Uma última oportunidade


Fazer-se um "esforço" pela relação
Pedir a alguém de quem se gosta que nos dê uma última oportunidade devia ser a razão suficiente para que quem a pede não tenha direito a ela. Unicamente porque as oportunidades não se pedem nem se ganham; trabalha-se para que aconteçam. Não nos caem do céu. Não são um presente. Antes se conquistam.


Pedir uma última oportunidade é não fazer nada para que se mereça que quem gosta de nós repense os ressentimentos que tem para connosco. É uma espécie de: "Faz tu!". É ficar à espera - num registo do género: "Qual é a surpresa? Desde que me conheces que sabes como eu sou" - que, a haver alguém que precise de mudar, seja mais essa pessoa. Que se deve "adaptar" aquilo que somos, mais do que nós a fazer seja o que for para mudar. Por mais que sejamos capazes de repetir que a sua presença na nossa vida nos é indispensável.

O que se passa é que, sempre que amamos, nos transformamos. Porque aquilo que temos de mais autêntico se torna mais fácil de se exprimir. Porque quem nos ama nos reabilita para aquilo que temos de melhor. E porque aquilo que essa pessoa nos dá acaba por trazer uma tamanha revolução tranquila que, por causa disso, nos transforma. Na verdade, quando amamos acabamos por nos dar uma oportunidade - a nós e a quem amamos, ao mesmo tempo - de nos transformarmos. Já quando reclamamos uma oportunidade, estamos a pedir a outra pessoa que nos dê provas que nos ama. Mais do que nós as damos a ela. Logo, se a nossa incapacidade de nos transformarmos (por essa pessoa, ou para essa pessoa) quer dizer alguma coisa é que nem o nosso amor por ela corresponde aquilo que lhe dizemos que é, nem o seu valor para justificar as nossas transformações será assim tanto que elas valham a pena.

É claro que sempre que chegamos ao patamar em que fazemos "um esforço" para que as coisas corram bem, a nossa capacidade para conquistarmos "uma oportunidade" deixou de existir. Porque, por outras palavras, "um esforço" significa mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma. O que, doutra maneira, nos leva para um patamar em que, por desmazelo, chegamos aqueles desabafos (que todos conhecemos) em que alguém afirma que só damos importância aquilo que temos... quando perdemos essa pessoa. Perder uma pessoa tem, de certa forma, como porta de entrada, as "últimas oportunidades" que pedimos numa relação amorosa. Pedir uma "última oportunidade" é reconhecer que essa relação já estará, irremediavelmente, comprometida. Por mais que, dessa forma, uma perda anunciada se tente adiar, uma última vez.

Por tudo isto, não é justo que se peça uma "última oportunidade". Era melhor que se assumisse que ela representa uma forma de recuperar tudo aquilo que se não se fez antes de se deitar tudo a perder. Por outras palavras: as oportunidades ganham-se quando somos humildes. Não tanto quando ficamos à espera que alguém nos dê quando somos incapazes de dar.


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