A maneira como os membros de uma determinada comunidade vivem e
organizam a sua vida social está diretamente relacionada com a sua
conceção particular de tempo.
Mas o tempo não é apenas a realidade objetiva que configura e organiza a vida social. É também a maneira pela qual cada sociedade se desenvolve e dá sentido à sua existência, vivendo numa temporalidade que ela própria configurou. Por outras palavras, não é que “cada sociedade tenha o seu próprio modo de viver o tempo, mas que cada sociedade é também uma forma de fazer o tempo e de dar-lhe existência” (Castoriadis). Deste ponto de vista, pode afirmar-se que o tempo não é apenas um facto externo que é assumido pelos sujeitos como um “dado adquirido” (Berger e Luckmann, 1997), mas é criado e recriado através de múltiplos processos e relacionamentos que vão tecendo a vida social. Essas duas dimensões da temporalidade, uma mais objetiva e externa e outra mais subjetiva e apegada às coisas da vida, são experimentadas no nosso tempo com uma consciência e intensidade que não têm antecedentes históricos.
Mas o tempo não é apenas a realidade objetiva que configura e organiza a vida social. É também a maneira pela qual cada sociedade se desenvolve e dá sentido à sua existência, vivendo numa temporalidade que ela própria configurou. Por outras palavras, não é que “cada sociedade tenha o seu próprio modo de viver o tempo, mas que cada sociedade é também uma forma de fazer o tempo e de dar-lhe existência” (Castoriadis). Deste ponto de vista, pode afirmar-se que o tempo não é apenas um facto externo que é assumido pelos sujeitos como um “dado adquirido” (Berger e Luckmann, 1997), mas é criado e recriado através de múltiplos processos e relacionamentos que vão tecendo a vida social. Essas duas dimensões da temporalidade, uma mais objetiva e externa e outra mais subjetiva e apegada às coisas da vida, são experimentadas no nosso tempo com uma consciência e intensidade que não têm antecedentes históricos.
No entanto, assim como as sociedades não são homogéneas, também
os tempos que as compõem não são uniformes. O mais comum é que
diferentes conceções e experiências de tempo coexistam na mesma
sociedade, e que nem todas têm a mesma oportunidade de se impor, mas
apenas aquelas associadas aos grupos sociais dominantes. Estas últimas
passarão a fazer parte da estrutura de legitimações para
institucionalizar e validar a sua dominação. Neste sentido, podemos
afirmar que todas as formas de poder existentes ao longo da história
criaram e estabeleceram uma determinada temporalidade. “O tempo assume
um particular interesse - escreveu George Dumezil - para quem queira -
deus, herói ou líder - triunfar, reinar ou criar: não importa quem quer
que seja, ele deve procurar apropriar-se do tempo, assim como o faz em
relação ao espaço”.
Esta apropriação do tempo varia em função do sistema de legitimações vigente em cada sociedade. Nas sociedades industriais, os tempos sociais dominantes são os que se vinculavam ao mundo laboral, que é a principal forma de legitimação e estruturação dessas sociedades. Essa conceção de tempo é a que configura e dá sentido à moderna ética do trabalho.
Por essa razão, quando, nas últimas décadas, nos países industrializados, as estruturas laborais e produtivas transformaram a representação do tempo, vinculada aos anteriores cenários laborais, teve também de ser reconfigurada a ética de trabalho, agora, mais motivadora e mobilizadora.
As principais instituições políticas internacionais, como a UE ou a OCDE, assim como os autores do managament, enquanto principais legitimadores da nova ordem laboral, desempenharam um papel protagonista na reconstrução dessa nova temporalidade. Neste contexto, o tempo surge com essa dupla dimensão, objetiva e subjetiva, à qual nos referimos acima. Por um lado, apresenta uma vertente claramente disciplinar, ao vincular-se aos poderes políticos e empresariais; por outro lado, apresenta-se como uma oportunidade para que os sujeitos construam as suas biografias laborais em ambientes mais abertos e livres.
Para entender o significado dessa temporalidade, propomos uma análise diacrónica estruturada em três partes. No texto que se seguirá a este, procurar-se-á descrever a conceção predominante do tempo nas sociedades pré-industriais. Um tempo vivido fundamentalmente como uma realidade objetiva e imutável. Em seguida, procuraremos mostrar como as representações do tempo, que emergem com o início da Era Moderna, estão em clara rutura com a temporalidade anterior e diretamente relacionada com mundo do trabalho. Essas representações contribuíram essencialmente para legitimar a ordem social moderna. Uma ordem que exigia sacrifícios, mas que também concedia recompensas pessoais institucionalizadas. No terceiro texto, analisar-se-á o processo de transformação dessa temporalidade relativamente à mudança experimentada pelas estruturas laborais e produtivas das sociedades industriais, desde meados dos anos setenta do século passado. Neste contexto, surgiu uma nova conceção de tempo, coberta pelas principais instituições políticas nacionais e internacionais e pelos ideólogos da nova gestão empresarial.
Esta apropriação do tempo varia em função do sistema de legitimações vigente em cada sociedade. Nas sociedades industriais, os tempos sociais dominantes são os que se vinculavam ao mundo laboral, que é a principal forma de legitimação e estruturação dessas sociedades. Essa conceção de tempo é a que configura e dá sentido à moderna ética do trabalho.
Por essa razão, quando, nas últimas décadas, nos países industrializados, as estruturas laborais e produtivas transformaram a representação do tempo, vinculada aos anteriores cenários laborais, teve também de ser reconfigurada a ética de trabalho, agora, mais motivadora e mobilizadora.
As principais instituições políticas internacionais, como a UE ou a OCDE, assim como os autores do managament, enquanto principais legitimadores da nova ordem laboral, desempenharam um papel protagonista na reconstrução dessa nova temporalidade. Neste contexto, o tempo surge com essa dupla dimensão, objetiva e subjetiva, à qual nos referimos acima. Por um lado, apresenta uma vertente claramente disciplinar, ao vincular-se aos poderes políticos e empresariais; por outro lado, apresenta-se como uma oportunidade para que os sujeitos construam as suas biografias laborais em ambientes mais abertos e livres.
Para entender o significado dessa temporalidade, propomos uma análise diacrónica estruturada em três partes. No texto que se seguirá a este, procurar-se-á descrever a conceção predominante do tempo nas sociedades pré-industriais. Um tempo vivido fundamentalmente como uma realidade objetiva e imutável. Em seguida, procuraremos mostrar como as representações do tempo, que emergem com o início da Era Moderna, estão em clara rutura com a temporalidade anterior e diretamente relacionada com mundo do trabalho. Essas representações contribuíram essencialmente para legitimar a ordem social moderna. Uma ordem que exigia sacrifícios, mas que também concedia recompensas pessoais institucionalizadas. No terceiro texto, analisar-se-á o processo de transformação dessa temporalidade relativamente à mudança experimentada pelas estruturas laborais e produtivas das sociedades industriais, desde meados dos anos setenta do século passado. Neste contexto, surgiu uma nova conceção de tempo, coberta pelas principais instituições políticas nacionais e internacionais e pelos ideólogos da nova gestão empresarial.
Eduardo Duque
Diretor do Departamento para a Cultura da Arquidiocese de Braga
Imagem: digitalista/Bigstock.com
Publicado em 18.02.2019
SNPC
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