- Pais e professores não se entendem acerca da principal missão da escola. Os professores colocam em primeiro lugar a formação cívica. Os pais o desenvolvimento cognitivo dos seus filhos.
- A escola preocupa-se mais com os resultados nos exames do que com as aprendizagens e o sucesso educativo. Pais e professores de acordo.
- 90% dos professores dão trabalhos de casa "muitas vezes ou sempre" aos seus alunos. Pais consideram-nos "na medida certa".
- 60% dos alunos do ensino secundário têm explicações
- As crianças portuguesas passam mais 1200 horas de aulas. Os pais entendem que o tempo é adequado. Os professores consideram-no excessivo.
- Os professores reconhecem que são os principais responsáveis pelo insucesso escolar dos estudantes portugueses. Os pais acham que a responsabilidade é dos filhos. E, depois, deles próprios.*
Afinal, qual é, mesmo, a função da escola? Se preferirem, dum modo mais directo: afinal, para que serve a escola? É claro que todos temos a escola como um bem precioso e indispensável. O sítio a partir do qual o mundo se democratiza e muda; se pensa e se recria. Mas, considerando aquilo que ela é, hoje, e comparando-a com os fundamentos em que ela se alicerçou desde a sua criação, aquilo que intuímos que deve ser a escola corresponde às respostas que ela nos traz? Por outras palavras, quando falamos da missão da escola, estaremos todos a falar da mesma "coisa"? A escola de que falam os pais e os professores será, em suma, a mesma escola?
Esta questão não é supérflua. Sobretudo, quando talvez acabemos a sentir que, ao que parece, a escola - com a conivência de todos, mas mal! - parece ter assumido como missão preparar os nossos filhos para a entrada na universidade. Afinal, deve a escola centrar-se no sucesso escolar, medido pelas notas com que se entra na universidade ou no sucesso educativo? E como se pode avaliar o sucesso educativo sem que estejamos esclarecidos e emparelhados naquilo que esperamos da escola e da sua missão. Daqui resulta que, ou a missão da escola está correta, no modo como se desenham os respetivos princípios, e é a forma como nós a interpretamos que a adultera; ou a missão da escola não se adequa aquilo que o mundo exige aos nossos filhos e, a ser assim, precisaremos de refundar os princípios que a estruturam e lhe dão sentido.
Presumindo que a missão da escola será, tacitamente, aceite por todos, seria de supor que a perspectiva dos pais e a dos professores devesse ser, senão coincidente, pelo menos, convergente. Se preferirem, por outras palavras: como se poderá esperar que a escola corresponda, adequadamente, ao que todos esperamos dela se aquilo que os pais e os professores entendem como a missão da escola (os princípios orientadores que lhe dão sentido e a estruturam) poderão não coincidir para uns e para outros? Porque, se assim for, é legítimo que se receie que os professores, movidos pela sua ideia do que será a missão da escola, deem o melhor de si e, por outro lado, os pais, interpretando a escola a partir de um vértice diferente entendam que a escola não cumpre os seus desígnios. Mas, então, como podem os nossos filhos conviver com ideias acerca da missão da escola distantes, todavia centradas sobre eles? Será que aquilo que pais e professores exigem às crianças tem só a ver com elas - com as suas competências e com a forma como as traduzem em recursos - ou pode estar enviesada por aquilo que poderão ser pontos de vista muito diferentes acerca do que entendam que deve ser a missão da escola em relação a eles? E, sendo diferentes, como se pode esperar que estabeleçam parcerias e falem uma mesma "língua" quando se trata de serem, a níveis diferentes, educadores?
Por mais que se definam princípios orientadores para a missão da escola, enquanto a perspectiva acerca dela não for convergente entre os pais e os professores, a escola arrisca-se a não se preocupar com o sucesso educativo. Talvez a missão da escola esteja correcta, na forma como se desenham os respectivos princípios, e talvez seja a forma como nós a interpretamos que a adultera a sua missão. Por outro lado, enquanto os pais não reformularem aquilo que esperam dos filhos, em relação à escola, a missão da escola estará comprometida. Não só corre o risco de se transformar numa "missão impossível" como estará longe de contribuir para se transformar numa escola amiga da criança.
EDUARDO SÁ
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