Iniciamos hoje o caminho quaresmal, caminho de quarenta dias para
a Páscoa, para o coração do ano litúrgico e da fé. É um caminho que
segue o de Jesus, que nos inícios do seu ministério se retirou durante
quarenta dias em oração e jejum, tentado pelo diabo, no deserto.
É precisamente do significado espiritual do deserto que gostaria de falar-vos hoje. (…)
Imaginemos estar num deserto: A primeira sensação seria a de nos encontrarmos envolvidos por um grande silêncio: nenhum rumor, à exceção do vento e da nossa respiração. Pois bem, o deserto é o lugar do afastamento da balbúrdia que nos rodeia.
[O deserto] é ausência de palavras para dar espaço a uma outra Palavra, a Palavra de Deus, que como brisa ligeira nos acaricia o coração. O deserto é o lugar da Palavra, com maiúscula.
Na Bíblia, com efeito, o Senhor gosta de falar-nos no deserto. No deserto entrega a Moisés as “dez palavras”, os dez mandamentos. E quando o povo se afasta dele, tornando-se como uma esposa infiel, Deus diz: «Eis que a conduzirei ao deserto e falarei ao seu coração. Ali me responderá, como nos dias da sua juventude» (…).
É precisamente do significado espiritual do deserto que gostaria de falar-vos hoje. (…)
Imaginemos estar num deserto: A primeira sensação seria a de nos encontrarmos envolvidos por um grande silêncio: nenhum rumor, à exceção do vento e da nossa respiração. Pois bem, o deserto é o lugar do afastamento da balbúrdia que nos rodeia.
[O deserto] é ausência de palavras para dar espaço a uma outra Palavra, a Palavra de Deus, que como brisa ligeira nos acaricia o coração. O deserto é o lugar da Palavra, com maiúscula.
Na Bíblia, com efeito, o Senhor gosta de falar-nos no deserto. No deserto entrega a Moisés as “dez palavras”, os dez mandamentos. E quando o povo se afasta dele, tornando-se como uma esposa infiel, Deus diz: «Eis que a conduzirei ao deserto e falarei ao seu coração. Ali me responderá, como nos dias da sua juventude» (…).
Seguimos mil coisas que parecem necessárias, e na realidade não o são.
Quanto nos faria bem libertarmo-nos de tantas realidades supérfluas,
para redescobrir aquilo que conta, para reencontrar os rostos de quem
está ao nosso lado
No deserto reencontramos a intimidade com Deus, o amor do Senhor. Jesus gostava de retirar-se diariamente para lugares desertos para orar. Ensinou-nos como procurar o Pai, que nos fala no silêncio. (…)
A Quaresma é o tempo propício para dar espaço à Palavra de Deus. É o tempo para apagar a televisão e abrir a Bíblia. É o tempo para nos desprendermos do telemóvel e ligarmo-nos ao Evangelho. (…)
É o tempo para renunciar a palavras inúteis, tagarelice, boatos, mexericos, e dizer “Tu” ao Senhor. É o tempo para dedicar-se a uma sã ecologia do coração. Fazer uma limpeza. Vivemos num ambiente envenenado por demasiada violência verbal, por muitas palavras ofensivas e nocivas, que a internet amplifica (…).
Estamos submersos em palavras vazias, de publicidade, de mensagens enganadoras. Estamos habituados a ouvir de tudo sobre todos, e arriscamo-nos a deslizar para uma mundanidade que atrofia o coração (…).
É-nos difícil distinguir a voz do Senhor que nos fala, a voz da consciência, do bem. Jesus, chamando-nos ao deserto, convida-nos a prestar atenção àquilo que conta (…).
Com a voz do profeta Isaías, Deus fez esta promessa: «Eis que Eu faço
uma coisa nova, abrirei no deserto um caminho». No deserto abre-se o
caminho que nos conduz da morte à vida
Ao diabo que o tentava, responde: «Não só de pão viverá o homem, mas de cada palavra que sai da boca de Deus». Como o pão, mais do que o pão, é-nos precisa a Palavra de Deus, precisamos de falar com Deus: precisamos de orar. Porque só diante de Deus vêm à luz as inclinações do coração e caem as duplicidades da alma.
Eis o deserto, lugar de vida, não de morte, porque dialogar no silêncio com o Senhor volta a dar-nos vida.
Experimentemos de novo pensar num deserto. O deserto é o lugar do essencial, como já foi dito. Olhemos para as nossas vidas: quantas coisas inúteis nos rodeiam. Seguimos mil coisas que parecem necessárias, e na realidade não o são. Quanto nos faria bem libertarmo-nos de tantas realidades supérfluas, para redescobrir aquilo que conta, para reencontrar os rostos de quem está ao nosso lado. Também sobre isto Jesus dá-nos o exemplo, jejuando. Jejuar é saber renunciar às coisas vãs, ao supérfluo, para ir ao essencial. (…) É procurar a beleza de uma vida mais simples.
O deserto, por fim, é o lugar da solidão. Também hoje, próximo de nós, há muitos desertos. (…) São as pessoas sós e abandonadas. Quantos pobres e idosos estão perto de nós e vivem no silêncio, sem fazer clamor, marginalizados e descartados. Falar deles não dá audiências. Mas o deserto conduz-nos a eles, a quantos, mandados calar, pedem em silêncio a nossa ajuda. (…) O caminho no deserto quaresmal é um caminho de caridade para quem está mais fraco.
Oração, jejum, obras de misericórdia: eis o caminho no deserto quaresmal. Queridos irmãos e irmãs, com a voz do profeta Isaías, Deus fez esta promessa: «Eis que Eu faço uma coisa nova, abrirei no deserto um caminho». No deserto abre-se o caminho que nos conduz da morte à vida.
Entremos no deserto com Jesus, dele sairemos saboreando a Páscoa, o poder do amor de Deus que renova a vida. Acontecerá a nós como naqueles desertos que na primavera florescem, fazendo germinar inesperadamente, “do nada”, rebentos e plantas. Coragem, sigamos Jesus no deserto: com Ele, os nossos desertos florirão.
Papa Francisco
Audiência geral, 26.2.2020, Vaticano
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: phototrip/Bigstock.com
Publicado em 26.02.2020
SNPC
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