Ontem, pela primeira vez após o início da quarentena, fui fazer compras.
Saí equipado a preceito, com máscara e luvas, e aventurei-me num supermercado nas proximidades da minha paróquia, e aí descobri a (previsível) fila purgativa das pessoas à espera para poder entrar. Saúdo-as mantendo a distância de segurança.
A minha crescente indignação pela evidente estultícia de muitos que se obstinam a fingir que tudo está como antes foi depressa substituída por uma coisa que me chamou à atenção. Com efeito, de vez em quando saíam do supermercado membros do pessoal: o homem da charcutaria, depois duas caixas, depois alguém talvez fosse o diretor (imaginei-o por causa do ar altivo e vigilante), etc. Saíam alguns minutos, dirigiam-se não sei para onde, e depois reentravam.
O que mais me tocou foi o passo solene, cheio de compreensão de si próprios e da sua função, unido ao ar gasto, exausto, e talvez também um pouco preocupado pela sua sorte, por estarem retidos devido ao trabalho que fazem no meio dos miasmas e exalações de uma multidão potencialmente infetada.
Pois bem, em todos eles eu vi heróis do dia a dia (não ouso imaginar o que experimentarei ao ver, nestes dias, um médico ou um enfermeiro!). Também ali, na banalidade extrema daquele caminho de cimento entre apartamentos e gente estropiada, havia heróis: gente que se estava a expor a si mesma a um risco, para permitir a mim e aos outros comprar bens para comer. Gente que se põe em perigo por estranhos, para cumprir o seu dever.
Desculpem, se isto não é heroísmo, o que é?
Saí equipado a preceito, com máscara e luvas, e aventurei-me num supermercado nas proximidades da minha paróquia, e aí descobri a (previsível) fila purgativa das pessoas à espera para poder entrar. Saúdo-as mantendo a distância de segurança.
A minha crescente indignação pela evidente estultícia de muitos que se obstinam a fingir que tudo está como antes foi depressa substituída por uma coisa que me chamou à atenção. Com efeito, de vez em quando saíam do supermercado membros do pessoal: o homem da charcutaria, depois duas caixas, depois alguém talvez fosse o diretor (imaginei-o por causa do ar altivo e vigilante), etc. Saíam alguns minutos, dirigiam-se não sei para onde, e depois reentravam.
O que mais me tocou foi o passo solene, cheio de compreensão de si próprios e da sua função, unido ao ar gasto, exausto, e talvez também um pouco preocupado pela sua sorte, por estarem retidos devido ao trabalho que fazem no meio dos miasmas e exalações de uma multidão potencialmente infetada.
Pois bem, em todos eles eu vi heróis do dia a dia (não ouso imaginar o que experimentarei ao ver, nestes dias, um médico ou um enfermeiro!). Também ali, na banalidade extrema daquele caminho de cimento entre apartamentos e gente estropiada, havia heróis: gente que se estava a expor a si mesma a um risco, para permitir a mim e aos outros comprar bens para comer. Gente que se põe em perigo por estranhos, para cumprir o seu dever.
Desculpem, se isto não é heroísmo, o que é?
«Há “algo” de santo, de divino oculto nas situações mais comuns, algo que cabe a cada um de vós descobrir»
E depois a minha cabeça voou… e pensei como seria se estes pequenos heróis se decidissem acrescentar o amor ao sentido do dever, e percebi que os nossos supermercados, os nossos bancos, os nossos autocarros, os nossos jornais constelar-se-iam de santos – e quem me diz que isso já não está a acontecer? [E que dizer, por exemplo, das dezenas de médicos e padres que já morreram por causa do vírus?] Santidade extraída da crise. Santos por todo o lado. Que coisa extraordinária!
Desse fluir de pensamentos, recordei um discurso belíssimo de S. Josemaria Escrivà, que a certo ponto diz: «Deus chama-vos para o servir “nas” tarefas e “através” das tarefas civis, materiais, temporais da vida humana: num laboratório, no bloco operatório de um hospital, na caserna, na cátedra de uma universidade, na fábrica, na oficina, nos campos, no lar doméstico e em todo o infindo panorama do trabalho, Deus espera-nos a cada dia. Sabei-o bem: há “algo” de santo, de divino oculto nas situações mais comuns, algo que cabe a cada um de vós descobrir».
Este é o tempo em que cada um de nós, se o quiser, simplesmente estando no seu posto, pode tornar-se um herói do quotidiano – até um santo. Sim, também tu que está a ler, talvez simplesmente aceitando estar fechado dentro de tua casa, quando desejavas sair nestes dias em que começa a primavera.
No fundo, para nos tornarmos santos, basta amar.
Alessandro Di Medio
In SIR
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: D.R.
Publicado em 20.03.2020
SNPC
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