O amor tóxico

Um amor que prende e desconfia
Todos os amores têm uma história. Mesmo quando não têm “história”, dentro de nós.
E mesmo que não sejam amores. E se há amores que reescrevem a história da qual nos perdemos, e a replantam, há os que parecem carcomê-la e a murcham e matam. Aos poucos. “Por amor”. Serão assim os amores tóxicos. Que, por tudo o que nos tiram, não são amor.
Esse amor nunca nos acrescenta. Antes corrói. Devagarinho. Esse amor exige que sejamos quem não somos. E, depois de darmos e darmos, faz-nos sentir sempre aquém daquilo que ele espera de nós. Esse amor traz pasmo. Atordoa. E rouba-nos aos sonhos. Esse amor não alimenta. Desconfia. Nesse amor nunca se viaja. Envelhece-se de esperar por dias bons.  Nesse amor não cabem dois eus num mesmo gesto. Mas um só! Sem se falar da dor. Sem direito a rebeliões. Ou ao protesto. Esse amor espera encontrar em nós uma “alma gémea”. Mas amar, procurando uma alma gémea, é imaginar que só se pode ser feliz tendo, à frente, um espelho mágico. Esse amor não é amor. É uma intoxicação que nos toma de assalto e que nos prende. E divorcia da vida e do amor.

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