Escolhemos (sempre!) quem se ama

As razões que a razão não admite
Isso de dizermos que não se escolhe quem se ama não é verdade. Escolhe! De forma atenta e com minúcia.
Hesitando e reflectindo; muitas vezes! Mas, se é assim, porque é que pomos o nosso melhor ar de vítimas e responsabilizamos o coração pelas trapalhadas que todos fazemos quando se trata de amar? Porque é que nos pomos num registo de: “Não somos nós... É o coração a fazer das suas”? Porque é que repetimos, como se fosse verdade, que “o coração tem razões que a razão não admite”? Porque é que, como quem acredita em fadas-madrinha, reclamamos que não somos nós quem escolhe o amor mas é o amor quem nos escolhe a nós? Porque somos muito bons a encontrar desculpas!
No amor, somos nós quem escolhe. De forma intuitiva, quase sempre. Às vezes, num impulso. Ou escolhendo a medo, com receio de mais ninguém nos querer. Ou deixando que nos escolham, escolhendo nós a preguiça de não escolher. Ou escolhendo - com a benevolência que todos temos, sempre que se ama - que nos leva a supor que transformamos, mesmo contra a sua vontade, as pessoas que escolhemos amar. Como se amar pelos dois fosse amar.
Escolhemos (sempre!) quem se ama. Às vezes, o que mais nos inquieta (a todos) é que, no meio de tantas escolhas “encolhidas”, escolhamos não amar. Ou, muitas vezes, escolhamos não reclamar o amor indispensável para nos sentirmos amados. Isto é, que escolhamos não escolher amar. Ou que, entre tudo aquilo que pode ser a nossa escolha, não escolhamos o amor a que temos direito. É isto que quer dizer que não se escolhe quem se ama: que se torna tão doloroso reconhecer que as nossas escolhas não nos orgulham ou só nos magoam que, no meio de tanta culpa, se torna mais “fácil” que seja o coração a pagar pelas razões de um amor que a nossa “razão” não admite ser responsabilidade sua. E é mau que seja assim..

Por Eduardo Sá

ES

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