Percebe-se
que efetivamente o tema família é um assunto à margem. E cuidar das suas
dificuldades e problemas é um não assunto, a não ser quando as questões são
económicas ou financeiras.
Mas quando se trata da estrutura base da sociedade,
e de uma sociedade sã, as politicas sobre família não existem. Tudo afeta a
família e tudo o que ataca a família destrói a sociedade.
Este
foi o exercício das XIV Jornada da Família: falar do que ninguém fala e entrar
nas periferias existenciais da família. Sim, falar das separações, da
reconciliação e do luto não é um assunto de parlamento. Ainda que se formulem
leis e se pense na sua implementação para o real interesse da família, estes
assuntos são relegados para o foro individual e familiar.
O Pe.
Jorge Vilaça, ao abordar o tema do luto, deixou bem claro que o luto não tem a
ver com pessoas mas sim com as expectativas ou os vínculos que se criam em
relação a pessoas, a coisas ou a opções de vida, e que passam pelo processo lento,
complexo, doloroso de perda. Este processo de desvinculação passa muitas vezes
pela revolta, pela raiva, pela negação... “Quem sou eu depois do que perdi?”
perguntou o P.e Jorge, responsável pelo Centro de Escuta e Acompanhamento
Espiritual da Arquidiocese de Braga. A resposta passa pela reconciliação e
perdão de mim mesmo e dos outros, não obstante a necessidade de tempo para
isso. Em várias circunstâncias tendemos a procurar receitas ou então a empurrar
o problema, fazendo como que uma “greve de existência”, deixando andar coisas
não resolvidas... Como bom exemplo de um processo de separação dos lutos, o P.e
Jorge apresentou o texto bíblico dos Discípulos de Emaús.
A Irmã
Federica Dotti ao abordar o tema da reconciliação recordou as palavras do Papa
Francisco: “A família não é um problema mas uma oportunidade”. Por isso apesar
da confusão de prioridades e dos estragos das crises não assumidas, a família é
uma esperança também hoje. E a esperança precisa de tempo, daquele tempo que é
maior do que o espaço. O pecado do nosso dias é privilegiar o espaço em vez do
tempo. Ora a reconciliação matrimonial ou qualquer outra reconciliação precisa
de tempo. Dar tempo é dar vida, é dar amor. Pois a reconciliação é um baptismo laborioso
que resulta num caminho de conversão para depois chegar ao perdão. E perdoar é
deixar o outro livre da dívida que tem para comigo. Perdoar não é não sofrer. O
perdão tem a força e a capacidade de curar as feridas. Para o efeito, nas
crises matrimoniais é importante um terceiro elemento. Alguém que se colocará
ao lado dos dois e os ajudará a viver o momento, aquele tempo de crise, para o
superar. Tal como no relato dos discípulos de Emaús, jesus se colocou ao do
daqueles dois homens em profunda crise. Este terceiro precisa ser alguém
especializado e preparado para o efeito. A arquidiocese predispõe de um serviço
de acompanhamento dos matrimónios em crise, com instrumentos e pessoas
preparadas para o acolhimento e discernimento. A Irmã Federica, sublinhou ainda
a importância de uma pastoral da reconciliação matrimonial.
O Sr.
Arcebispo de Braga, D. Jorge, concluiu a XIV Jornada da Família, suportado pelo
artigo de José António Saraiva, do suplemento do Sol, 9 de Fevereiro de 2019,
afirmando que não podemos continuar a lamentar-nos da violência doméstica
enquanto o tema família for relegado para o último lugar. Estão todos
preocupados com novas leis e mais pesadas para combater a violência doméstica,
mas ninguém parece interessado em cuidar da célula base da sociedade: a
Família. A violência doméstica é uma doença que tem a sua origem na
desestruturação da família. Por detrás de qualquer crime está sempre uma
família despedaçada. Ninguém parece querer falar da família. A esquerda por
ideologia, a direita por vergonha.
Poderíamos
dizer que esta jornada, que decorreu no dia 9 de fevereiro, no Centro Pastoral
de Sto. Adrião de Vila Nova de Famalicão, foi uma longa conversa sobre assuntos
que estão à margem dos diálogos políticos, familiares ou das conversas de
amigos. Mas tão fundamental para o futuro da sociedade.
Há catorze
anos que as equipas de pastoral familiar de Sto. Adrião e de São Martinho de
Brufe, tem assumido este risco da trazer a tema da família à comunidade e à
sociedade. E vamos continuar a fazê-lo.
P'las equipas de pastoral familiar organizadores: Sto. Adrião e São Martinho de Brufe
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