Saber e amar

«A piedade é a única maneira para escapar à aridez que a prática da reflexão cria inevitavelmente nas raízes da nossa sensibilidade. Saber não prepara para amar.»


Extraída de um escrito do conhecido pensador francês Jean Guitton (1901-1999), esta frase apoia-se na consideração de outro escritor, Joseph Joubert (1754-1824), que se referia à aridez a que pode conduzir a pura razão, exercitada de modo exclusivo, exorcizando e excluindo todo o sentimento ou piedade.

Todos na vida já encontrámos pessoas dotadas de grande inteligência mas privadas de humanidade. Houve nazistas intelectualmente muito apurados, mas de igual modo cruéis e implacáveis. Sim, porque como conclui Guitton, o «saber não prepara para amar».

Entendamo-nos bem: também para a amar é necessária pelo menos uma gota de inteligência, para não nos precipitarmos na cegueira ou no sentimentalismo. Mas um conhecimento racional gélido e exclusivo pode gerar monstros e monstruosidades.

«O “führer” tem sempre razão», dizia-se, e esta estúpida afirmação incarnava a degeneração de um pensamento totalitário que não sabe confrontar-se, que se torna ridículo na sua autolatria, isto é, na adoração de si, perdendo assim a luz da verdadeira razão.

«O último passo da razão – dizia outro grande filósofo francês, Pascal – é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam». Então, seguindo ainda as lições de Pascal, aprendamos a seguir «as razões do coração» e a evitar «dois excessos: excluir a razão, só admitir a razão».

[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]
 
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