Velhice não é só passado nem doença, tem amanhã e é um privilégio

Tem 83 anos o senhor que afirma, convictamente: «Temos de aprender a mudar um pouco os tempos verbais. Não há só o passado, como se, para os anciãos, existisse só uma vida atrás de si e um arquivo bolorento. Não.
O Senhor pode e quer escrever com eles também páginas novas, páginas de santidade, de serviço, de oração. Hoje quero dizer-vos que também os anciãos são o presente e o amanhã da Igreja».
O autor destas palavras é o papa Francisco, que hoje se dirigiu, no Vaticano aos participantes no primeiro Congresso Internacional de Pastoral dos Idosos, eles que têm «um papel insubstituível» e constituem «o futuro de uma Igreja que, juntamente com os jovens, profetiza e sonha», e é por isso que é «muito importante» que falem entre si.
«Saí pelas estradas das vossas paróquias e ide procurar os idosos que vivem sós. A velhice não é uma doença, é um privilégio. A solidão pode ser uma doença, mas a caridade, a proximidade e o conforto espiritual podem curá-la», assinalou.
A Igreja, apontou Francisco, deve habituar-se a incluir os idosos nos seus horizontes e a considerá-los, «de maneira não episódica, como uma das componentes vitais» das comunidades católicas, porque eles não são apenas pessoas a quem os cristãos são chamados a assistir e proteger, «mas podem ser atores de uma pastoral evangelizadora, testemunhas privilegiadas do amor fiel de Deus».


«Deus tem um povo numeroso de avós em todo o mundo. Nos dias de hoje, nas sociedades secularizadas de muitos países, as atuais gerações de pais não têm, na maior parte dos casos, aquela formação cristã e aquele fé viva, que por seu lado, os avós podem transmitir aos seus netos. São eles o elo indispensável para educar para a fé os pequeninos e os jovens»

A «riqueza dos anos», tema do encontro que juntou cerca de meio milhar de participantes de mais de 60 países, traduz a certeza de que «a vida é um dom, e quando é longa é um privilégio para si próprio e para os outros. É sempre, sempre assim».
O declínio das forças e o aparecimento das doenças marcam muitas vezes a velhice, mas também o início de um tempo de bem-estar psicofísico e de libertação das obrigações laborais; perante este quadro, Francisco questionou o «sentido» que pode ser dado a esta fase da existência.
«A desorientação social e, em muitos aspetos, a indiferença e a recusa que as nossas sociedades manifestam em relação aos idosos, chamam não só a Igreja, mas todos, a uma séria reflexão para aprender a colher e a apreciar o valor da velhice», declarou.
Francisco desafiou a Igreja a ir ao encontro da população idosa, para a evangelizar «com o sorriso no rosto e o Evangelho entre nas mãos», ou para recorrer ao património espiritual cristão que lhes foi transmitido no passado, e que atualmente é cada vez mais necessário.
«Deus tem um povo numeroso de avós em todo o mundo. Nos dias de hoje, nas sociedades secularizadas de muitos países, as atuais gerações de pais não têm, na maior parte dos casos, aquela formação cristã e aquele fé viva, que por seu lado, os avós podem transmitir aos seus netos. São eles o elo indispensável para educar para a fé os pequeninos e os jovens», frisou.


Rui Jorge Martins
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Imagem: jovanmandic/Bigstock.com
Publicado em 31.01.2020


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