Meus
caros pais e mães, colegas de infortúnio, tenho cada vez mais a certeza
de que levar os miúdos à missa é porventura a melhor educação que lhes
podemos dar. Não estou a falar de instrução, embora a missa não seja
despicienda nesse aspecto. Não é possível compreendemos a civilização
que criámos sem as leituras da Bíblia. Crente ou não crente, a Bíblia é
alta cultura. Mas hoje quero apenas falar de educação moral. Na odisseia
que é criar uma pessoa decente, entre o cinismo e a lamechice, a missa é
um degrau único.
Em primeiro lugar, a criança aprende ali a estar calada, o que espantoso nesta época de perpétua conversa; não há telemóvel falado ou escrito. Aprende o valor do silêncio e da introspecção numa época que mata o silêncio todos os dias. Estamos na Torre rodeados por neve e pelo silêncio da montanha, mas o bar tem a música em altos berros. Quando se pede para baixar, a resposta é, Não posso! A nossa atmosfera é esta, percebe? Não, não percebo. A igreja é cada vez mais o único espaço que educa para o silêncio.
Em segundo lugar, a criança aprende a controlar o seu perímetro físico. As minhas filhas às vezes estão chatas, não param quietas, mas pelo menos sabem que não podem sair daquele apertado círculo à nossa volta. No máximo, escondem-se debaixo do banco e por lá pintam cadernos que transformam o genuflexório numa mesa de pinturas. Sim, às vezes, é preciso pôr na ordem as senhoras-paroquianas-profundamente-devotas-e-que-acham-que-eu-sou-um-impuro-samaritano. Estas senhoras dizem que as crianças não devem fazer “coisas” na missa. Eu respondo, Então a sua solução é ter igrejas vazias? Está a conseguir, muitos parabéns!
Em terceiro lugar, a criança aprende na missa que não é o centro do mundo. Este é talvez o ponto central, porque vivemos numa sociedade que deu a soberania à criança. Ela cresce a pensar que tem uma gravidade especial e que tudo gira mesmo à sua volta, da televisão ao fim-de-semana dos pais. Ali, entre cânticos e incenso, ela percebe que afinal não tem a gravidade de Júpiter. Há um ritual para cumprir, um rito que é exterior à sua vontade. Mais importante do que o rito, aprende que há valores eternos que são mais importantes do que qualquer pessoa ou moda.
Em quarto lugar, percebe que há um mundo humano e analógico para lá dos ecrãs, um mundo que muitas vezes é diferente do seu. Sim, na Paz de Cristo, tem de dar um beijo a um estranho mesmo quando esse estranho é uma velhinha com um buço amazónico. Ó pai, aquela senhora pica! Pois pica, mas é tua irmã. Ó pai, aquele senhor velhinho tem um cheiro esquisito! Pois tem, mas é teu irmão. Jesus nasceu entre pessoas como esse cheiro.
Por Henrique Raposo
RENASCENÇA
Em primeiro lugar, a criança aprende ali a estar calada, o que espantoso nesta época de perpétua conversa; não há telemóvel falado ou escrito. Aprende o valor do silêncio e da introspecção numa época que mata o silêncio todos os dias. Estamos na Torre rodeados por neve e pelo silêncio da montanha, mas o bar tem a música em altos berros. Quando se pede para baixar, a resposta é, Não posso! A nossa atmosfera é esta, percebe? Não, não percebo. A igreja é cada vez mais o único espaço que educa para o silêncio.
Em segundo lugar, a criança aprende a controlar o seu perímetro físico. As minhas filhas às vezes estão chatas, não param quietas, mas pelo menos sabem que não podem sair daquele apertado círculo à nossa volta. No máximo, escondem-se debaixo do banco e por lá pintam cadernos que transformam o genuflexório numa mesa de pinturas. Sim, às vezes, é preciso pôr na ordem as senhoras-paroquianas-profundamente-devotas-e-que-acham-que-eu-sou-um-impuro-samaritano. Estas senhoras dizem que as crianças não devem fazer “coisas” na missa. Eu respondo, Então a sua solução é ter igrejas vazias? Está a conseguir, muitos parabéns!
Em terceiro lugar, a criança aprende na missa que não é o centro do mundo. Este é talvez o ponto central, porque vivemos numa sociedade que deu a soberania à criança. Ela cresce a pensar que tem uma gravidade especial e que tudo gira mesmo à sua volta, da televisão ao fim-de-semana dos pais. Ali, entre cânticos e incenso, ela percebe que afinal não tem a gravidade de Júpiter. Há um ritual para cumprir, um rito que é exterior à sua vontade. Mais importante do que o rito, aprende que há valores eternos que são mais importantes do que qualquer pessoa ou moda.
Em quarto lugar, percebe que há um mundo humano e analógico para lá dos ecrãs, um mundo que muitas vezes é diferente do seu. Sim, na Paz de Cristo, tem de dar um beijo a um estranho mesmo quando esse estranho é uma velhinha com um buço amazónico. Ó pai, aquela senhora pica! Pois pica, mas é tua irmã. Ó pai, aquele senhor velhinho tem um cheiro esquisito! Pois tem, mas é teu irmão. Jesus nasceu entre pessoas como esse cheiro.
Por Henrique Raposo
RENASCENÇA
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