Papa reza para que famílias descubram «novas expressões de amor» durante fechamento em casa

«Penso nas famílias, fechadas, as crianças não vão à escola, talvez os pais não possam sair, alguns estão em quarentena.
Que o Senhor os ajude a descobrir novas maneiras, novas expressões de amor, de convivência, nesta situação nova», rezou hoje o papa, no início da missa que celebrou no Vaticano.
Depois de orar pelos doentes, Francisco afirmou que a proximidade continuada, dentro dos lares, por causa do Covid-19, «é uma ocasião bela para reencontrar os verdadeiros afetos, com criatividade na família», e reiterou: «Rezemos pela família, para que as relações na família neste momento floresçam sempre para o bem».


Na homilia, o papa observou que as duas leituras proclamadas nas missas desta segunda-feira (Lucas 4,24-30 – cf. Umbrais, e 2 Reis 5,1-15a) manifestam uma atitude comum, «mas não de bom espírito: o desdém».

Os ouvintes de Jesus perguntavam-se «em que universidade estudou?, este é o filho de Maria e José, carpinteiro, o que é que nos vem dizer?»; o seu «desdém condu-los à violência», e «o Jesus que admiravam no início da pregação, é perseguido, para o lançarem do monte».


«Também a nós pode suceder isto. O escândalo farisaico de que os teólogos gostam. Escandalizar-me de coisas que são a simplicidade de Deus, a simplicidade dos pobres, a simplicidade dos cristãos»



Os frequentadores da sinagoga de Nazaré «pensavam que Deus só se manifestava através do extraordinário, das coisas fora do comum, que Ele não podia agir nas coisas comuns da vida, na simplicidade. Desdenhavam, desprezavam as coisas simples».
«O nosso Deus fá-los compreender que Ele age sempre na simplicidade» das «casas de Nazaré, do trabalho de todos os dias, da oração», afirmou o papa, que sublinhou a oposição desta atitude relativamente ao «espírito mundano», que conduz «à vaidade, às aparências».
Para Francisco, «o desdém é a atitude dos soberbos, mas dos soberbos pobres, com uma pobreza de espírito má, dos soberbos que vivem apenas com a ilusão de serem mais do que são», e que, «muitas vezes, precisam de expressar desdém, de se indignar, para se sentirem pessoas».
«Também a nós pode suceder isto. O escândalo farisaico de que os teólogos gostam. Escandalizar-me de coisas que são a simplicidade de Deus, a simplicidade dos pobres, a simplicidade dos cristãos: “Este não é Deus, não, não. O nosso Deus é mais culto, é mais sábio, é mais importante. Deus não pode agir nesta simplicidade”», assinalou.


No domingo, o papa saiu do Vaticano para rezar diante da imagem de Nossa Senhora "Salus populi Romani" (protetora do povo romano), na basílica de Santa Maria Maior, e depois dirigiu-se à igreja de S. Marcelo, para orar diante do crucifixo que salvou a capital italiana da peste



Francisco concluiu a reflexão sintetizando que «o desdém conduz sempre à violência, quer a física, quer a dos boatos, que mata como a física», e, no caso das duas narrativas bíblicas das missas de hoje, foi gerado por pessoas que «não compreendiam a simplicidade do nosso Deus».
No domingo, o papa saiu do Vaticano para rezar diante da imagem de Nossa Senhora "Salus populi Romani" (protetora do povo romano), na basílica de Santa Maria Maior, e depois dirigiu-se à igreja de S. Marcelo, para orar diante do crucifixo que salvou a capital italiana da peste.

Imagem Papa Francisco caminha em direção à igreja de S. Marcelo | Roma, 15.3.2020 | © Vatican News - Ansa

Também ontem o Vaticano anunciou que estão confirmadas todas as celebrações litúrgicas da Semana Santa, que serão transmitidas pela internet, qualquer que sejam as modalidades que aquelas venham a assumir para evitar a disseminação do coronavírus.

Rui Jorge Martins
Imagem: Papa Francisco | 16.3.2020 | D.R.
Publicado em 16.03.2020


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