Ao final de cada dia, logo após a oração de vésperas, o monge de sandálias
– andava sempre de sandálias – aproximava-se, a um ritmo certo, da grande
janela, no fundo do coro. O mosteiro era uma ilha de vida silenciosa. Àquela
hora, as montanhas cobertas de vegetação estendiam uma crescente sombra sobre o
antigo edifício erguido, alguns séculos antes, num vale fértil, junto a um
pequeno riacho.
Todos esperávamos esse momento. O monge levantava uma ponta do hábito e com
um pé apoiado, dava um impulso para subir ao banco encostado à parede. De baixa
estatura e rechonchudo, estendia os braços para puxar o fio através do qual se
enrolava uma cortina sobre a janela. O sol declinava no horizonte, manso e
previsível. E naquele gesto tão simples, naquele esforço tão repetido, mas
sempre necessário, a luz espalhava-se pelas paredes altas de granito, incidia
sobre os recantos escondidos, dava vida às velhas imagens e iluminava, de novo,
os cadeirais onde todos os dias a comunidade monástica se reunia para rezar.
Perante o milagre da luz, fechávamos os olhos. E tudo recomeçava em cada
entardecer. Havia ainda muita história para escrever. Mas naquele momento era
apenas o silêncio levemente estremecido pelo rugir do vento nas frestas da
grande janela. Bendito seja Deus!
As mãos do monge eram herdeiras de uma antiga sabedoria. Elas condensavam o
ritual de uma comunidade que, todos os dias, procurava a Luz.
No início de mais um ano, Senhor ajuda-nos a ser como esse monge.
P. Nélio Pita, CM
Imagem: onzon/Bigstock.com
Publicado em 16.09.2019
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