O Evangelho de Lucas traz um episódio
desconcertante em relação à Sagrada Família de Nazaré: Maria e José
perdem de vista Jesus, procuram-no em vão entre parentes e familiares, e
no fim encontram-no, com grande espanto, num contexto que não esperavam
(no templo, enquanto discutia com os doutores da lei).
Quando lhe pedem uma explicação, não apreendem aquela que Ele lhes dá. Mas todos regressam a casa.
No fundo, este é um episódio menos
enigmático do que pode parecer, porque a família é o espaço em que
acolhemos uma verdade uns dos outros que nem sempre chegamos a
compreender.
A família é certamente o lugar onde nos
reencontramos, mas também o lugar em que nos perdemos. Por isso, na
comunidade familiar devemos sempre procurar-nos, porque não sabemos
dizer onde o outro se encontra.
A beleza da família está neste
aprendizado sereno da diferença, na arte de guardar aquilo que não se
compreende e que, provavelmente, não era o sonho inicial.
Não devemos pressupor que a família é um
horizonte de fusão em nunca se verificarão problemas ou feridas. Pelo
contrário. É talvez por causa da família que sobre o nosso rosto cairão
as lágrimas mais difíceis que cada um de nós terá de chorar.
Mas o segredo é abraçar tudo isto sem
nos desencorajarmos, sentindo-nos dentro de uma espécie de dança que,
ainda que nos esvazie, ao mesmo tempo enche o nosso copo até acima, até
transbordar.
[D. José Tolentino Mendonça | In Avvenire ]
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