Afortunadamente, a par dos terroríficos e quase morbosos
noticiários televisivos sobre a pandemia, aparecem vozes alternativas,
positivas e esperançosas.
Alguns recorrem à história para nos recordar que a humanidade atravessou e superou outros momentos de peste e pandemias, como as da Idade Média e a de 1918, depois da primeira guerra mundial. Outros assombram-se com a postura unitária europeia contra o vírus, quando até agora divergiam sobre as alterações climáticas, os imigrantes e a corrida aos armamentos, seguramente porque esta pandemia rompe fronteiras e afeta os interesses dos poderosos. Aos europeus toca-lhes sofrer algo do que padecem os refugiados e emigrantes que não podem cruzar fronteiras.
Há humanistas que assinalam que esta crise é uma espécie de “quaresma secular”, que nos concentra em valores essenciais, como a vida, o amor e a solidariedade, e nos obriga a relativizar muitas coisas que até agora tínhamos como indispensáveis e intocáveis. De repente, diminui a contaminação atmosférica e o frenético ritmo de vida consumista que até agora não queríamos mudar.
Caiu o nosso orgulho ocidental de sermos omnipotentes protagonistas do mundo moderno, senhores da ciência e do progresso. Em plena quarentena doméstica, e sem poder sair à rua, começamos a valorizar a realidade da vida familiar. Sentimo-nos mais interdependentes, todos dependemos de todos, todos somos vulneráveis, necessitamos uns dos outros, estamos interligados globalmente, para o bem e para o mal.
Também surgem reflexões sobre o problema do mal, o sentido da vida e a realidade da morte, um tema hoje tabu. O romance “A peste”, de Albert Camus, de 1947, converteu-se num “best-seller”. Não só é uma crónica da peste, como também uma parábola do sofrimento humano, do mal físico e moral deste mundo, da necessidade de ternura e solidariedade.
Alguns recorrem à história para nos recordar que a humanidade atravessou e superou outros momentos de peste e pandemias, como as da Idade Média e a de 1918, depois da primeira guerra mundial. Outros assombram-se com a postura unitária europeia contra o vírus, quando até agora divergiam sobre as alterações climáticas, os imigrantes e a corrida aos armamentos, seguramente porque esta pandemia rompe fronteiras e afeta os interesses dos poderosos. Aos europeus toca-lhes sofrer algo do que padecem os refugiados e emigrantes que não podem cruzar fronteiras.
Há humanistas que assinalam que esta crise é uma espécie de “quaresma secular”, que nos concentra em valores essenciais, como a vida, o amor e a solidariedade, e nos obriga a relativizar muitas coisas que até agora tínhamos como indispensáveis e intocáveis. De repente, diminui a contaminação atmosférica e o frenético ritmo de vida consumista que até agora não queríamos mudar.
Caiu o nosso orgulho ocidental de sermos omnipotentes protagonistas do mundo moderno, senhores da ciência e do progresso. Em plena quarentena doméstica, e sem poder sair à rua, começamos a valorizar a realidade da vida familiar. Sentimo-nos mais interdependentes, todos dependemos de todos, todos somos vulneráveis, necessitamos uns dos outros, estamos interligados globalmente, para o bem e para o mal.
Também surgem reflexões sobre o problema do mal, o sentido da vida e a realidade da morte, um tema hoje tabu. O romance “A peste”, de Albert Camus, de 1947, converteu-se num “best-seller”. Não só é uma crónica da peste, como também uma parábola do sofrimento humano, do mal físico e moral deste mundo, da necessidade de ternura e solidariedade.
«Não temerás o terror da noite, nem da seta que voa de dia, nem da peste
que alastra nas trevas, nem do flagelo que mata em pleno dia»
Os crentes de tradução judeo-cristã perguntam-se pelo silêncio de Deus perante esta pandemia. Porque é que Deus permite e cala? É um castigo? Há que pedir milagres na peste? Temos de devolver a Deus o bilhete da vida, como Ivan Karamazov, em “Os irmãos Karamazov”, ao ver o sofrimento dos inocentes? Onde está Deus’
Não estamos perante um enigma, mas antes um mistério, um mistério de fé que nos faz crer e confiar num Deus Pai-Mãe criador, que não castiga, que é bom e misericordioso, que está sempre connosco, é o Emanuel: cremos e confiamos em Jesus de Nazaré que vem para nos dar vida em abundância e se compadece dos que sofrem; cremos e confiamos num Espírito vivificador, Senhor e dador de vida. E esta fé não é uma conquista, é um dom do Espírito do Senhor, que nos chega através da Palavra na comunidade eclesial.
Tudo isto não impede que, como Job, nos queixemos e discutamos ante Deus ao ver tanto sofrimento, não impede que como no livro de Qohelet ou Eclesiastes constatemos a brevidade, leveza e vaidade da vida. (…)
Onde está Deus? Está nas vítimas desta pandemia, está nos médicos e agentes de saúde que os atendem, está nos cientistas que buscam vacinas antivírus, está em todos os que nestes dias colaboram e ajudam para solucionar o problema, está nos que rezam pelos demais, nos que espalham esperança.
Concluímos com um salmo de confiança que a Igreja nos propõe aos domingos na hora litúrgica de Completas, antes de ir dormir:
«“Senhor, Tu és o meu refúgio,a minha cidadela, o meu Deus, em quem confio!”
Ele há-de livrar-te da armadilha do caçadore do flagelo maligno.
Ele te cobrirá com as suas penas; debaixo das suas asas encontrarás refúgio;
a sua fidelidade é escudo e couraça.
Não temerás o terror da noite, nem da seta que voa de dia,
nem da peste que alastra nas trevas, nem do flagelo que mata em pleno dia» (Salmo 91(90),2-6).
Quem sabe se a nossa pandemia nos ajude a encontrar Deus onde não o esperamos.
Víctor Codina, SJ
In Cristianisme i Justícia
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: HunThomas/Bigstock.com
Publicado em 23.03.2020
SNPC
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