O presidente da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP)
lamentou a precipitação que envolve o debate sobre a legalização da
eutanásia, considerando que se “morre mal” no país.
“Morre-se mal em Portugal.
Morre-se muitas vezes em solidão, cada vez mais. Há cada vez mais idosos a viver sozinhos, sem apoio dos familiares, há muito abandono. Se se quiser criar verdadeiramente uma sociedade humanista, uma sociedade compassiva, devemos estender a mão a estas pessoas, ajudá-las a viver com dignidade até ao fim da vida”, refere Pedro Afonso, na entrevista semanal conjunta ECCLESIA/Renascença, que é publicada e emitida à sexta-feira.
A Assembleia da República agendou para 20 de fevereiro o debate e votação de quatro projetos de lei para a legalização da eutanásia, apresentados pelo PS, Bloco de Esquerda, PAN e pelo partido ecologista ‘Os Verdes’.
Pedro Afonso, psiquiatra, questiona a “agenda política” que quer implementar uma medida “custe o que custar”, independentemente da opinião da sociedade e da participação dos vários intervenientes, em particular o pessoal médico.
“Eu acho que em certo sentido é uma falta de respeito pela classe médica. Não digo que haja um consenso absoluto sobre esta matéria, que não haverá, mas a maioria dos médicos está contra. O tema envolve tantos aspetos éticos, filosóficos, morais, que me parece existir uma certa ligeireza a tratar esta questão”, assinala.
Para o entrevistado, a eutanásia surge como “a forma mais fácil de resolver os custos inerentes a cuidar de uma pessoa com uma doença incurável”.
“Este fenómeno da coação moral, que se cria junto dos doentes com a legalização da eutanásia, também não foi devidamente debatido”, lamenta Pedro Afonso, que fala em “irresponsabilidade”.
O especialista alerta para a necessidade de um “escrutínio médico” nestas matérias, recordando que “há terapêuticas analgésicas que diminuem claramente este sofrimento físico que está associado a situação graves”.
Para o presidente da AMCP, a legalização da eutanásia criaria “uma cisão, uma ferida na relação médico-doente.
“Diria mesmo que destrói a relação médico-doente, porque aquele que supostamente deve estar junto dos doentes, aliviando o seu sofrimento, que deve estar do lado da vida, fazendo tudo para o libertar daquela situação, a dado momento não pode passar para o outro lado, para ter o papel de autêntico carrasco, participando no suicídio daquele paciente”, precisa.
Pedro Afonso prevê que maioria dos médicos venha a ser “objetor de consciência”, nesta matéria, considerando que há um risco de criar a chamada “eutanásia involuntária”.
“Está-se a abrir aqui um precedente terrível, perigoso, que pode pôr em causa, no fundo, a defesa dos mais fracos. E todos nós somos responsáveis por eles, por defendê-los”, aponta.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)
ECCLESIA
“Morre-se mal em Portugal.
Morre-se muitas vezes em solidão, cada vez mais. Há cada vez mais idosos a viver sozinhos, sem apoio dos familiares, há muito abandono. Se se quiser criar verdadeiramente uma sociedade humanista, uma sociedade compassiva, devemos estender a mão a estas pessoas, ajudá-las a viver com dignidade até ao fim da vida”, refere Pedro Afonso, na entrevista semanal conjunta ECCLESIA/Renascença, que é publicada e emitida à sexta-feira.
A Assembleia da República agendou para 20 de fevereiro o debate e votação de quatro projetos de lei para a legalização da eutanásia, apresentados pelo PS, Bloco de Esquerda, PAN e pelo partido ecologista ‘Os Verdes’.
Pedro Afonso, psiquiatra, questiona a “agenda política” que quer implementar uma medida “custe o que custar”, independentemente da opinião da sociedade e da participação dos vários intervenientes, em particular o pessoal médico.
“Eu acho que em certo sentido é uma falta de respeito pela classe médica. Não digo que haja um consenso absoluto sobre esta matéria, que não haverá, mas a maioria dos médicos está contra. O tema envolve tantos aspetos éticos, filosóficos, morais, que me parece existir uma certa ligeireza a tratar esta questão”, assinala.
Para o entrevistado, a eutanásia surge como “a forma mais fácil de resolver os custos inerentes a cuidar de uma pessoa com uma doença incurável”.
“Este fenómeno da coação moral, que se cria junto dos doentes com a legalização da eutanásia, também não foi devidamente debatido”, lamenta Pedro Afonso, que fala em “irresponsabilidade”.
O especialista alerta para a necessidade de um “escrutínio médico” nestas matérias, recordando que “há terapêuticas analgésicas que diminuem claramente este sofrimento físico que está associado a situação graves”.
Para o presidente da AMCP, a legalização da eutanásia criaria “uma cisão, uma ferida na relação médico-doente.
“Diria mesmo que destrói a relação médico-doente, porque aquele que supostamente deve estar junto dos doentes, aliviando o seu sofrimento, que deve estar do lado da vida, fazendo tudo para o libertar daquela situação, a dado momento não pode passar para o outro lado, para ter o papel de autêntico carrasco, participando no suicídio daquele paciente”, precisa.
Pedro Afonso prevê que maioria dos médicos venha a ser “objetor de consciência”, nesta matéria, considerando que há um risco de criar a chamada “eutanásia involuntária”.
“Está-se a abrir aqui um precedente terrível, perigoso, que pode pôr em causa, no fundo, a defesa dos mais fracos. E todos nós somos responsáveis por eles, por defendê-los”, aponta.
Ângela Roque (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)
ECCLESIA
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