Não me interessa o
que se passa na tua vida. Não me diz respeito o teu caminho. A tua
guerra. Não me dizem respeito as tuas lutas, as tuas mágoas, as tuas
dificuldades ou as tuas travessas.
Não me interessam as pontes que
atravessas, os rios que nadas, os mares ondes mergulhas, os trilhos que
percorres e, muito menos, as lágrimas que choras. Não me interessas. Não
me dizes respeito. Divorciei-me do que não faz parte dos meus
horizontes e do que está para além do que quero ver. Se não é meu, não
faz parte de mim. Se não me diz respeito, não olho. Se não atrofia o meu
coração, não (me) faz mossa.
É assim que vamos vivendo. Atravessando
como quem não olha. Caminhando como quem não vê. Mergulhando como quem
não quer conhecer nenhuma água para além da sua. Os muros dos outros não
nos dizem nada. São silêncios altos que não nos falam e, mesmo que
falassem, não estaríamos interessados em ouvir. As lutas dos outros
mancham as nossas espadas, que não se podem cansar noutros combates que
não sejam os nossos. As dificuldades dos outros perturbam a nossa paz
fictícia e imaginada.
Não sei que sentido temos encontrado em
viver assim. Alheados de tudo o que não é nosso. Como se nos
bastássemos. Como se nos fôssemos suficientes sem mais nada e mais
ninguém. Não sei se será suficiente continuar assim. A não respeitar o
que não nos diz respeito. Ou, simplesmente, a não querer saber.
Talvez valha a pena olhar para o lado
mais vezes. Oferecer companhia para a luta de quem também ali vai.
Oferecer bondade para olhar para o caminho de quem também não sabe por
onde ir. Oferecer a força de mais dois braços para remar e para avançar.
Talvez valha a pena perceber que só aquilo que se partilha e divide de
poderá, algum dia, multiplicar.
Por Marta Arrais
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