A reclusão é uma “via crucis”, via de cruz. Pode conduzir ao desespero, ou pode, na fé, abrir ao horizonte da Páscoa.
As breves reflexões que acompanham esta via-sacra foram amadurecidas em grupos de meditação do Evangelho, compostos por pessoas detidas na prisão de Bolonha, para partilhar a Palavra, as alegrias e as dores, as angústias e as esperanças, avançando juntos pela estrada da liberdade.
As referências diretas à condição de reclusão, em algumas passagens, são inevitáveis porquanto teria sido insípido propor reflexões desligadas da condição de vida pessoal.
São catorze estações percorridas por Jesus inocente. Nenhum de nós pode dizer o mesmo. Ele percorre-as não como um herói que nos humilha na nossa culpa, mas como irmão que toma sobre si o nosso jugo de cruz, para que não sucumbamos.
Primeira estação: Jesus é condenado à morte
Pilatos segue a onda da opinião pública, deixa-se intimidar. A sua tentativa extrema de mandar Jesus em liberdade falha. Jesus está só, de pé; aguarda a sentença, que o condena, apesar de não ter «feito nada de mal». A leitura da sentença em tribunal atinge-te de pé e põe-te de joelhos; ergue à tua volta uma solidão nunca experimentada, ainda que confies que as pessoas mais queridas te acompanharão. Mas sabes bem que muitos, como aconteceu a Jesus, te voltarão as costas.
Acontece também fora dos tribunais, onde sentenças pronunciadas em mexericos sussurrados e rancorosos, ou pelas pedras virtuais, mas ainda assim contundentes, da internet continuam a humilhar demasiadas pessoas.
Nós sofremos uma condenação não por inveja, mas – como diz o bom ladrão – porque recebemos o que era justo pelas nossas ações. Todavia, na expiação desta condenação, a nossa história faz-nos sentir Jesus próximo: Ele não nos abandona. Ele aceita uma condenação, fruto de injustiça e perseguição, para compartilhar a nossa e impedir que seja somente alienação do corpo e da mente. Ou até aniquilamento. Esta é para nós a verdadeira condenação e a nossa crucificação.
Senhor, que humilhaste a prepotência e o orgulho dos teus perseguidores, protege os pobres, liberta os oprimidos, concede a todos os homens a alegria pascal.
Cristo inocente, sustenta os condenados e os perseguidos por causa da justiça e da fé.
Senhor Jesus, que aceitaste percorrer o caminho daqueles que não são inocentes, para seres em tudo e para todos “um de nós”, acolhe a oração de nós, pecadores.
Segunda estação: Jesus carrega a cruz
Na liberdade que os nossos pais e as nossas mães nos ganharam a elevado preço, permitimo-nos deixar-nos ser tocados nas emoções das notícias e imagens de povos oprimidos por poderes iníquos, políticos, económicos, espirituais.
A tirania do poder provoca condições devastadoras, e quem é vítima dela sofre prepotências e abusos de toda a espécie. O oprimido vive na inquietude, sofre sem saber como reagir, e a impotência é aviltante. Os abusos dobram o ânimo dos fracos e deixam sinais indeléveis, como a cruz sobre Jesus. Impede-nos de sucumbir a fé em Jesus, que sofreu sobre si a opressão da prepotência. E hoje, de novo, Jesus toma sobre si a cruz de todos os vexames, toma lugar entre os oprimidos. Se permanecermos entre os indiferentes, entre quantos não se importam com os direitos e expetativas do oprimido, encontrar-nos-emos onde Ele não está.
Senhor, manso e humilde de coração, torna suave o jugo e leve o peso de quem se encontra no caminho da tua própria cruz.
Cristo, Tu que viveste a nossa condição humana, sustenta os vacilantes, consola os aflitos, liberta os oprimidos.
Senhor, que hoje te adoramos carregado com uma cruz, faz com que amanhã e sempre carreguemos nós a cruz de outros, e não do nosso próximo.
Terceira estação: Jesus cai pela primeira vez
A primeira queda faz mal também por dentro. Acreditámos que éramos mais fortes, mais astutos, mais corajosos. E depois a queda que te prostra; a humilhação que te tira o fôlego para pedir ajuda.
Jesus quis compartilhar a nossa vida, e cai por terra sob o peso de cada cruz. Deixa-se arrastar pelas quedas da nossa vida, em particular por aquelas que não conseguimos compreender ou aceitar, porque nos parecem injustas ou demasiado dolorosas. Um luto imprevisto, uma relação ferida, um abandono. A solidão.
Diante de acontecimentos como esses, reconduzíveis ou não à nossa responsabilidade, reagimos com a raiva, a rebelião e o lamento. Jesus, ainda que inocente, “não abre a boca”. Não recrimina e, com humildade, reergue-se. Não o faz por heroísmo, mas para que, agarrando-nos a Ele, possamos voltar a levantar-nos também nós.
Senhor, manso cordeiro, perdoa os nossos pecados em pensamentos, palavras, atos e omissões.
Cristo, manso e humilde de coração, torna-nos dóceis no aceitar as nossas quedas, e dá-nos a coragem para nos levantarmos de novo.
Senhor, Tu que não queres a humilhação do pecador, mas que se converta e viva, reergue-nos quando caímos sob o peso do mal.
Quarta estação: Jesus encontra a sua Mãe
Pode, porventura, uma mulher abandonar o fruto das suas entranhas? Pode uma mãe deixar que o seu filho percorra caminhos de cruz sozinho? Penou uma vida para que esses caminhos lhe fossem poupados. Ensinou-lhe os trilhos da justiça e os caminhos da salvação. Mas mesmo quando descobre que não o salvou das vias dolorosas, ela está lá para lhe dar novamente a vida, para lhe dar uma vida nova.
Ser-se arrancado da própria mãe é ainda pouco comparado à dor da mãe que se vê arrancar o filho. Sabemo-lo bem, e com dor, nós que, por nossas culpas, vivemos longe da nossa família, e deixámos filhos distantes do pai e da mãe. Sabemos bem, e com esperança, que a dedicação e o amor de uma mãe não se esgota diante de qualquer provação ou dor originada por um filho. Quando a dor é de uma mãe, é sempre dor de um parto, que gera vida.
Num diálogo imaginário, assim Jesus se dirige a Maria:
«Nos teus olhos, mãe queridíssima, leio todo o desespero que vives neste momento pela condenação e sacrifício ao qual fui entregue.
Educaste-me com amor, e agora os teus olhos estão impregnados de tristeza pelo destino que me espera. A tua dor é fecunda, e abre as portas da vida a quem, pelas estradas da vida, se perdeu e me procura»,
Senhor, Filho do Pai, não permitas que ninguém seja perdido dos irmãos que foram confiados.
Cristo, nascido da Virgem Maria, a nossa vida de filhos seja honra para os nossos pais e as nossas mães.
Senhor, Filho de Deus e Filho do Homem, dá-nos a fé para renascer para a vida de filhos.
Quinta estação: Jesus é ajudado a carregar a cruz por Simão de Cirene
O encontro de Jesus com Simão de Cirene é um encontro silencioso: a Palavra, que é Jesus, e a caridade de Simão encontram-se no silêncio. Uma silenciosa lição de vida. Não é Deus o mandante do sofrimento, nem é o autor do nosso mal, mas indica-nos que levar o peso uns dos outros, compartilhar o sofrimento na fé, é caminho de cruz, sim, mas também de salvação. A aceitação do sofrimento, assim como Jesus a aceitou, não seja resignação nem martírio, mas o encontro com a verdade das nossas feridas e a capacidade de as confiar a Jesus.
A cruz da nossa vida, à qual fomos suspensos por vezes pelos nossos próprios erros, não se compara à de Jesus. Também nós, no entanto, encontramos muitos Simões de Cirene que nos sustêm nas nossas vias-sacras. Ajudam-nos todos aqueles que trazem a Palavra de Deus, porque nos mostram o rosto da misericórdia e do perdão, e assim «o seu jugo é leve».
Senhor, queremos ser teus discípulos, para sermos capazes de levar a cruz todos os nosso dias; levá-la-emos com esperança, porque sabemos que Tu a levas connosco como Simão de Cirene a levou contigo, certos de que a meta não é o Calvário, mas a Páscoa da libertação.
Senhor, ajuda-nos a escutar a tua Palavra. Ela ajuda-nos a compreender e a ter fé, para que assim a esperança nunca morra.
Cristo, leva connosco o peso da cruz. O teu perdão resgate os nossos sofrimentos, para que não sejam em vão.
Senhor, fiel e misericordioso para connosco, concedei-nos que tenhamos misericórdia por nós mesmos, e aceitemos na fé a nossa cruz.
Sexta estação: Verónica enxuga o rosto de Jesus
Cristo e a Verónica: olhares que se cruzam, sofrimentos que se compreendem, coração que se abre, amor que rompe toda a interdição. Uma mãe, uma mulher diante de tanto horror, não resiste, rompe toda a regra, supera todo o obstáculo, arranja força e coragem para fazer aquele pouco que está nas suas possibilidades: enxugar, limpar aquele rosto transfigurado, dar um pouco de ternura entre tanto ódio e tanta brutidão; faz reflorescer o rosto do filho amado.
Senhor, quantas vias-sacras temos ainda de percorrer para não ver mais rostos como o teu, transfigurados pelo ódio racial, pelo egoísmo, pela cobiça, pela sede de poder?
Senhor, cura os nossos olhos, para ver o sofrimento no rosto do irmão.
Cristo, dá-nos a coragem das mulheres, para romper o cortejo dos torturadores e os coros de quantos o aplaudem.
Senhor, liberta-nos da habituação que empalidece a tua imagem no rosto do irmão, e mostra-nos o teu rosto.
Sétima estação: Jesus cai pela segunda vez
A segunda queda faz mais mal que a primeira. O cárcere faz-se mais fechado à segunda vez. Esquecemo-nos das cores da vida, mas continuamos sorridentes. Sabemos que as quedas nos deixam cicatrizes indeléveis, mas Jesus, que cai como nós e se reergue levando a cruz até ao Calvário, é a ternura da esperança que cura o nosso coração.
Senhor Jesus, se Tu cais, é porque nós caímos. As nossas vidas parecem por vezes vias sem saída. Os preconceitos, o ressentimento, a desconfiança endurecem os nossos corações e esmagam-nos por terra. Como Tu fizeste, também nós procuramos de cada vez reerguer-nos, até quando nos reerguermos para sempre, contigo, da queda da morte.
Senhor, faz com que não endureçamos os nossos corações diante do ódio, dos preconceitos e das injustiças, mas como Tu consigamos diariamente reerguermo-nos.
Cristo, faz com que possamos ter os olhos, o coração, os ouvidos sempre abertos para encontrar a sabedoria do teu Espírito que nos ajuda a não tropeçar.
Senhor, ensina-nos a reerguermo-nos quando erramos, e a não ser nunca pedras de tropeço para os nossos irmãos.
Oitava estação: Jesus consola as mulheres de Jerusalém
Jesus não foi indiferente, e apesar do seu grande sofrimento, compreendeu a dor das mulheres chegadas a Jerusalém para o acompanhar na sua hora extrema, encontrando a força para o consolar.
Todos precisamos de ser consolados, porque todos sofremos. Pelas nossas culpas, pelas culpas de outros, ou simplesmente porque a vida é assim.
A dureza da prisão, como a dureza da vida, impelem-nos a usar máscaras para esconder a necessidade de ser consolado. Mas se deixarmos transparecer a nossa aflição e soubermos escutar, atrás das máscaras, o grito de invocação que vem do irmão, então verificam-se prodígios de humanidade. E a madeira seca torna-se madeira verde.
Senhor Jesus, quando me encontro na tristeza e preciso de conforto, fica próximo de mim com a tua Palavra.
Cristo Jesus, faz que escutemos o teu convite a reconhecer as nossas responsabilidades nos males que afligem o mundo, encontrando a força de mudar para tornar melhor a nossa vida e a dos outros.
Senhor Jesus, dá a tua bem-aventurança a quantos consolam os aflitos.
Nona estação: Jesus cai pela terceira vez
Quando caímos não três, mas mais vezes; quando as quedas já as esperamos; quando basta uma pequena pedra para nos fazer tropeçar; quando perdemos a vontade de nos reerguermos por causa do temor de voltarmos a cair; quando só a nossa boa vontade não chega, e sabemo-lo; quando nos damos por perdidos, Jesus aceita cair de cada vez do seu Céu para que a nossa vida não seja sem Céu. E não terminará de subir ao Céu até que leve consigo o último homem caído por terra.
Jesus cai pela terceira vez sob o peso da cruz, tornada insuportável pelo grande sofrimento, físico e espiritual, da humanidade. A tua cruz é insuportável, como a nossa, porque é a nossa.
Senhor Jesus, se fui pedra de tropeço para algum dos meus irmãos, perdoa o meu pecado e converte-me para que eu seja apoio do fraco.
Cristo Jesus, quando tudo parece desabar dentro de mim, mostra-me a tua compaixão e dá-me sustento.
Senhor Jesus, Tu conheces a exaustão da cruz, Tu conheces também o meu abismo, Tu conheces também os gestos e as palavras para me reergueres.
Décima estação: Jesus é despojado das vestes
Quando nos despimos para usar uma veste melhor, antegozamos a alegria de nos sentirmos admirados. Quando somos despidos à força, em nome da lei, em nome da segurança, em nome de uma presumida propriedade sobre o nosso corpo, é nos tirado, juntamente com as roupas, o último pedaço de dignidade que resta.
Ainda hoje, o Filho do Homem é humilhado pela prepotência que arranca as vestes, pelo controlo que desnuda e inquire, pela violência dentro de casa e na ruas que despoja de dignidade quem a exerce e quem a sofre, pela violação individual e massificada.
Toda a espoliação, toda a humilhação, vem depois de uma crucificação.
Senhor Jesus, dá-nos a humildade e liberta-nos da humilhação.
Cristo Jesus, despoja-nos de toda a forma de violência, física e moral, e reveste-nos da tua mansidão.
Senhor Jesus, reveste-nos de ti, para que nenhuma humilhação nos possa privar da nossa dignidade.
Décima primeira estação: Jesus é pregado na cruz
Jesus, no seu infinito amor, pede perdão ao Pai por toda a humanidade, inclusive pelos seus crucificadores.
O teu amor é tão grande, o teu perdão é tão desconcertante, que nos parece impossível poder acolhê-lo.
Nós, como o ladrão ao teu lado, não temos nada a apresentar-te, Senhor, a não ser o nosso coração, aberto pelo arrependimento; nada a não ser a nossa necessidade do teu perdão.
As tuas mãos pregadas abertas à cruz nunca se fecham ao nosso abraço, e são a promessa certa de que somos sempre acolhidos por ti, se também nós nunca negarmos o nosso perdão ao irmão.
Senhor, que confiaste os teus crucificadores à misericórdia do Pai, nunca nos negues o teu perdão, e recorda-te da tua misericórdia.
Cristo, que perdoaste a pecadora que muito amou, torna-nos capazes de reparar com gestos de caridade o mal que fizemos.
Senhor, que ao ladrão arrependido concedeste a graça de entrar contigo no teu Reino, não nos abandones à tentação de desesperar do nosso pecado.
Décima segunda estação: Jesus morre na cruz
Diante da morte Jesus só há silêncio. Também as nossas palavras morrem. Até os nossos sentimentos se coagulam como água atingida pelo gelo inesperado.
Queríamos saber escrever o silêncio para dele fazer oração, e acompanhar a contemplação do abandono que marca este momento.
Enquanto morres gritando a Deus «porque me abandonaste?», nasces inteiramente para a nossa humanidade marcada pela solidão e pelo abandono. Enquanto experimentavas na tragédia o silêncio daquele Pai que prometeu responder sempre às nossas orações, foste verdadeiramente nosso irmão, um de nós que conhece a dolorosa experiência do abandono.
No rumor incessante da prisão, no silêncio que é imposto aos nossos afetos, o coração, par não sofrer demasiado, é tentado a fechar-se na aridez. Mas também quando TRu nos pareces mudo, sabemos que nunca ficarás surdo à nossa invocação.
Da tua cruz garantes-nos que preferiste morrer em vez de nos abandonares; preferiste ser condenado como um malfeitor do que nos condenares, malfeitores; preferiste pensar-te abandonado por Deus mais do que pensar em nos abandonares.
Senhor Jesus, Tu, que na cruz foste abandonado mas nunca abandonaste, conforta quantos se sentem na solidão e no abandono.
Cristo Jesus, ensina-nos a viver na oração e na comunhão com o Pai as nossas solidões, na certeza que nunca nos abandonas.
Senhor Jesus, que no momento da morte deste vida a uma nova família, confiando a tua mãe a João, ensina-nos a construir relações sempre novas.
Décima terceira estação: Jesus é deposto da cruz
Tudo está acabado. Não há mais nada a fazer. Falhanço total. Que futuro existe diante de um morto?
Talvez muitas vezes, no percurso da nossa vida, nos tenhamos deixar conduzir para o desespero. Talvez muitas vezes tenhamos sido impelidos para o desespero. Doenças sem cura, condenações sem um futuro, mortes sem ressurreição. Não acreditar em mais nada, não ter mais nada por que lutar, por que viver, nem sequer estimar-se como pessoa.
Também à tua volta, Jesus, há um vazio desesperado. Não há mais ninguém. Os teus discípulos esconderam-se; um traiu-te, outro renegou-te, os outros voltaram a casa desiludidos, porque Tu os abandonaste.
Mas Tu venceste tudo isto. E nós podemos esperar.
Senhor Jesus, que com o teu último hálito de vida disseste «tudo está cumprido», liberta-nos da tentação de nos crermos falhados.
Cristo Jesus, na tua morte a terra escureceu, e o véu do templo rasgou-se; rasga o véu das nossas trevas e faz resplandecer sobre nós a tua luz.
Senhor Jesus, que, deposto da cruz, conheceste a compaixão e a fé de quem permaneceu ao teu lado, envia ao nosso encontro, nas nossas depressões, uma mãe piedosa e um José de Arimateia extremoso.
Décima quarta estação: O corpo de Jesus é deposto no sepulcro
O desespero depõe um corpo morto no sepulcro para nos colocar uma pedra por cima e tentar parar de sofrer deixando de esperar o que quer que seja. A esperança depõe-no no sepulcro como o agricultor depõe a semente na terra, esperando a primavera.
Quem desespera do homem encerra o malfeitor e deita fora a chave. Quem espera no homem faz-se próximo do irmão encerrado para que possa florescer uma vida melhor.
Deixar de esperar alguém, de esperar alguma coisa, de esperar alguma coisa de alguém, é o gélido do túmulo. Esperar alguém, esperar alguma coisa, esperar, apesar de tudo, alguma coisa de alguém é a manhã do jardim da ressurreição.
Sintamos sobre nós o olhar de Maria, que observa, em expetativa, onde é deposto o corpo do seu Filho Jesus. O seu olhar não abandona os seus filhos entregues à pena, nossa ou dos outros, merecida ou imerecida, na expetativa de ver-nos florescer em criaturas novas, até ao dia em que haverá plenitude de vida na ressurreição.
Senhor Jesus, acolhe os nossos sofrimentos como partilha da tua paixão.
Cristo Jesus, conforta todos aqueles que experimentam a ferida de um luto, e ajuda-os a viver essa dor numa espera de fé na ressurreição.
Senhor Jesus, que deste a vida por nós, acolhe todos aqueles que dão a vida ao serviço dos irmãos.
As breves reflexões que acompanham esta via-sacra foram amadurecidas em grupos de meditação do Evangelho, compostos por pessoas detidas na prisão de Bolonha, para partilhar a Palavra, as alegrias e as dores, as angústias e as esperanças, avançando juntos pela estrada da liberdade.
As referências diretas à condição de reclusão, em algumas passagens, são inevitáveis porquanto teria sido insípido propor reflexões desligadas da condição de vida pessoal.
São catorze estações percorridas por Jesus inocente. Nenhum de nós pode dizer o mesmo. Ele percorre-as não como um herói que nos humilha na nossa culpa, mas como irmão que toma sobre si o nosso jugo de cruz, para que não sucumbamos.
Primeira estação: Jesus é condenado à morte
Pilatos segue a onda da opinião pública, deixa-se intimidar. A sua tentativa extrema de mandar Jesus em liberdade falha. Jesus está só, de pé; aguarda a sentença, que o condena, apesar de não ter «feito nada de mal». A leitura da sentença em tribunal atinge-te de pé e põe-te de joelhos; ergue à tua volta uma solidão nunca experimentada, ainda que confies que as pessoas mais queridas te acompanharão. Mas sabes bem que muitos, como aconteceu a Jesus, te voltarão as costas.
Acontece também fora dos tribunais, onde sentenças pronunciadas em mexericos sussurrados e rancorosos, ou pelas pedras virtuais, mas ainda assim contundentes, da internet continuam a humilhar demasiadas pessoas.
Nós sofremos uma condenação não por inveja, mas – como diz o bom ladrão – porque recebemos o que era justo pelas nossas ações. Todavia, na expiação desta condenação, a nossa história faz-nos sentir Jesus próximo: Ele não nos abandona. Ele aceita uma condenação, fruto de injustiça e perseguição, para compartilhar a nossa e impedir que seja somente alienação do corpo e da mente. Ou até aniquilamento. Esta é para nós a verdadeira condenação e a nossa crucificação.
Senhor, que humilhaste a prepotência e o orgulho dos teus perseguidores, protege os pobres, liberta os oprimidos, concede a todos os homens a alegria pascal.
Cristo inocente, sustenta os condenados e os perseguidos por causa da justiça e da fé.
Senhor Jesus, que aceitaste percorrer o caminho daqueles que não são inocentes, para seres em tudo e para todos “um de nós”, acolhe a oração de nós, pecadores.
Segunda estação: Jesus carrega a cruz
Na liberdade que os nossos pais e as nossas mães nos ganharam a elevado preço, permitimo-nos deixar-nos ser tocados nas emoções das notícias e imagens de povos oprimidos por poderes iníquos, políticos, económicos, espirituais.
A tirania do poder provoca condições devastadoras, e quem é vítima dela sofre prepotências e abusos de toda a espécie. O oprimido vive na inquietude, sofre sem saber como reagir, e a impotência é aviltante. Os abusos dobram o ânimo dos fracos e deixam sinais indeléveis, como a cruz sobre Jesus. Impede-nos de sucumbir a fé em Jesus, que sofreu sobre si a opressão da prepotência. E hoje, de novo, Jesus toma sobre si a cruz de todos os vexames, toma lugar entre os oprimidos. Se permanecermos entre os indiferentes, entre quantos não se importam com os direitos e expetativas do oprimido, encontrar-nos-emos onde Ele não está.
Senhor, manso e humilde de coração, torna suave o jugo e leve o peso de quem se encontra no caminho da tua própria cruz.
Cristo, Tu que viveste a nossa condição humana, sustenta os vacilantes, consola os aflitos, liberta os oprimidos.
Senhor, que hoje te adoramos carregado com uma cruz, faz com que amanhã e sempre carreguemos nós a cruz de outros, e não do nosso próximo.
Terceira estação: Jesus cai pela primeira vez
A primeira queda faz mal também por dentro. Acreditámos que éramos mais fortes, mais astutos, mais corajosos. E depois a queda que te prostra; a humilhação que te tira o fôlego para pedir ajuda.
Jesus quis compartilhar a nossa vida, e cai por terra sob o peso de cada cruz. Deixa-se arrastar pelas quedas da nossa vida, em particular por aquelas que não conseguimos compreender ou aceitar, porque nos parecem injustas ou demasiado dolorosas. Um luto imprevisto, uma relação ferida, um abandono. A solidão.
Diante de acontecimentos como esses, reconduzíveis ou não à nossa responsabilidade, reagimos com a raiva, a rebelião e o lamento. Jesus, ainda que inocente, “não abre a boca”. Não recrimina e, com humildade, reergue-se. Não o faz por heroísmo, mas para que, agarrando-nos a Ele, possamos voltar a levantar-nos também nós.
Senhor, manso cordeiro, perdoa os nossos pecados em pensamentos, palavras, atos e omissões.
Cristo, manso e humilde de coração, torna-nos dóceis no aceitar as nossas quedas, e dá-nos a coragem para nos levantarmos de novo.
Senhor, Tu que não queres a humilhação do pecador, mas que se converta e viva, reergue-nos quando caímos sob o peso do mal.
Quarta estação: Jesus encontra a sua Mãe
Pode, porventura, uma mulher abandonar o fruto das suas entranhas? Pode uma mãe deixar que o seu filho percorra caminhos de cruz sozinho? Penou uma vida para que esses caminhos lhe fossem poupados. Ensinou-lhe os trilhos da justiça e os caminhos da salvação. Mas mesmo quando descobre que não o salvou das vias dolorosas, ela está lá para lhe dar novamente a vida, para lhe dar uma vida nova.
Ser-se arrancado da própria mãe é ainda pouco comparado à dor da mãe que se vê arrancar o filho. Sabemo-lo bem, e com dor, nós que, por nossas culpas, vivemos longe da nossa família, e deixámos filhos distantes do pai e da mãe. Sabemos bem, e com esperança, que a dedicação e o amor de uma mãe não se esgota diante de qualquer provação ou dor originada por um filho. Quando a dor é de uma mãe, é sempre dor de um parto, que gera vida.
Num diálogo imaginário, assim Jesus se dirige a Maria:
«Nos teus olhos, mãe queridíssima, leio todo o desespero que vives neste momento pela condenação e sacrifício ao qual fui entregue.
Educaste-me com amor, e agora os teus olhos estão impregnados de tristeza pelo destino que me espera. A tua dor é fecunda, e abre as portas da vida a quem, pelas estradas da vida, se perdeu e me procura»,
Senhor, Filho do Pai, não permitas que ninguém seja perdido dos irmãos que foram confiados.
Cristo, nascido da Virgem Maria, a nossa vida de filhos seja honra para os nossos pais e as nossas mães.
Senhor, Filho de Deus e Filho do Homem, dá-nos a fé para renascer para a vida de filhos.
Quinta estação: Jesus é ajudado a carregar a cruz por Simão de Cirene
O encontro de Jesus com Simão de Cirene é um encontro silencioso: a Palavra, que é Jesus, e a caridade de Simão encontram-se no silêncio. Uma silenciosa lição de vida. Não é Deus o mandante do sofrimento, nem é o autor do nosso mal, mas indica-nos que levar o peso uns dos outros, compartilhar o sofrimento na fé, é caminho de cruz, sim, mas também de salvação. A aceitação do sofrimento, assim como Jesus a aceitou, não seja resignação nem martírio, mas o encontro com a verdade das nossas feridas e a capacidade de as confiar a Jesus.
A cruz da nossa vida, à qual fomos suspensos por vezes pelos nossos próprios erros, não se compara à de Jesus. Também nós, no entanto, encontramos muitos Simões de Cirene que nos sustêm nas nossas vias-sacras. Ajudam-nos todos aqueles que trazem a Palavra de Deus, porque nos mostram o rosto da misericórdia e do perdão, e assim «o seu jugo é leve».
Senhor, queremos ser teus discípulos, para sermos capazes de levar a cruz todos os nosso dias; levá-la-emos com esperança, porque sabemos que Tu a levas connosco como Simão de Cirene a levou contigo, certos de que a meta não é o Calvário, mas a Páscoa da libertação.
Senhor, ajuda-nos a escutar a tua Palavra. Ela ajuda-nos a compreender e a ter fé, para que assim a esperança nunca morra.
Cristo, leva connosco o peso da cruz. O teu perdão resgate os nossos sofrimentos, para que não sejam em vão.
Senhor, fiel e misericordioso para connosco, concedei-nos que tenhamos misericórdia por nós mesmos, e aceitemos na fé a nossa cruz.
Sexta estação: Verónica enxuga o rosto de Jesus
Cristo e a Verónica: olhares que se cruzam, sofrimentos que se compreendem, coração que se abre, amor que rompe toda a interdição. Uma mãe, uma mulher diante de tanto horror, não resiste, rompe toda a regra, supera todo o obstáculo, arranja força e coragem para fazer aquele pouco que está nas suas possibilidades: enxugar, limpar aquele rosto transfigurado, dar um pouco de ternura entre tanto ódio e tanta brutidão; faz reflorescer o rosto do filho amado.
Senhor, quantas vias-sacras temos ainda de percorrer para não ver mais rostos como o teu, transfigurados pelo ódio racial, pelo egoísmo, pela cobiça, pela sede de poder?
Senhor, cura os nossos olhos, para ver o sofrimento no rosto do irmão.
Cristo, dá-nos a coragem das mulheres, para romper o cortejo dos torturadores e os coros de quantos o aplaudem.
Senhor, liberta-nos da habituação que empalidece a tua imagem no rosto do irmão, e mostra-nos o teu rosto.
Sétima estação: Jesus cai pela segunda vez
A segunda queda faz mais mal que a primeira. O cárcere faz-se mais fechado à segunda vez. Esquecemo-nos das cores da vida, mas continuamos sorridentes. Sabemos que as quedas nos deixam cicatrizes indeléveis, mas Jesus, que cai como nós e se reergue levando a cruz até ao Calvário, é a ternura da esperança que cura o nosso coração.
Senhor Jesus, se Tu cais, é porque nós caímos. As nossas vidas parecem por vezes vias sem saída. Os preconceitos, o ressentimento, a desconfiança endurecem os nossos corações e esmagam-nos por terra. Como Tu fizeste, também nós procuramos de cada vez reerguer-nos, até quando nos reerguermos para sempre, contigo, da queda da morte.
Senhor, faz com que não endureçamos os nossos corações diante do ódio, dos preconceitos e das injustiças, mas como Tu consigamos diariamente reerguermo-nos.
Cristo, faz com que possamos ter os olhos, o coração, os ouvidos sempre abertos para encontrar a sabedoria do teu Espírito que nos ajuda a não tropeçar.
Senhor, ensina-nos a reerguermo-nos quando erramos, e a não ser nunca pedras de tropeço para os nossos irmãos.
Oitava estação: Jesus consola as mulheres de Jerusalém
Jesus não foi indiferente, e apesar do seu grande sofrimento, compreendeu a dor das mulheres chegadas a Jerusalém para o acompanhar na sua hora extrema, encontrando a força para o consolar.
Todos precisamos de ser consolados, porque todos sofremos. Pelas nossas culpas, pelas culpas de outros, ou simplesmente porque a vida é assim.
A dureza da prisão, como a dureza da vida, impelem-nos a usar máscaras para esconder a necessidade de ser consolado. Mas se deixarmos transparecer a nossa aflição e soubermos escutar, atrás das máscaras, o grito de invocação que vem do irmão, então verificam-se prodígios de humanidade. E a madeira seca torna-se madeira verde.
Senhor Jesus, quando me encontro na tristeza e preciso de conforto, fica próximo de mim com a tua Palavra.
Cristo Jesus, faz que escutemos o teu convite a reconhecer as nossas responsabilidades nos males que afligem o mundo, encontrando a força de mudar para tornar melhor a nossa vida e a dos outros.
Senhor Jesus, dá a tua bem-aventurança a quantos consolam os aflitos.
Nona estação: Jesus cai pela terceira vez
Quando caímos não três, mas mais vezes; quando as quedas já as esperamos; quando basta uma pequena pedra para nos fazer tropeçar; quando perdemos a vontade de nos reerguermos por causa do temor de voltarmos a cair; quando só a nossa boa vontade não chega, e sabemo-lo; quando nos damos por perdidos, Jesus aceita cair de cada vez do seu Céu para que a nossa vida não seja sem Céu. E não terminará de subir ao Céu até que leve consigo o último homem caído por terra.
Jesus cai pela terceira vez sob o peso da cruz, tornada insuportável pelo grande sofrimento, físico e espiritual, da humanidade. A tua cruz é insuportável, como a nossa, porque é a nossa.
Senhor Jesus, se fui pedra de tropeço para algum dos meus irmãos, perdoa o meu pecado e converte-me para que eu seja apoio do fraco.
Cristo Jesus, quando tudo parece desabar dentro de mim, mostra-me a tua compaixão e dá-me sustento.
Senhor Jesus, Tu conheces a exaustão da cruz, Tu conheces também o meu abismo, Tu conheces também os gestos e as palavras para me reergueres.
Décima estação: Jesus é despojado das vestes
Quando nos despimos para usar uma veste melhor, antegozamos a alegria de nos sentirmos admirados. Quando somos despidos à força, em nome da lei, em nome da segurança, em nome de uma presumida propriedade sobre o nosso corpo, é nos tirado, juntamente com as roupas, o último pedaço de dignidade que resta.
Ainda hoje, o Filho do Homem é humilhado pela prepotência que arranca as vestes, pelo controlo que desnuda e inquire, pela violência dentro de casa e na ruas que despoja de dignidade quem a exerce e quem a sofre, pela violação individual e massificada.
Toda a espoliação, toda a humilhação, vem depois de uma crucificação.
Senhor Jesus, dá-nos a humildade e liberta-nos da humilhação.
Cristo Jesus, despoja-nos de toda a forma de violência, física e moral, e reveste-nos da tua mansidão.
Senhor Jesus, reveste-nos de ti, para que nenhuma humilhação nos possa privar da nossa dignidade.
Décima primeira estação: Jesus é pregado na cruz
Jesus, no seu infinito amor, pede perdão ao Pai por toda a humanidade, inclusive pelos seus crucificadores.
O teu amor é tão grande, o teu perdão é tão desconcertante, que nos parece impossível poder acolhê-lo.
Nós, como o ladrão ao teu lado, não temos nada a apresentar-te, Senhor, a não ser o nosso coração, aberto pelo arrependimento; nada a não ser a nossa necessidade do teu perdão.
As tuas mãos pregadas abertas à cruz nunca se fecham ao nosso abraço, e são a promessa certa de que somos sempre acolhidos por ti, se também nós nunca negarmos o nosso perdão ao irmão.
Senhor, que confiaste os teus crucificadores à misericórdia do Pai, nunca nos negues o teu perdão, e recorda-te da tua misericórdia.
Cristo, que perdoaste a pecadora que muito amou, torna-nos capazes de reparar com gestos de caridade o mal que fizemos.
Senhor, que ao ladrão arrependido concedeste a graça de entrar contigo no teu Reino, não nos abandones à tentação de desesperar do nosso pecado.
Décima segunda estação: Jesus morre na cruz
Diante da morte Jesus só há silêncio. Também as nossas palavras morrem. Até os nossos sentimentos se coagulam como água atingida pelo gelo inesperado.
Queríamos saber escrever o silêncio para dele fazer oração, e acompanhar a contemplação do abandono que marca este momento.
Enquanto morres gritando a Deus «porque me abandonaste?», nasces inteiramente para a nossa humanidade marcada pela solidão e pelo abandono. Enquanto experimentavas na tragédia o silêncio daquele Pai que prometeu responder sempre às nossas orações, foste verdadeiramente nosso irmão, um de nós que conhece a dolorosa experiência do abandono.
No rumor incessante da prisão, no silêncio que é imposto aos nossos afetos, o coração, par não sofrer demasiado, é tentado a fechar-se na aridez. Mas também quando TRu nos pareces mudo, sabemos que nunca ficarás surdo à nossa invocação.
Da tua cruz garantes-nos que preferiste morrer em vez de nos abandonares; preferiste ser condenado como um malfeitor do que nos condenares, malfeitores; preferiste pensar-te abandonado por Deus mais do que pensar em nos abandonares.
Senhor Jesus, Tu, que na cruz foste abandonado mas nunca abandonaste, conforta quantos se sentem na solidão e no abandono.
Cristo Jesus, ensina-nos a viver na oração e na comunhão com o Pai as nossas solidões, na certeza que nunca nos abandonas.
Senhor Jesus, que no momento da morte deste vida a uma nova família, confiando a tua mãe a João, ensina-nos a construir relações sempre novas.
Décima terceira estação: Jesus é deposto da cruz
Tudo está acabado. Não há mais nada a fazer. Falhanço total. Que futuro existe diante de um morto?
Talvez muitas vezes, no percurso da nossa vida, nos tenhamos deixar conduzir para o desespero. Talvez muitas vezes tenhamos sido impelidos para o desespero. Doenças sem cura, condenações sem um futuro, mortes sem ressurreição. Não acreditar em mais nada, não ter mais nada por que lutar, por que viver, nem sequer estimar-se como pessoa.
Também à tua volta, Jesus, há um vazio desesperado. Não há mais ninguém. Os teus discípulos esconderam-se; um traiu-te, outro renegou-te, os outros voltaram a casa desiludidos, porque Tu os abandonaste.
Mas Tu venceste tudo isto. E nós podemos esperar.
Senhor Jesus, que com o teu último hálito de vida disseste «tudo está cumprido», liberta-nos da tentação de nos crermos falhados.
Cristo Jesus, na tua morte a terra escureceu, e o véu do templo rasgou-se; rasga o véu das nossas trevas e faz resplandecer sobre nós a tua luz.
Senhor Jesus, que, deposto da cruz, conheceste a compaixão e a fé de quem permaneceu ao teu lado, envia ao nosso encontro, nas nossas depressões, uma mãe piedosa e um José de Arimateia extremoso.
Décima quarta estação: O corpo de Jesus é deposto no sepulcro
O desespero depõe um corpo morto no sepulcro para nos colocar uma pedra por cima e tentar parar de sofrer deixando de esperar o que quer que seja. A esperança depõe-no no sepulcro como o agricultor depõe a semente na terra, esperando a primavera.
Quem desespera do homem encerra o malfeitor e deita fora a chave. Quem espera no homem faz-se próximo do irmão encerrado para que possa florescer uma vida melhor.
Deixar de esperar alguém, de esperar alguma coisa, de esperar alguma coisa de alguém, é o gélido do túmulo. Esperar alguém, esperar alguma coisa, esperar, apesar de tudo, alguma coisa de alguém é a manhã do jardim da ressurreição.
Sintamos sobre nós o olhar de Maria, que observa, em expetativa, onde é deposto o corpo do seu Filho Jesus. O seu olhar não abandona os seus filhos entregues à pena, nossa ou dos outros, merecida ou imerecida, na expetativa de ver-nos florescer em criaturas novas, até ao dia em que haverá plenitude de vida na ressurreição.
Senhor Jesus, acolhe os nossos sofrimentos como partilha da tua paixão.
Cristo Jesus, conforta todos aqueles que experimentam a ferida de um luto, e ajuda-os a viver essa dor numa espera de fé na ressurreição.
Senhor Jesus, que deste a vida por nós, acolhe todos aqueles que dão a vida ao serviço dos irmãos.
Pessoas detidas na prisão de Bolonha, Itália
In Settimana News
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 05.03.2020
SNPC
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