Para que a gramática dos jovens não seja língua estrangeira para a Igreja

A linguagem das novas gerações «adquiriu novas gramáticas expressivas e por isso é necessário – como acontece para uma língua diferente – procurar conhecer a sua sintaxe, estilo e modalidades», considera o presidente do Conselho Pontifício da Cultura.

Ao comentar o sínodo dos bispos, que entre 3 e 28 de outubro debate no Vaticano, sob a presidência do papa Francisco, o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, o cardeal italiano Gianfranco Ravasi destaca que o idioma da juventude se exprime «sobretudo através de três formas».
«A primeira é a frase essencial», não subordinada e demasiado articulada; a segunda tem a ver com o recurso ao símbolo e à imagem, próprios dos ecrãs informáticos; e por fim manifesta-se através do virtual, que, «paradoxalmente», é uma realidade, na medida em que liga as pessoas.
O biblista recorda que Jesus já tinha usado as duas primeiras formas de linguagem utilizadas pelos jovens. Por um lado, «usa aquilo que os estudiosos e os exegetas chamam o “loghion”, ou seja, a frase essencial e sintética».
No original grego a expressão «“Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus», sobre a relação entre a fé e a política, «tem apenas 50 carateres», assinala.

«Os fóruns sociais são muitas vezes aterrorizantes porque a pessoa já deixou de estar na “dieta” normal da palavra, do significado e da mensagem, mas, ao contrário, fica totalmente envolvida neste novo horizonte»

A parábola, por seu lado, que Cristo usa «como interpelação», é como que uma «representação televisiva, visual, de um acontecimento que permite ao espetador entrar no interior desse horizonte». Outro traço distintivo da linguagem dos jovens é o virtual, pelo que a Igreja «deve, antes de tudo, reconhecer que a par da linguagem tradicional, há uma nova linguagem que não exclui a precedente, mas que é seguramente é dominante».
Ligada à informática, esta linguagem tem «limites ainda mais pesados do que a anterior», observa o prelado, que menciona o termo «info-obesidade» para falar do «uso excessivo do virtual», que pode tornar a pessoa «irreconhecível», especialmente quando se está perante a violência ou as notícias falsas.
«Os fóruns sociais são muitas vezes aterrorizantes porque a pessoa já deixou de estar na “dieta” normal da palavra, do significado e da mensagem, mas, ao contrário, fica totalmente envolvida neste novo horizonte», afirma.
D, Gianfranco Ravasi defende que a mensagem evangélica deve também exprimir-se no "idioma" dos jovens, à semelhança do que fez Paulo, «quando mudou a linguagem e os símbolos que eram próprios do Evangelho e do mundo judaico ao introduzir o grego e a reflexão».


Rui Jorge Martins
Fonte: Vatican News
Imagem: fizkes/Bigstock.com
Publicado em 06.10.2018

SNPC

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