua experiência, e encorajara oração na família. A proposta pastoral para esta Semana visa também o fortalecimento da rede de relação e de comunhão entre as famílias, através da oração e da partilhada Palavra de Deus na família e entre as famílias.Jesus está presente nas famílias, nos esposos unidos no seu amor pelo sacramento do Matrimónio, quando estão reunidos, quando rezam, em todos os momentos. Em virtude desta realidade, esta Semana da Vida pode ser um tempo particular e uma oportunidade para que cada família cristã se redescobrir como “Igreja doméstica”, manifestação do mistério da Igreja, fortalecer os laços de amor e de comunhão entre os seus membros, de modo que, a Igreja-comunidade seja cada vez mais uma “família de famílias”, família amiga das famílias, família para os que não têm família, e rede de reconstrução da humanidade como família.
D. Joaquim Mendes
08 de maio de 2020
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