No nosso percurso de
redescoberta da oração do Pai-nosso, aprofundaremos hoje a primeira das
suas sete invocações, ou seja, «santificado seja o vosso nome».
Os pedidos do Pai-nosso são sete,
facilmente divisíveis em dois subgrupos. Os primeiros três têm no centro
o “Tu” de Deus Pai; os restantes quatro centram-se no «nós» e nas
nossas necessidades humanas.
Na primeira parte, Jesus faz-nos entrar
nos seus desejos, todos dirigidos ao Pai: «santificado seja o vosso
nome, venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade»; na segunda
é Ele que entra em nós e faz-se intérprete das nossas necessidades: o
pão de cada dia, o perdão dos pecados, a ajuda na tentação e a
libertação do mal.
Aqui está a matriz de toda a oração
cristã – direi até de toda a oração humana –, que é sempre feita, por um
lado, de contemplação de Deus, do seu mistério, da sua beleza e
bondade, e por outro, de sincero e corajoso pedido daquilo que nos serve
para viver, e viver bem. Assim, na sua simplicidade e essencialidade, o
Pai-nosso educa quem o reza a não multiplicar palavras vãs, porque –
como o próprio Jesus diz – «o vosso Pai sabe de que coisas precisais
antes ainda que lhas pedis».
Quando falamos com Deus, não o fazemos
para lhe revelar aquilo que temos no coração: Ele conhece-o muito melhor
que nós. Se Deus é um mistério para nós, nós, ao contrário, não somos
um enigma aos seus olhos. Deus é como aquelas mães a quem basta um olhar
para compreender tudo dos filhos: se estão contentes ou tristes, se são
sinceros ou escondem alguma coisa…
O primeiro passo da oração cristã é,
portanto, a entrega de nós mesmos a Deus, à sua providência. É como
dizer: «Senhor, Tu sabes tudo, não há sequer necessidade que te conte as
minhas dores, peço-te apenas que Tu estejas junto a mim: Tu és a minha
esperança».
É interessante notar que Jesus, no
discurso da montanha, logo após ter transmitido o texto do Pai-nosso,
nos exorta a não nos preocuparmos e a não nos afadigarmos pelas coisas.
Parece uma contradição: primeiro ensina-nos a pedir o pão de cada dia, e
depois diz-nos: «Não vos preocupeis, dizendo: o que haveremos de comer?
O que haveremos de beber? O que haveremos de vestir?». Mas a
contradição é só aparente: os pedidos do cristão exprimem a confiança no
Pai; e é precisamente esta confiança que nos faz pedir aquilo de que
temos necessidade, sem azáfama e agitação.
É por isso que oramos dizendo:
«Santificado seja o vosso nome». Neste pedido, o primeiro, sente-se toda
a admiração de Jesus pela beleza e grandeza do Pai, e o desejo de que
todos o reconheçam e amem por aquilo que verdadeiramente é. E, ao mesmo
tempo, há a súplica que o seu nome seja santificado em nós, na nossa
família, na nossa comunidade, no mundo inteiro.
É Deus que santifica, que nos transforma
com o seu amor, mas ao mesmo tempo somos também nós que, com o nosso
testemunho, manifestamos a santidade de Deus no mundo, tornando presente
o seu nome (…).
A santidade de Deus é uma força em
expansão, e nós suplicamos para que rapidamente derrube as barreiras do
nosso mundo. Quando Jesus começa a pregar, o primeiro a pagar as
consequências é precisamente o mal que aflige o ser humano. Os espíritos
malignos imprecam: «Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos
arruinar? Eu sei quem Tu és: o santo de Deus». Nunca se tinha visto uma
santidade assim: não preocupada consigo própria, mas tendente para o
exterior. A santidade de Jesus alarga-se em círculos concêntricos, como
quando se lança uma pedra à água. O mal tem os dias contados, o mal não é
eterno, o mal já não pode fazer-nos mal: chegou o homem forte que toma
posse da sua casa (…).
A oração expulsa todo o temor. O Pai
ama-nos, o Filho ergue os braços ao lado dos nossos, o Espírito trabalha
em segredo para a redenção do mundo. Nós não vacilamos na incerteza.
Deus ama-me. Jesus deu a sua vida por mim. Uma coisa é certa: é o mal
que tem medo. E isto é belo.
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