Mensagem do Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, e do Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Braga, D. Nuno Almeida.
O debate e votação que hoje acontece no Parlamento Português coloca-nos perante importantes questões civilizacionais que a todos dizem respeito. Como cristãos e discípulos de Jesus Cristo, fiéis, felizes e missionários, nada queremos impor ou comandar, mas servir e iluminar, ou seja, influenciar a partir do Evangelho.
A nossa fé exige que saibamos dialogar com todos, cansando os ouvidos e a voz com assertividade e respeito, testemunhando a arte cristã de amar; celebrando o Evangelho da Vida.
Nada do que é humano nos é estranho. Como cristãos, temos a responsabilidade de anunciar a Palavra de Deus que dá vida e de dizer palavras que semeiem esperança. A fé cristã procura oferecer um horizonte de sentido e instrumentos operativos para uma cura da existência, particularmente nas situações limite e dolorosas. A vivência do sofrimento deve ser um tempo em que, longe de desaparecer para sempre, se exprima e se reforce o “longo amor” pela vida.
Como cristãos, temos a responsabilidade de sujar as mãos na construção da sociedade, visando a civilização do amor e da vida. No amor, é possível encontrar o sentido da dor, pois a pessoa é chamada a superar-se, a esquecer-se de si, a oferecer-se a uma causa a realizar, a uma outra pessoa a amar, a Deus a quem quer servir ou a quem se quer definitivamente entregar. O sofrimento oferecido por amor, num movimento oblativo e transformador, faz vencer o absurdo da dor, pois de um “porquê”, passa-se ao “por quem”, ou “por que causa”.
Por outro lado, o verdadeiro drama, para muitas pessoas, não consiste tanto em dever sofrer, mas no sofrer sozinhas ou sem nenhuma perspetiva que confira à sua existência um sentido. Compete ao Estado, às Igrejas, à sociedade, às famílias e a cada um de nós, acompanhar e ajudar concretamente quem está em situação de grave dificuldade ou em sofrimento para que ninguém se sinta abandonado e com vontade de desistir de viver.
Acompanhar quem sofre, mais do que uma ciência, é uma arte que se aprende e se pode aperfeiçoar dia após dia. Não é tanto uma “boa ação”, mas sim uma “boa relação”, que conscientemente se tece. Temos a convicção de que a eliminação do sofrimento não pode acontecer com a eliminação do sofredor. Por isso, devemos investir muito mais no alívio da dor e no acompanhamento dos doentes.
Pedir a morte é muitas vezes um grito dilacerante contra o abandono à dor e contra a dor do abandono. Não será que quem clama pela morte não estará a “implorar” para ser acompanhado, abraçado, amado?
É preciso continuar a suscitar nas consciências, nas famílias, na Igreja e na sociedade, o reconhecimento do sentido e do valor incondicional e incondicionado da vida humana em todos os seus momentos e circunstâncias, concentrando a atenção de modo especial na gravidade do aborto e da eutanásia, sem, contudo, menosprezar os outros momentos e aspetos da vida (cf. EV 85).
Nunca podemos deixar de anunciar em família, nas escolas e nas numerosas e beneméritas Instituições Particulares de Solidariedade Social e nas outras instituições ligadas à Igreja, a convicção de que toda a vida merece acolhimento, respeito e proteção, toda a vida tem dignidade, nenhuma circunstância a tornará indigna, muito menos a doença ou o sofrimento.
Perante a fragilidade e o sofrimento e quando se vislumbra o fim da viagem neste mundo, por vezes, é possível curar. É sempre possível aliviar. É sempre necessário e possível acompanhar e consolar.
Se é assim, então a eutanásia: dar a morte a alguém para que não sofra, nunca é solução e desrespeita o valor inviolável da vida.
Também o suicídio assistido: facultar o suicídio a alguém para que não sofra, não é resposta.
A distanásia ou obstinação terapêutica: recurso a meios desproporcionados e sem efeitos práticos, não tem sentido e nunca deverá ser posta em prática.
Quer a eutanásia, quer o suicídio assistido, quer a obstinação terapêutica desrespeitam o momento natural da morte, quando é preciso deixar morrer. A primeira antecipa esse momento, a segunda prolonga-o de forma artificialmente inútil e penosa.
Faz sentido a ortotanásia ou morte natural, dando meios ao doente para viver até ao fim com dignidade. Daí que aliviar através de cuidados continuados e paliativos acessíveis a todos é um dever!
Como servidores da vida, caminhemos com o coração e o passo dos mais frágeis, fazendo-nos samaritanamente próximos de todos, estando permanentemente atentos a quem vive na tribulação. Ajudar sempre, pessoalmente ou através de estruturas de cuidados continuados e paliativos corresponde à nossa cultura multissecular e é o único caminho que, completando e integrando a solicitude do amor e a proximidade da família e amigos, garantirá uma morte serena, como o momento mais significativo da vida humana. Importa ser capaz de entender convenientemente o significado da eutanásia, do suicídio assistido e da distanásia para reconhecer que a morte digna é a morte natural (ortotanásia), com os meios necessários para evitar o sofrimento, sendo esta a via que deverá ser percorrida.
O debate e votação que hoje acontece no Parlamento Português coloca-nos perante importantes questões civilizacionais que a todos dizem respeito. Como cristãos e discípulos de Jesus Cristo, fiéis, felizes e missionários, nada queremos impor ou comandar, mas servir e iluminar, ou seja, influenciar a partir do Evangelho.
A nossa fé exige que saibamos dialogar com todos, cansando os ouvidos e a voz com assertividade e respeito, testemunhando a arte cristã de amar; celebrando o Evangelho da Vida.
Nada do que é humano nos é estranho. Como cristãos, temos a responsabilidade de anunciar a Palavra de Deus que dá vida e de dizer palavras que semeiem esperança. A fé cristã procura oferecer um horizonte de sentido e instrumentos operativos para uma cura da existência, particularmente nas situações limite e dolorosas. A vivência do sofrimento deve ser um tempo em que, longe de desaparecer para sempre, se exprima e se reforce o “longo amor” pela vida.
Como cristãos, temos a responsabilidade de sujar as mãos na construção da sociedade, visando a civilização do amor e da vida. No amor, é possível encontrar o sentido da dor, pois a pessoa é chamada a superar-se, a esquecer-se de si, a oferecer-se a uma causa a realizar, a uma outra pessoa a amar, a Deus a quem quer servir ou a quem se quer definitivamente entregar. O sofrimento oferecido por amor, num movimento oblativo e transformador, faz vencer o absurdo da dor, pois de um “porquê”, passa-se ao “por quem”, ou “por que causa”.
Por outro lado, o verdadeiro drama, para muitas pessoas, não consiste tanto em dever sofrer, mas no sofrer sozinhas ou sem nenhuma perspetiva que confira à sua existência um sentido. Compete ao Estado, às Igrejas, à sociedade, às famílias e a cada um de nós, acompanhar e ajudar concretamente quem está em situação de grave dificuldade ou em sofrimento para que ninguém se sinta abandonado e com vontade de desistir de viver.
Acompanhar quem sofre, mais do que uma ciência, é uma arte que se aprende e se pode aperfeiçoar dia após dia. Não é tanto uma “boa ação”, mas sim uma “boa relação”, que conscientemente se tece. Temos a convicção de que a eliminação do sofrimento não pode acontecer com a eliminação do sofredor. Por isso, devemos investir muito mais no alívio da dor e no acompanhamento dos doentes.
Pedir a morte é muitas vezes um grito dilacerante contra o abandono à dor e contra a dor do abandono. Não será que quem clama pela morte não estará a “implorar” para ser acompanhado, abraçado, amado?
É preciso continuar a suscitar nas consciências, nas famílias, na Igreja e na sociedade, o reconhecimento do sentido e do valor incondicional e incondicionado da vida humana em todos os seus momentos e circunstâncias, concentrando a atenção de modo especial na gravidade do aborto e da eutanásia, sem, contudo, menosprezar os outros momentos e aspetos da vida (cf. EV 85).
Nunca podemos deixar de anunciar em família, nas escolas e nas numerosas e beneméritas Instituições Particulares de Solidariedade Social e nas outras instituições ligadas à Igreja, a convicção de que toda a vida merece acolhimento, respeito e proteção, toda a vida tem dignidade, nenhuma circunstância a tornará indigna, muito menos a doença ou o sofrimento.
Perante a fragilidade e o sofrimento e quando se vislumbra o fim da viagem neste mundo, por vezes, é possível curar. É sempre possível aliviar. É sempre necessário e possível acompanhar e consolar.
Se é assim, então a eutanásia: dar a morte a alguém para que não sofra, nunca é solução e desrespeita o valor inviolável da vida.
Também o suicídio assistido: facultar o suicídio a alguém para que não sofra, não é resposta.
A distanásia ou obstinação terapêutica: recurso a meios desproporcionados e sem efeitos práticos, não tem sentido e nunca deverá ser posta em prática.
Quer a eutanásia, quer o suicídio assistido, quer a obstinação terapêutica desrespeitam o momento natural da morte, quando é preciso deixar morrer. A primeira antecipa esse momento, a segunda prolonga-o de forma artificialmente inútil e penosa.
Faz sentido a ortotanásia ou morte natural, dando meios ao doente para viver até ao fim com dignidade. Daí que aliviar através de cuidados continuados e paliativos acessíveis a todos é um dever!
Como servidores da vida, caminhemos com o coração e o passo dos mais frágeis, fazendo-nos samaritanamente próximos de todos, estando permanentemente atentos a quem vive na tribulação. Ajudar sempre, pessoalmente ou através de estruturas de cuidados continuados e paliativos corresponde à nossa cultura multissecular e é o único caminho que, completando e integrando a solicitude do amor e a proximidade da família e amigos, garantirá uma morte serena, como o momento mais significativo da vida humana. Importa ser capaz de entender convenientemente o significado da eutanásia, do suicídio assistido e da distanásia para reconhecer que a morte digna é a morte natural (ortotanásia), com os meios necessários para evitar o sofrimento, sendo esta a via que deverá ser percorrida.
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