«O futuro é como o paraíso: todos os exaltam, mas ninguém quer ir agora para lá.»
Encontro esta curiosa consideração –
difícil, em todo o caso, de desmentir – num afro-americano hóspede de
uma família de amigos e que a cita da obra intitulada “Ninguém sabe o
meu nome”, de um escritor como ele negro e norte-americano, James
Baldwin (1924-1987), cantor dos direitos civis, das minorias, da
espiritualidade bíblica do bairro de Harlem em Nova Iorque e dos ritmos
dos “blues”.
Há uma verdade indiscutível nestas
palavras. Fala-se muito bem do paraíso, exalta-se outro mundo mais
justo, espera-se um ano melhor que o anterior, mas na verdade fica-se
plantado no hoje, nos interesses codificados, no pequeno horizonte
habitual, nos hábitos inamovíveis.
Entendamo-nos bem: é perigoso viver de
ilusões, tendo a mente e o coração inclinados apenas para um futuro
evanescente. Pode, com efeito, nascer uma espécie de alienação que causa
a renúncia em relação ao presente (e por vezes uma religiosidade mal
compreendida produziu efeitos deste género).
Mas é de igual modo arriscado extinguir
todo o desejo, eliminar todo o projeto, demolir toda a utopia, castigar a
espera, tombando num cruel realismo, feito apenas de cálculos e
vantagens imediatas.
É esta a escolha da pessoa tacanha e
egoísta, da sociedade sem grandes ideias, da política que se contenta
com a gestão do imediato, da pastoral que ignora os valores últimos e,
portanto, também o além e o paraíso.
Dito com as palavras de outro escritor
americano, Oliver Wendell Holmes, que viveu no século XIX, «a coisa mais
importante na vida não é tanto onde estamos, mas em que direção estamos
a ir».
[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]
IMISSIO
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