Queridos jovens!
Obrigado pela vossa calorosa receção, os
vossos cânticos e os testemunhos de Lisbel, Tauri e Mirko. Agradeço as
palavras amáveis e fraternas do Arcebispo da Igreja Evangélica Luterana
da Estónia, Urmas Viilma, bem como a presença do Presidente do Conselho
das Igrejas da Estónia, o Arcebispo Andres Põder, a do Bispo D. Philippe
Jourdan, Administrador Apostólico da Estónia, e dos outros
representantes das diversas confissões cristãs presentes no país.
Agradeço também a presença da Senhora Presidente da República.
É sempre bom reunir-nos, partilhar
testemunhos da vida, expressar o que pensamos e queremos; e é muito bom
estarmos juntos, nós que cremos em Jesus Cristo. Estes encontros tornam
realidade o sonho de Jesus na Última Ceia: «Que todos sejam um só (…)
para que o mundo creia» (Jo 17, 21). Se fizermos esforço por nos vermos
como peregrinos que fazem o caminho juntos, aprenderemos a abrir com
confiança o coração ao companheiro de estrada, sem cultivar suspeitas
nem difidências, olhando apenas para aquilo que realmente procuramos: a
paz diante do rosto do único Deus. E, uma vez que a paz é artesanal, ter
confiança nos outros é também algo de artesanal, constitui uma fonte de
felicidade: «Felizes os pacificadores» (Mt 5, 9). E esta estrada, este
caminho, não o fazemos só com os crentes, mas com todos. Todos têm
qualquer coisa a dizer-nos; e nós, a todos, temos algo a dizer.
O grande quadro que se encontra na
abside desta igreja contém uma frase do Evangelho de São Mateus: «Vinde a
Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de
aliviar-vos» (Mt 11, 28). Vós, jovens cristãos, podeis identificar-vos
com alguns elementos deste texto do Evangelho.
Nas narrações anteriores, o evangelista
mostra-nos que Jesus tem vindo a acumular deceções. Primeiro, lamenta-Se
porque parece que, para aqueles a quem Se dirige, nada está bem (cf. Mt
11, 16-19). A vós, jovens, acontece muitas vezes que os adultos ao
vosso redor não sabem o que querem ou esperam de vós; ou, quando vos
veem muito felizes, ficam desconfiados; e, se vos veem angustiados,
relativizam o sucedido. Na consultação preliminar do Sínodo, que está
para se realizar e vai refletir sobre os jovens, muitos de vós pedem que
alguém vos acompanhe e compreenda sem julgar e saiba escutar-vos bem
como dar resposta às vossas questões (cf. Sínodo dedicado aos jovens,
Instrumentum laboris, 132). Às vezes, as nossas Igrejas cristãs – e
ousaria dizer todo o processo religioso estruturado institucionalmente –
carregam consigo atitudes nas quais nos é mais fácil falar, aconselhar,
propor a partir da nossa experiência, do que escutar, do que se deixar
interpelar e iluminar por aquilo que vós viveis. Muitas vezes, sem dar
por isso, as comunidades cristãs fecham-se e não escutam as vossas
inquietações. Sabemos que vós quereis e esperais «ser acompanhados, não
por um juiz inflexível nem por um pai receoso e superprotetor que gera
dependência, mas por alguém que não tem medo da sua própria fraqueza e
sabe fazer resplandecer o tesouro que guarda dentro de si, como num vaso
de barro (cf. 2 Cor 4, 7)» (Ibid., 142). Aqui, hoje, quero-vos dizer
que desejamos chorar convosco se estais a chorar, acompanhar com os
nossos aplausos e nossos sorrisos as vossas alegrias, ajudar-vos a viver
o seguimento do Senhor. Vós jovens, rapazes e moças, fixai isto: quando
uma comunidade cristã é verdadeiramente cristã não faz proselitismo.
Apenas escuta, acolhe, acompanha e caminha; mas não impõe nada.
Jesus queixa-Se também das cidades que
visitou, nelas realizando mais milagres e reservando-lhes maiores gestos
de ternura e proximidade, e lamenta a sua falta de perspicácia para
perceber que a mudança que lhes viera propor era urgente, não podia
esperar. Chega mesmo a dizer que são mais relutantes e cegos do que
Sodoma (cf. Mt 11, 20-24). E quando nós, adultos, nos fechamos a uma
realidade que é já um facto, dizeis-nos com ousadia: «Não o vedes?». E
alguns mais decididos têm a coragem de dizer: «Não vos dais conta de que
já ninguém vos escuta, nem crê em vós?». Verdadeiramente precisamos de
nos converter, de descobrir que, para estar ao vosso lado, devemos
derrubar muitas situações que, em última análise, são aquelas que vos
afastam.
Sabemos – assim no-lo dissestes vós –
que muitos jovens não nos pedem nada, porque não nos consideram
interlocutores significativos na sua existência. É triste, quando uma
Igreja, uma comunidade se comporta de tal maneira que os jovens pensem:
«Estes não me dirão nada que sirva para a minha vida». Antes, alguns
pedem expressamente para serem deixados em paz, sentem a presença da
Igreja como algo molesto e até irritante. Isto é verdade! Indignam-lhes
os escândalos económicos e sexuais contra os quais não veem uma clara
condenação, o não saber interpretar adequadamente a vida e a
sensibilidade dos jovens por falta de preparação, ou o papel
simplesmente passivo que lhes atribuímos (cf. Sínodo para os jovens,
Instrumentum laboris, 66). Estes são alguns dos vossos pedidos. Queremos
dar-lhes resposta, queremos ser – como vós mesmos dizeis – uma
«comunidade transparente, acolhedora, honesta, atraente, comunicativa,
acessível, alegre e interativa» (Ibid., 67), isto é, uma comunidade sem
medo. Os medos fecham-nos. Os medos impelem-nos a ser proselitistas. Mas
a fraternidade é coisa diferente: o coração aberto e o abraço fraterno.
Antes de chegar ao texto evangélico
gravado no cimo deste templo, Jesus começa por elevar um hino de louvor
ao Pai. Fá-lo porque Se dá conta de que aqueles que compreenderam,
aqueles que captam o centro da sua mensagem e da sua pessoa, são os
pequeninos, aqueles que têm a alma simples, aberta. E ao ver-vos assim
reunidos a cantar, maravilhado, uno-me à voz de Jesus, porque vós,
apesar da nossa falta de testemunho, continuais a descobrir Jesus dentro
das nossas comunidades. Pois sabemos que, onde está Jesus, há sempre
renovação, existe sempre a oportunidade de conversão, de deixar para
trás tudo o que nos separa d’Ele e dos nossos irmãos. Onde está Jesus, a
vida tem sempre sabor de Espírito Santo. Aqui, hoje, vós sois a
atualização daquela maravilha de Jesus.
Então digamos de novo «vinde a Mim,
todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos» (Mt
11, 28), mas digamo-lo convencidos de que, para além dos nossos
limites, das nossas divisões, Jesus continua a ser o motivo para
estarmos aqui. Sabemos que não há alívio maior do que deixar Jesus
carregar as nossas opressões. E sabemos também que há muitos que ainda
não O conhecem e vivem na tristeza e sem rumo. Há cerca de dez anos, uma
vossa cantora famosa dizia numa de suas canções: «O amor está morto, o
amor foi-se embora, o amor já não mora aqui» (Kerli Kõiv, O amor está
morto). Isso não, por favor! Façamos com que o amor permaneça vivo, e
todos nós devemos trabalhar por isso! E muitos são os que fazem esta
experiência: veem que acaba o amor dos seus pais, que se dissolve o amor
de casais recém-casados; sentem uma íntima tristeza, quando a ninguém
importa que tenham de emigrar à procura de trabalho ou quando se olha
para eles com desconfiança porque são estrangeiros. Dá a impressão que o
amor esteja morto – como dizia Kerli Kõiv –, mas sabemos que não é
assim; e temos uma palavra a dizer, algo para anunciar, com poucas
palavras e muitos gestos: é que vós sois a geração mais da imagem, a
geração mais da ação que da especulação, da teoria.
E isto é do agrado de Jesus, porque Ele
passou fazendo o bem e, na sua morte, preferiu o gesto forte da cruz às
palavras. Estamos unidos pela fé em Jesus, e Ele espera que O levemos a
todos os jovens que perderam o sentido da sua vida. E existe também para
nós, crentes, o risco de perder o sentido da vida. Isto acontece quando
nós, crentes, somos incoerentes. Acolhamos juntos a novidade de que o
próprio Deus traz Deus à nossa vida; uma novidade que incessantemente
nos impele a partir, para ir aonde se encontra a humanidade mais ferida;
aonde os homens, para além da aparência de superficialidade e
conformismo, continuam a buscar uma resposta para a questão do sentido
da sua vida. Mas nunca iremos sozinhos: Deus vem connosco; Ele não tem
medo, não tem medo das periferias; antes, Ele mesmo Se tornou periferia
(cf. Flp 2, 6-8, Jo 1, 14). Se tivermos a coragem de sair de nós mesmos,
dos nossos egoísmos, das nossas ideias fechadas, e ir às periferias,
encontrá-Lo-emos lá, porque Jesus nos precede na vida do irmão que sofre
e é descartado. Ele já está lá (cf. Exort. ap. Gaudete et exsultate,
135).
Rapazes e moças, o amor não está morto;
chama-nos e envia-nos. Pede apenas para abrirmos o coração. Peçamos a
força apostólica de levar o Evangelho aos outros – mas oferecendo-o, não
o impondo – e renunciar a fazer da nossa vida cristã um museu de
recordações. A existência cristã é vida, é futuro, é esperança! Não é um
museu. Deixemos que o Espírito Santo nos faça contemplar a história na
perspetiva de Jesus ressuscitado; assim a Igreja, assim as nossas
Igrejas serão capazes de continuar a acolher em si mesma as surpresas do
Senhor (cf. ibid., 139), recuperando a sua própria juventude, a alegria
e a beleza de que falava Mirko, da noiva que vai ao encontro do Senhor.
As surpresas do Senhor. O Senhor surpreende-nos, porque a vida sempre
nos surpreende. Continuemos para diante, ao encontro destas surpresas.
Obrigado!
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