Sete ensinamentos de Jesus sobre a oração (I)

«Antes de orares, reconcilia-te com o teu irmão»
No preciso momento em que o cristão se dirige a Deus, chamando-o Pai, deve estar consciente de que ele não cumpre sozinho essa invocação, mas exprime-a juntamente com os irmãos: diz «Pai», mas logo acrescenta «nosso».
Ser guardião dos irmãos na fé e de todos os seres humanos é condição essencial para aceder à comunhão trinitária. A reconciliação com o irmão e o amor que se estende até ao inimigo, até à vontade de fazer o bem a quem nos faz o mal: eis a atitude que deve acompanhar o início de todo o diálogo com o Senhor. Se se esquece este preliminar, depaupera-se gravemente a oração, até a tornar vã. O propósito da oração, que é a comunhão, é contradito pela situação de divisão e de ódio vivida pelo orante: como se pode pretende dialogar com Deus, que nos amou quando éramos inimigos, e de falar com Ele que não se vê, se não se sabe perdoar ou se quer comunicar com o irmão que se vê?
Não é por acaso que o único pedido do Pai-nosso que Jesus comenta é «perdoa-nos as nossas dívidas, como nós as perdoamos aos nossos devedores», e fá-lo com palavras inequívocas: «Se perdoardes aos homens as suas culpas, o vosso Pai celeste também vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o Pai também não perdoará as vossas culpas».

«Quando orares, retira-te para o teu quarto»
O crente vive a sua fé na comunidade, exprime-a na liturgia, oração de toda a Igreja, e deve rezar juntamente com os outros irmãos e irmãs, fazendo da oração comum a melhor escola de oração pessoal. Ele não deve empreender um caminho novo e inédito, mas recebe da Igreja o cânone da oração: os Salmos, a leitura da Escritura, a intercessão, o Pai-nosso e o culminar da oração, isto é, a Eucaristia. A liturgia é, portanto, o ambiente vital para se crescer na fé e na comunhão com o Senhor.
Todavia, a oração comum não é suficiente: ela necessita da interiorização, da gratuidade de quem fala a Deus pessoalmente, quando os outros não estão fisicamente junto a ele. Orar na solidão, à parte, não é uma forma de individualismo, mas a possibilidade de encontrar Deus, enquanto filho, no segredo do coração, aceitando sobre si aquele olhar penetrante do Deus que conhece, guarda, fala a cada um de modo irrepetível e único. O convite de Deus a orar «no segredo? não é só um antídoto para a hipocrisia de quem ora para ser visto e admirado pelos outros, mas indica um modo de diálogo amoroso e íntimo com Deus, “face a face” com o Invisível.
Sim, a oração pessoal é a ocasião de dirigir-se a Deus com liberdade, de acolher do curso do tempo a sua Presença, de percecionar a sua aproximação, o seu estar à porta e bater, a sua visitação com solicitude. Um orante que se alimenta unicamente da oração comum arrisca fazer desta apenas uma experiência de pertença ao grupo, e até, eventualmente, uma espécie de exibição diante dos outros.
Hoje, é precisamente a oração pessoal que é maioritariamente negligenciada, e esta situação arrisca-se, a longo prazo, a esvaziar inclusive a verdade da própria oração litúrgica. Se na pastoral muitos esforços são dedicados à iniciação litúrgica, infelizmente não são acompanhados por uma adequada transmissão da oração pessoal, que devia ser ensinada desde a infância. Quem, com efeito, não recebe desde pequenino uma iniciação à oração pessoal da parte dos pais ou dos educadores, dificilmente poderá alimentar-se dela na idade madura, de modo a fazer crescer a fé no Deus vivo, presente na existência diária. Soam como um aviso ainda atual as palavras de Martin Buber: «Se crer em Deus significa poder falar dele na terceira pessoa, não creio em Deus. Se crer nele significa poder-lhe falar, então creio em Deus». Hoje, os cristãos sabem falar de Deus; mas saberão também, como nas gerações cristãs passadas, falar a Deus?


Enzo Bianchi
In Perché pregare, come pregare, ed. San Paolo
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: doidam10/Bigstock.com
Publicado em 30.01.2020


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