Orar com confiança
É um conselho importante que precede o ensinamento do Pai-nosso; mas também noutra situação Jesus afirma: «Tudo aquilo que pedirdes com fé na oração, obtê-lo-eis».
A oração cristã não é como a dos pagãos, que cansam os deuses multiplicando as palavras e confiando nelas; a nossa confiança deve ser colocada naquele que nos fala e nos chama à oração: Deus, o Pai. A oração filial não se mede, portanto, pelas repetições e pelo comprimento, mas pela fé que a anima. Com efeito, «o Pai nosso sabe de que coisas precisamos ainda antes que lhas peçamos», e nenhum orante deve temer que Ele dê pedras em vez de pão; nós somos maus, mas Deus é bom.
Nenhum temor haja para quem sabe que é filho de Deus, para quem coloca a sua oração nas mãos daquele que é o nosso advogado junto do Pai, para quem recebeu a unção do Espírito. Ainda que a nossa consciência nos reprovasse, «Deus é maior do que o nosso coração», e permite-nos estar diante dele com “parresia”: sem esta franqueza não há verdadeira oração cristã, porque ela está na base da confiança que anima o crente e a comunidade cristã no seu conjunto.
Orar sempre, sem cessar
A oração requer perseverança, continuidade. Várias vezes Jesus pediu a oração sem interrupção. Ora, questionemo-nos com honestidade: como é possível viver, trabalhar, repousar, dormir, encontrar os outros, e ao mesmo tempo orar continuamente? É preciso que nos entendamos sobre as palavras. “Orar sempre” não significa empenhar-se na repetição contínua de fórmulas ou invocações, mas viver uma existência marcada por aquela que os Padres da Igreja chamavam “memoria Dei”, a recordação constante de Deus: «Oração incessante quer dizer ter a mente dirigida a Deus com grande fervor e amor, permanecer sempre suspensos da esperança que temos nele, confiando a Ele tudo aquilo que fizermos e tudo aquilo que nos aconteça», diz Máximo o Confessor. Por outras palavras, a questão é reconhecer que o Deus vivo está constantemente a agir na nossa existência e na história; trata-se de lutar para estar sempre consciente da presença de Deus em nós, ou seja, da comunhão que Ele nos dá, para que a acolhamos e a partilhemos com todos os nossos irmãos e irmãs.
Se existe esta consciência da presença de Deus, então o Espírito Santo, que ora continuamente em nós, pode invadir-nos de tal maneira com a sua oração, que escava pouco a pouco em nós uma fonte de água viva, uma torrente que não se detém. Desta maneira chegamos a uma oração contínua, que não nasce de nós: é um fluxo subterrâneo, uma constante recordação de Deus que de vez em quando emerge e torna-se oração explícita, mas que nunca nos abandona. Assim, podemos também fazer-nos voz de toda a criatura e de toda a criação, porque o universo é um oceano de orações que sobem até Deus: orações por articular, gemidos dirigidos ao Criador na expetativa da manifestação dos filhos de Deus.
É um conselho importante que precede o ensinamento do Pai-nosso; mas também noutra situação Jesus afirma: «Tudo aquilo que pedirdes com fé na oração, obtê-lo-eis».
A oração cristã não é como a dos pagãos, que cansam os deuses multiplicando as palavras e confiando nelas; a nossa confiança deve ser colocada naquele que nos fala e nos chama à oração: Deus, o Pai. A oração filial não se mede, portanto, pelas repetições e pelo comprimento, mas pela fé que a anima. Com efeito, «o Pai nosso sabe de que coisas precisamos ainda antes que lhas peçamos», e nenhum orante deve temer que Ele dê pedras em vez de pão; nós somos maus, mas Deus é bom.
Nenhum temor haja para quem sabe que é filho de Deus, para quem coloca a sua oração nas mãos daquele que é o nosso advogado junto do Pai, para quem recebeu a unção do Espírito. Ainda que a nossa consciência nos reprovasse, «Deus é maior do que o nosso coração», e permite-nos estar diante dele com “parresia”: sem esta franqueza não há verdadeira oração cristã, porque ela está na base da confiança que anima o crente e a comunidade cristã no seu conjunto.
Orar sempre, sem cessar
A oração requer perseverança, continuidade. Várias vezes Jesus pediu a oração sem interrupção. Ora, questionemo-nos com honestidade: como é possível viver, trabalhar, repousar, dormir, encontrar os outros, e ao mesmo tempo orar continuamente? É preciso que nos entendamos sobre as palavras. “Orar sempre” não significa empenhar-se na repetição contínua de fórmulas ou invocações, mas viver uma existência marcada por aquela que os Padres da Igreja chamavam “memoria Dei”, a recordação constante de Deus: «Oração incessante quer dizer ter a mente dirigida a Deus com grande fervor e amor, permanecer sempre suspensos da esperança que temos nele, confiando a Ele tudo aquilo que fizermos e tudo aquilo que nos aconteça», diz Máximo o Confessor. Por outras palavras, a questão é reconhecer que o Deus vivo está constantemente a agir na nossa existência e na história; trata-se de lutar para estar sempre consciente da presença de Deus em nós, ou seja, da comunhão que Ele nos dá, para que a acolhamos e a partilhemos com todos os nossos irmãos e irmãs.
Se existe esta consciência da presença de Deus, então o Espírito Santo, que ora continuamente em nós, pode invadir-nos de tal maneira com a sua oração, que escava pouco a pouco em nós uma fonte de água viva, uma torrente que não se detém. Desta maneira chegamos a uma oração contínua, que não nasce de nós: é um fluxo subterrâneo, uma constante recordação de Deus que de vez em quando emerge e torna-se oração explícita, mas que nunca nos abandona. Assim, podemos também fazer-nos voz de toda a criatura e de toda a criação, porque o universo é um oceano de orações que sobem até Deus: orações por articular, gemidos dirigidos ao Criador na expetativa da manifestação dos filhos de Deus.
Enzo Bianchi
In Perché pregare, come pregare, ed. San Paolo
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: suprunvitaly/Bigstock.com
Publicado em 05.02.2020
SNPC
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