Mãe do Ruca, odeio-te!

Não tenho muita paciência para as outras mães, mas o meu ódio de estimação é mesmo a mãe do Ruca.

A mãe do Ruca nunca se zanga com ele! – disse-me um dia destes a minha filha.
Os meus filhos adoram ver o Ruca e eu não me importava, era a desculpa ideal para os ter sossegados enquanto eu preparava os banhos. Mas, agora tinha de perceber que raio de mãe é essa que nunca se zanga com o filho. Isso existe? Com os miúdos na escola, atirei-me às gravações automáticas, peguei no meu chocolate com avelãs e dediquei-me a uma maratona de Ruca.
O que descobri foi chocante: as avelãs do chocolate do Minipreço são enormes e quase me partiram os dentes.
Quanto à mãe do Ruca, odeio-a! Episódio após episódio, birra após birra, asneira após asneira, ela não grita, ela não altera o tom de voz e o pior que a ouvi dizer foi um “Oh fofinho”. A sério? Quem é que escreve estes diálogos?
A mãe do Ruca não ralha, a mãe do Ruca não castiga, a mãe do Ruca não se enerva. Mesmo quando ele parte a chávena preferida dela ou tira os brinquedos das mãos da irmã, ela explica-lhe o que fez de errado e ensina-lhe qual o comportamento correto. É a rainha da parentalidade positiva.
E também uma fada do lar do caraças. Mesmo sem empregada doméstica consegue ter a casa limpa e arrumada, a roupa lavada e passada, as refeições na mesa a horas, faz pizzas caseiras, bolos, sumos naturais, tem o jardim cuidado e apesar de ter uma filha bebé não vi indícios de privação do sono. E, espantem-se, ainda a apanhei num episódio ou outro, sentada calmamente a ler o jornal.
O lado negro: usa sempre a mesma roupa, não sabemos quantas vezes por semana toma banho, está quase sempre enfiada em casa, é incrivelmente parecida com o marido e aquele corte de cabelo com uma bandolete azul não lembra a ninguém. E, este é que estraga tudo, aquele tom de voz de dona de casa desesperada encharcada em compridos não engana ninguém, “oh fofinho”, “parece-me tão divertido ires saltar nas poças de lama”, “cuidado que te vais ferir”, “não te preocupes que a mamã limpa”, os risinhos. A minha conclusão é só uma: a mãe do Ruca está à beira de cortar os pulsos.
Resolvi meter tudo em pratos limpos quando fui buscar os miúdos à escola.
“- Sabes filha, a mãe do Ruca não existe. Pensa bem, ela tem sempre a casa arrumada e sem pedaços de bolacha espalhados pelos móveis, ela não grita, nem se enerva e o pior que diz ao Ruca quando ele faz birras tontas é “oh fofinho”, achas que é parecida comigo?”
A minha filha fez uma cara de quem percebeu que estava lixada e pediu para ver a Masha e o Urso.
Ainda bem.

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