Uma gota de água

«Nunca pensei mudar o mundo. Procurei apenas ser uma gota de água limpa. Se também tu te tornares uma gota de água limpa, já seremos dois. E se também o for a tua mulher ou o teu marido, seremos três e depois quatro, dez, cem.»

Assim respondeu Madre Teresa de Calcutá, durante a conferência de imprensa em Oslo por ocasião da entrega do Nobel da Paz em 1979, a um jornalista que lhe perguntava se a sua intenção era mudar o mundo.
Muitas vezes, com efeito, há um cómodo álibi que retorquimos perante o mal no mundo: ainda que eu tivesse de renunciar a um pouco do meu alimento, nunca poderia libertar o mundo da fome; ainda que eu tivesse de eliminar uma pequena injustiça, não era por isso que a sociedade ficaria diferente e mais justa; e assim por diante.
Com este raciocínio, delegando as soluções dos escândalos colossais que envolvem o nosso planeta aos Estados, às políticas, aos grandes organismos internacionais, encontramo-nos sempre no ponto de partida, com um mundo injusto, egoísta, doente, inquinado.
Eis, então, aquela simples, e todavia eficaz, via da «gota de água limpa». É do pequeno que se deve começar, precisamente como fez Cristo, que escolheu a semente minúscula da mostarda e o pequeno rebanho.
Efetivamente, há uma força secreta na gota que se une às outras, transformando-se num rio límpido, e depois num lago, na expetativa, como cantava o profeta Ezequiel, de fecundar inclusive o mar Morto da história.
Devemos, então, reencontrar a confiança nas pequenas escolhas pelo bem, sem desencorajamentos e sem retórica. Também os antigos latinos estavam convictos de que a gota consegue perfurar até a pedra. Ou, por outras palavras, água mole em pedra dura…


P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Imagem: kjpargeter/Bigstock.com
Publicado em 18.02.2019


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