Quando Mel Gibson convidou Pietro Sarrubi para fazer de "Barrabás" em "A Paixão de Cristo", o ator hesitou: queria um papel com mais protagonismo. Encarnou mesmo "Barrabás" e os poucos minutos que esteve em cena mudaram-lhe a vida.
Pietro
Sarrubi tinha 43 anos e, como qualquer ator, estava sempre à espreita
de novas oportunidades de trabalho. Foi, então, que recebeu um convite
inesperado, do realizador Mel Gibson.
“No começo, imaginava um filme de ação, um filme de luta. Descobri que era um filme sobre as últimas horas da vida de Cristo e não podia acreditar que o Mel Gibson ia fazer um filme desses. Mas eu sou ator, um filme ou outro é a mesma coisa”, diz Sarrubi à Renascença, num português do Brasil pontuado por termos italianos ou ingleses, durante uma conversa que teve lugar na véspera da sua participação na Conferência Nacional de Apostolado dos Leigos, em novembro.
Apesar da "honra" de ser contactado pelo realizador, Pietro Sarrubi ainda hesitou. “Quando ele me propôs fazer de Barrabás, eu disse que não, porque os atores ganham consoante a importância da personagem. Cada dia em que se trabalha ganha-se dinheiro. "Barrabás" era um papel curtinho. Eu disse que queria ser um apóstolo. Ele falou-me durante muito tempo para me convencer. Não é simples dizer que não a Mel Gibson. Eu sou teimoso, mas ele também. Muito mais. Ele deu-me bastante dinheiro mais do que o projeto inicial previa, para me convencer. É pena, mas é verdade.”
O ação reservada a "Barrabás" no filme “A Paixão do Cristo” é bastante curta. Pôncio Pilatos apresenta-o como alternativa à libertação de Jesus e, para surpresa do próprio salteador, o povo pede que seja ele o libertado. Barrabás comporta-se como um cão selvagem, rosnando e gozando com os guardas, enquanto eles lhe tiram as correntes. Depois, desce as escadas para ir ter com o povo, mas por três vezes volta-se para trás e o olhar cruza-se com o de Jesus. A sua expressão muda. Não foi só isso que mudou.
“No começo, imaginava um filme de ação, um filme de luta. Descobri que era um filme sobre as últimas horas da vida de Cristo e não podia acreditar que o Mel Gibson ia fazer um filme desses. Mas eu sou ator, um filme ou outro é a mesma coisa”, diz Sarrubi à Renascença, num português do Brasil pontuado por termos italianos ou ingleses, durante uma conversa que teve lugar na véspera da sua participação na Conferência Nacional de Apostolado dos Leigos, em novembro.
Apesar da "honra" de ser contactado pelo realizador, Pietro Sarrubi ainda hesitou. “Quando ele me propôs fazer de Barrabás, eu disse que não, porque os atores ganham consoante a importância da personagem. Cada dia em que se trabalha ganha-se dinheiro. "Barrabás" era um papel curtinho. Eu disse que queria ser um apóstolo. Ele falou-me durante muito tempo para me convencer. Não é simples dizer que não a Mel Gibson. Eu sou teimoso, mas ele também. Muito mais. Ele deu-me bastante dinheiro mais do que o projeto inicial previa, para me convencer. É pena, mas é verdade.”
O ação reservada a "Barrabás" no filme “A Paixão do Cristo” é bastante curta. Pôncio Pilatos apresenta-o como alternativa à libertação de Jesus e, para surpresa do próprio salteador, o povo pede que seja ele o libertado. Barrabás comporta-se como um cão selvagem, rosnando e gozando com os guardas, enquanto eles lhe tiram as correntes. Depois, desce as escadas para ir ter com o povo, mas por três vezes volta-se para trás e o olhar cruza-se com o de Jesus. A sua expressão muda. Não foi só isso que mudou.
“Essa
cena foi gravada 54 vezes, mas só da primeira vez foi tão intensa, tão
de rutura, tão explosiva, que aconteceu uma coisa realmente estranha. Eu
parei, todos pararam. Fiquei sem respiração. Não entendíamos o que
estava a acontecer. Depois, aconteceu com o Cireneu, com a Verónica, com
outros, sucessivamente, mas o primeiro com quem aconteceu foi comigo. O
olhar era tão forte, tão verdadeiro, que criava uma suspensão da
realidade”, diz.
“Todas as noites íamos para o bar do hotel, para nos divertirmos, mas naquela noite não consegui. Pedi o jantar para o quarto, mas não consegui comer. Liguei a televisão, mas não consegui ver. Estava muito esquisito. Pensei que devia estar doente, mas, quando fui para a cama, fiquei com medo do escuro, pela primeira vez. Eu que já dormi num monte de lugares improváveis, irrepetíveis, naquela noite, no hotel super iluminado, no centro de Roma, estava com medo do escuro.”
“Liguei a luz de cabeceira e fiquei toda a noite sentado na cama a pensar neste olhar que tinha pela frente. Era um olhar com uma pergunta, uma pergunta que eu não conseguia compreender e que me desestabilizava”, explica o ator.
A resposta a essa pergunta acabou por encontrá-la na Igreja. “Fiz de tudo para dizer que não, mas não consegui, porque cada passo que dava para trás dava dez para a frente. Eu parava, mas o meu coração puxava-me para a frente.”
À volta do mundo para chegar a casa
Como a maioria dos italianos da sua geração, Sarrubi teve uma educação católica, mas foi sem grande profundidade e o que lhe ensinaram não o satisfez. Ainda jovem, deu a volta ao mundo, passou uma temporada num mosteiro budista, investigou diferentes tradições e realidades. Acabou por encontrar a resposta que procurava à porta de casa, na mesma Igreja que nunca lhe tinha dito nada. Ainda assim, diz que não foi tempo perdido.
“A pesquisa nunca é tempo perdido porque forma. Tempo perdido é quando ficamos na cama a olhar para a janela. Quando trabalhamos, viajamos, estudamos, procuramos, é sempre tempo interessante. Ainda que haja lutas, ainda que haja erros, porque quando se erra e se aprende com os erros, isso não é tempo gasto. Mas a pesquisa foi interessante para mim, inclusivamente na dimensão de ator.”
“Há uma parte antropológica da pesquisa. Todos os homens nascem para procurar a beleza e a felicidade. Alguma vez foi abordado por alguém a perguntar por um restaurante onde se come mal? Sabe de um hotel feio? Tem alguma amiga feia com quem possa sair? Claro que não! Essa procura simples faz parte de uma procura mais alta. O homem procura sempre a beleza, porque a beleza é a prova da presença de Deus. Não é a beleza estética, mas a beleza que dá um carinho ao coração. Aquela beleza que está na música, na arte, na mensagem, na comida, no mar, em tudo o que Deus criou”, afirma.
“Todas as noites íamos para o bar do hotel, para nos divertirmos, mas naquela noite não consegui. Pedi o jantar para o quarto, mas não consegui comer. Liguei a televisão, mas não consegui ver. Estava muito esquisito. Pensei que devia estar doente, mas, quando fui para a cama, fiquei com medo do escuro, pela primeira vez. Eu que já dormi num monte de lugares improváveis, irrepetíveis, naquela noite, no hotel super iluminado, no centro de Roma, estava com medo do escuro.”
“Liguei a luz de cabeceira e fiquei toda a noite sentado na cama a pensar neste olhar que tinha pela frente. Era um olhar com uma pergunta, uma pergunta que eu não conseguia compreender e que me desestabilizava”, explica o ator.
A resposta a essa pergunta acabou por encontrá-la na Igreja. “Fiz de tudo para dizer que não, mas não consegui, porque cada passo que dava para trás dava dez para a frente. Eu parava, mas o meu coração puxava-me para a frente.”
À volta do mundo para chegar a casa
Como a maioria dos italianos da sua geração, Sarrubi teve uma educação católica, mas foi sem grande profundidade e o que lhe ensinaram não o satisfez. Ainda jovem, deu a volta ao mundo, passou uma temporada num mosteiro budista, investigou diferentes tradições e realidades. Acabou por encontrar a resposta que procurava à porta de casa, na mesma Igreja que nunca lhe tinha dito nada. Ainda assim, diz que não foi tempo perdido.
“A pesquisa nunca é tempo perdido porque forma. Tempo perdido é quando ficamos na cama a olhar para a janela. Quando trabalhamos, viajamos, estudamos, procuramos, é sempre tempo interessante. Ainda que haja lutas, ainda que haja erros, porque quando se erra e se aprende com os erros, isso não é tempo gasto. Mas a pesquisa foi interessante para mim, inclusivamente na dimensão de ator.”
“Há uma parte antropológica da pesquisa. Todos os homens nascem para procurar a beleza e a felicidade. Alguma vez foi abordado por alguém a perguntar por um restaurante onde se come mal? Sabe de um hotel feio? Tem alguma amiga feia com quem possa sair? Claro que não! Essa procura simples faz parte de uma procura mais alta. O homem procura sempre a beleza, porque a beleza é a prova da presença de Deus. Não é a beleza estética, mas a beleza que dá um carinho ao coração. Aquela beleza que está na música, na arte, na mensagem, na comida, no mar, em tudo o que Deus criou”, afirma.
O
regresso à Igreja Católica foi um processo. Começou por ir à missa, mas
ficava na parte de trás da Igreja, com vergonha de não saber as
respostas e os gestos. “Cada domingo fui avançando um bocadinho mais.
Mas quando se chega à frente de tudo entendemos a maravilha absoluta de
estarmos nós, com o padre e com a Eucaristia. Porque naquele ponto
estamos sentados à mesa da Última Ceia. É uma coisa espetacular. E
quando eu olhava, as primeiras duas ou três filas estavam sempre vazias e
eu pensava ‘é incrível, a caridade dos cristãos, que deixam livres as
filas, mesmo como está escrito, que o último será o primeiro. Deixam
para o último’”, recorda Sarrubi.
A emoção era de tal forma que uma das suas filhas disse que não queria fazer a primeira comunhão, porque sempre que o pai comungava chorava.
Pietro Sarrubi confirma que a sua não foi a única conversão, mas Mel Gibson pediu sigilo a todos, porque não queria que essas histórias fossem encaradas como medidas de marketing.
Curiosamente, ao contrário de muitos dos atores e outros profissionais que trabalharam no filme, a vida do realizador, que nunca escondeu a sua fé, acabou por ter uma viragem para pior depois de “A Paixão do Cristo”. Gibson divorciou-se, foi apanhado a conduzir alcoolizado e, ao ser detido, lançou-se numa diatribe contra os judeus.
Sarrubi, que ficou muito amigo de Mel Gibson, acena com a cabeça quando confrontado com esse paradoxo. Está habituado à pergunta. Não tenta justificar as ações, mas adverte “quando tanto se serve Cristo, tanto se trabalha por Cristo, mais tem de esperar ser tentado pelo demónio".
"É um risco, um perigo, para padres, para todos os que servem, todos os que estão ao serviço do Cristo.”
“Sempre que ele me escreve acaba os textos com ‘reza por mim’. Um homem que tem milhões e milhões de dólares, a sua preocupação final é para rezar por ele. O homem é super frágil. Tudo o que falta, é Cristo que preenche”, remata.
A emoção era de tal forma que uma das suas filhas disse que não queria fazer a primeira comunhão, porque sempre que o pai comungava chorava.
Pietro Sarrubi confirma que a sua não foi a única conversão, mas Mel Gibson pediu sigilo a todos, porque não queria que essas histórias fossem encaradas como medidas de marketing.
Curiosamente, ao contrário de muitos dos atores e outros profissionais que trabalharam no filme, a vida do realizador, que nunca escondeu a sua fé, acabou por ter uma viragem para pior depois de “A Paixão do Cristo”. Gibson divorciou-se, foi apanhado a conduzir alcoolizado e, ao ser detido, lançou-se numa diatribe contra os judeus.
Sarrubi, que ficou muito amigo de Mel Gibson, acena com a cabeça quando confrontado com esse paradoxo. Está habituado à pergunta. Não tenta justificar as ações, mas adverte “quando tanto se serve Cristo, tanto se trabalha por Cristo, mais tem de esperar ser tentado pelo demónio".
"É um risco, um perigo, para padres, para todos os que servem, todos os que estão ao serviço do Cristo.”
“Sempre que ele me escreve acaba os textos com ‘reza por mim’. Um homem que tem milhões e milhões de dólares, a sua preocupação final é para rezar por ele. O homem é super frágil. Tudo o que falta, é Cristo que preenche”, remata.
Comentários
Enviar um comentário