Palmas e oliveiras: O Domingo de Ramos na Bíblia, natureza e espiritualidade

«A multidão, numerosíssima, estendia os seus mantos no caminho, enquanto outros cortavam ramos das árvores e estendiam-nos no caminho»: a liturgia do Domingo de Ramos, na esteira dos Evangelhos, está associada a duas árvores que têm um valor simbólico na Bíblia e na tradição cristã.

A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, segundo o Evangelho de Mateus (21,8), introduz um sinal particular de festa, os ramos verdejantes («folhas cortadas nos campos», de acordo com Marcos 11,8), que no Evangelho de João são especificadas como «ramos de palma» (12,13).
Sobre esta cena podemos sobrepor a doe eleitos do livro do Apocalipse: «Uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de toda a nação, tribo, povo e língua …, revestidos em vestes cândidas, tinham ramos de palma nas suas mãos» (7,9).
É na sequência destas representações que a liturgia de Ramos propõe a procissão das palmas, às quais se associam as oliveiras, porque a entrada de Jesus parte de Betfagé, uma vila nas encostas do monte das Oliveiras (cf. 21,1).
Na contemplação bíblica da natureza encontramos estas duas árvores que revestem um valor emblemático nas páginas sagradas e na tradição judaica e cristã (a festa das Cabanas, por exemplo, compreende um, ritual em que se agitam palmas, em sinal de alegria).


À oliveira seria necessário dedicar um longo tratado, porque é, com as videiras e o figo, um vegetal mediterrânico muito querido à Bíblia, sobretudo pelo seu fruto



Em hebraico, “palma” é “tamar”, que se torna também um nome de pessoa (como a infeliz irmã de Absalão, filho de David, conforme 2 Samuel 13), e de definição de localização (Jericó era dita “ a cidade das palmas”).
Esta planta, com a harmonia das curvas dos ramos e do seu penacho torna-se símbolo da beleza, como se diz da mulher no Cântico dos Cânticos: «O teu porte é semelhante à palmeira e os teus seios parecem cachos» (7,8), com evidente alusão às tâmaras.
Para o salmista, é o justo que floresce com palmeira …, mesmo na velhice dará frutos, e será verde e viçoso» (92,13-15). Em grego, “palma” é “phoinix”, com a referência ao pássaro da imortalidade, a fénix, e à Fenícia, que nas suas moedas cunhava muitas vezes a imagem de uma palmeira.
À oliveira, por seu lado, seria necessário dedicar um longo tratado, porque é, com as videiras e o figo, um vegetal mediterrânico muito querido à Bíblia, sobretudo pelo seu fruto, que produz o azeite.
No Novo Testamento, “eláia”, “oliveira” em grego, ressoa três vezes como “monte das Oliveiras”, e 11 enquanto “elaiôn”, “óleo”. Recordamos, no entanto, que já nas primeiras páginas da Bíblia comparece um raminho de oliveira levado por uma pomba a Noé, como sinal de renascimento da vida após a tragédia do dilúvio (cf. Génesis 8,11). Também Israel, ressurgido como povo abençoado por Deus, «terá a beleza da oliveira» (Oseias 14,7).
Entre os muitos passos bíblicos colocados idealmente à sombra desta árvore evocamos dois. O primeiro é luminoso, e é a deliciosa quadra do Salmo 128, com o pai sentado à mesa rodeado da mulher e dos seus filhos, «semelhantes rebentos de oliveira» (v. 3).
O segundo é, ao contrário, dramático, e decorre no Getsémani, de todos conhecido; o termo significa “lagar para as oliveiras”, colocado no interior de um horto de oliveiras onde Jesus sofre e reza na última noite da sua vida terrena.


Card. Gianfranco Ravasi
Presidente do Conselho Pontifício da Cultura, biblista
Fonte: Famiglia Cristiana
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 02.04.2020


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