Devo dizer que, muitas vezes, quando escuto o papa Francisco,
fico com uma vontade louca de falar com ele. Porque, normalmente,
Francisco não fala, dialoga. Implicitamente, claro.
Quer seja o seu tom de voz, quer aquilo que diz, constituem, com frequência, um convite a falar disso.
De uma coisa, em particular, gostaria de falar, talvez até debater, com ele. Por vezes, quando toca temas que dizem respeito às mulheres, diz que seria importante e necessário elaborar uma «teologia da mulher». E eu teria vontade de poder pensar um pouco com ele, porque, quem percorre de fio a pavio a história da teologia, a fundo, de Tertuliano a Wojtyla, passando por Agostinho, Tomás ou von Balthasar, todos os teólogos falaram sempre da mulher. De modos e com tons diferentes, certo, mas sempre exprimindo a necessidade e, talvez, até a pretensão de ter alguma coisa a dizer sobre a mulher, de a sancionar como “janua diaboli” (porta do diabo) ou de a exaltar pelo seu «génio feminino».
Mais de uma vez, depois, alguém até propôs dedicar um sínodo dos bispos ao tema da mulher. E eu, com outras, reagimos com preocupação, tentámos alertar para o risco, muito forte, no qual a Igreja católica incorreria.
O êxodo imparável, tanto silencioso como doloroso, das muitas mulheres que deixaram as igrejas nestes anos não será, porventura, uma palavra forte, um grito, que as mulheres, primeiro que todos, lançaram, porque não querem que se continue a falar delas, mas querem, antes, ser escutadas?
Não nos espaços insonorizados das muitas assembleias eclesiástica em que, desde recentemente, também algumas mulheres são convidadas, sempre e em qualquer caso como hóspedes. Não em observância à melhor etiqueta eclesiástica segundo a qual lhes é reconhecido o direito da palavra (não sempre, mas acontece), após minuciosa seleção daquilo que se pode e do que não se pode dizer.
Nunca um título de um livro foi tão exato como o de Carmel E, McEnroy, que, logo após o Concílio Vaticano II, descreveu a absoluta novidade da participação de 23 ouvintes: “Guest in their own house” (hóspedes na sua casa).
Era isto que queria dizer ao papa Francisco. Não para o convencer, mas para pensar em conjunto, sabendo que ambos estamos em nossa casa, ainda que com grandes diferenças de papel e de autoridade. Não faleis das mulheres e, muito menos, da mulher, continuando, de facto, a falar de vós.
Demasiadas vezes assistimos a uma espécie de “paternalismo feminista”, que é uma contradição em termos. Dai o exemplo ao mundo, inclusive àquele que se considera “civilizado”, a quem, em vez de o ser, lhe custa tando aceitar que, entre homem e mulher, não há um que é sujeito (também de palavra), e outra que é objeto (também de palavra), mas que, a partir de agora, a “sujeitualidade” só pode ser partilhada. E cada um fale de si. Temos grande necessidade de escutar homens que falem de masculinidade. Inclusive na Igreja.
Quer seja o seu tom de voz, quer aquilo que diz, constituem, com frequência, um convite a falar disso.
De uma coisa, em particular, gostaria de falar, talvez até debater, com ele. Por vezes, quando toca temas que dizem respeito às mulheres, diz que seria importante e necessário elaborar uma «teologia da mulher». E eu teria vontade de poder pensar um pouco com ele, porque, quem percorre de fio a pavio a história da teologia, a fundo, de Tertuliano a Wojtyla, passando por Agostinho, Tomás ou von Balthasar, todos os teólogos falaram sempre da mulher. De modos e com tons diferentes, certo, mas sempre exprimindo a necessidade e, talvez, até a pretensão de ter alguma coisa a dizer sobre a mulher, de a sancionar como “janua diaboli” (porta do diabo) ou de a exaltar pelo seu «génio feminino».
Mais de uma vez, depois, alguém até propôs dedicar um sínodo dos bispos ao tema da mulher. E eu, com outras, reagimos com preocupação, tentámos alertar para o risco, muito forte, no qual a Igreja católica incorreria.
O êxodo imparável, tanto silencioso como doloroso, das muitas mulheres que deixaram as igrejas nestes anos não será, porventura, uma palavra forte, um grito, que as mulheres, primeiro que todos, lançaram, porque não querem que se continue a falar delas, mas querem, antes, ser escutadas?
Não nos espaços insonorizados das muitas assembleias eclesiástica em que, desde recentemente, também algumas mulheres são convidadas, sempre e em qualquer caso como hóspedes. Não em observância à melhor etiqueta eclesiástica segundo a qual lhes é reconhecido o direito da palavra (não sempre, mas acontece), após minuciosa seleção daquilo que se pode e do que não se pode dizer.
Nunca um título de um livro foi tão exato como o de Carmel E, McEnroy, que, logo após o Concílio Vaticano II, descreveu a absoluta novidade da participação de 23 ouvintes: “Guest in their own house” (hóspedes na sua casa).
Era isto que queria dizer ao papa Francisco. Não para o convencer, mas para pensar em conjunto, sabendo que ambos estamos em nossa casa, ainda que com grandes diferenças de papel e de autoridade. Não faleis das mulheres e, muito menos, da mulher, continuando, de facto, a falar de vós.
Demasiadas vezes assistimos a uma espécie de “paternalismo feminista”, que é uma contradição em termos. Dai o exemplo ao mundo, inclusive àquele que se considera “civilizado”, a quem, em vez de o ser, lhe custa tando aceitar que, entre homem e mulher, não há um que é sujeito (também de palavra), e outra que é objeto (também de palavra), mas que, a partir de agora, a “sujeitualidade” só pode ser partilhada. E cada um fale de si. Temos grande necessidade de escutar homens que falem de masculinidade. Inclusive na Igreja.
Marinella Perroni
Biblista, Pontificio Ateneo S. Anselmo, Itália
In Donne - Chiesa - Mondo (L'Osservatore Romano)
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: TV 2000 | D.R.
Publicado em 03.01.2020
SNPC
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