Família: «A caixa dos brinquedos deve estar ao lado da caixa dos primeiros socorros» – D. José Tolentino Mendonça

 D. José Tolentino Mendonça pediu hoje (Fátima, 21 jul 2018) aos casais das Equipas de Nossa Senhora que cultivem a alegria e não esqueçam a “caixa de brinquedos” cheia de memórias e desencadeadora do espanto necessário todos os dias.

Recordando a sua experiência de acompanhamento de famílias e casais, o arcebispo saudou a presença da caixa dos brinquedos das crianças que, lamentou, à medida que crescem se arruma e dota a casa de uma “respeitabilidade normalizadora”.
“Começa uma estação nova sem as surpresas que antes desesperavam os pais: os jogos e os brinquedos que apareciam nos locais mais insólitos”.
Regista D. José Tolentino Mendonça que, primeiro, os pais respiram de alívio ao perceber que a casa “volta a estar apresentada, mas depois nem tanto; há uma hora que se percebe a falta que faz a caixa dos brinquedos”.
“Numa família, a caixa dos brinquedos deve estar ao lado da caixa dos primeiros socorros”, sublinhou naquela que foi a sua meditação final no encontro, esta manhã em torno do versículo «este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido», da Parábola do «Filho Pródigo».
A caixa dos brinquedos que “não serve para nada” e “dá tanto para viver” contem a arte de “fazer tempo, de perde-lo para que se torne mais nosso, permitindo a imaginação, o riso e a alegria”.
“É nesta caixa que estão as histórias disparatadas e sábias que contamos vida fora; é aqui que se conservam os odores, as palavras de uma canção que cantamos muitas vezes numa viagem de família; o silêncio da intimidade na casa, os passeios pela praia, as conversas à janela voltados para a noite; é nela que se encontram os símbolos, as brincadeiras, os risos distendidos, as férias, os jogos intermináveis à volta da mesa, a contemplação carinhosa sem outra finalidade”.
Quis o orador saber onde está e que uso tem dado, cada casal, à caixa dos brinquedos, enfatizando que “o essencial não são as coisas mas as pessoas”.
O arcebispo lamentou que na lista “dos deveres essenciais” de um casal ou família “a alegria” é esquecida, ficando relegada para “um desejo bonito que por vezes se realiza” e não como um “esforço deliberado”, que compromete.
“O pior que nos pode acontecer é investir numa vida acelerada, altamente produtiva, funcional, mas que perdeu a capacidade de espanto, a possibilidade da delicia, a ocasião do riso e do júbilo”, lamentou o arcebispo português, acrescentando que a vida não poder ser “uma máquina funcional, bem oleada, a reger-se de forma rotineira e burocrática”.
Mas a alegria, continuou D. José Tolentino Mendonça, não se reduz a um bem-estar, ou aos momentos de conforto emocional, mas é, fundamentalmente, “uma expressão profunda do ser que pode dar-se em todas as horas e estações”, e não apenas num “intervalo” ou em “momentos extraordinários”.
“Em vez de crescermos na severidade, na indiferença, no sarcasmo, na intransigência, no lamento, na solidão frente ao ecrã do telemóvel ou do computador, caminhemos esperançosamente ao encontro uns dos outros”.
 D. José Tolentino Mendonça pediu para se acreditar na alegria que nasce das coisas simples.
“Acreditemos no poder que tem a alegria que é um verdadeiro poder do Espírito Santo nas nossas vidas, no poder que a alegria tem de curar. Um simples sorriso é capaz de vencer distâncias, um abraço tem o poder de reintegrar, uma mesa aberta em festa perfuma de uma maneira inesquecível a nossa vida”.

LS

ECCLESIA

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