Nunca imaginei que este tema de gerir ausências tocasse tanta gente. Quando falei nisso no Instagram recebi dezenas e dezenas de mensagens a pedir que escrevesse sobre o tema.
Algumas notas prévias. Cada caso é uma caso e cada família é uma estrutura. Posso falar de mim, deixar algumas dicas, mas em cada casa há uma história e uma realidade. Por outro lado escrevo sobre ausências em contexto saudável, ou seja, sem outros problemas que a ausência irá pior. Se um pai ou um marido (uma mãe ou mulher) já é ausente mesmo que presente isso daria outro post que não este. Aqui vamos falar sobre ausências físicas e justificadas como o trabalho, uma viagem (de trabalho ou lazer).
A primeira vez que tive de lidar com a ausência, num formato mais porlongado e na função de mãe, o Gonçalo tinha 5 anos e o pai dele foi quase um mês para fora. Não era meu namorado, era “apenas” pai do meu filho – nessa altura filho único, e razão de todas as minhas angústias e sentimentos de falha. Foi nessa condição que, numa primeira sensação, pensei que a pobre criança iria ficar traumatizada e sofrer horrores.
Depois pensei: ele é pequenino, nem tem noção dos dias. Na verdade, os miúdos sentem as ausências à imagem daquilo que nós sentimos. Leiam outra vez: aquilo-que-nós-sentimos e não aquilo-que-nós-achamos-que-estamos-a-mostrar-que-sentimos.
Por isso se há alguma coisa para trabalhar é a forma como encaramos as ausências. Depois fica tudo mais fácil.
Se a viagem do outro a(o) incomoda, diga! Esta coisa de fazermos o que achamos que vai parecer bem só resulta em sofrimento: para quem esconde o que está sentir e para o outro que vai acabar por sentir o nosso desconforto quando estiver longe. A sua opinião pode não contar para nada e a viagem vai acontecer na mesma mas assim não há mal entendidos. Quando falo nesta necessidade de verbalizar nos workshops percebo que há muitas pessoas que não o conseguem fazer. Tentem escrever, tentem pensar nas palavras mais simples e sinceras, sem enrolar, sem inventar, sem minimizar e principalmente sem atacar.
Dica prática: escrevam aquilo que estão a sentir, sem crítica, sem acusações, digam aquilo que vocês sentem:”Custa-me que vás embora porque vou sentir saudades. Custa-me que vás embora porque me sinto sozinha(o). Não gosto quando estás longe…”
À distância também podemos comentar mas não é fácil. Neste ponto começo pelos miúdos. Digo-o porque é a minha opinião mas também porque conversei sobre gerir ausências com alguns especialista em que acredito. Atenção porque cada caso é um caso mas a maioria dos bebés e crianças não entendem a questão do pai ou da mãe estarem ao telemóvel. A voz, a imagem, sem poderem tocar. A história dos telefonemas e video chamadas pode ser um momento maravilhoso ou pode ser uma choradeira e um sentimento de frustração imenso. Nas tais três semanas de que vos falei, claro que o Gonçalo perguntou pelo pai. E, nesses momentos, fazias alguma coisa para lhe oferecer quando ele voltasse. Sabem quando ligamos e os miúdos não serem falar? Não é por mal, é protecção. Encontrem a forma de contacto que for mais serena para filhos e pai (ou mãe) ausente.
Em relação aos casais deixo uma única regra: não se discute quando não se pode fazer as pazes. E muito menos se discute por mensagens que não têm tom. Se vos apetece discutir escrevam! Quando o outro chegar voltam a ler e analisam se ainda é preciso falar desse assunto. E se existisse outra regra: não deixem que as saudades vos impeçam de dizer as saudades que sentem.
Dica prática: testem aquilo que funciona com os vossos filhos e com a vossa dinâmica de casal. Se gerar desconforto, não forcem. E tomem mesmo nota: não se discute quando não se pode fazer as pazes. Arranjem um diário de ausência e vão pondo as queixas. As coisas boas enviem e digam.
O outro não está. Não cobrem o impossível. Sabem ao final da tarde, quando há banhos para dar, jantar para preparar, o caos instalado? Sabem quando nos sentimos exaustas(os) e o outro está a chegar ao hotel/casa para tomar um duche e jantar fora? Sabem todos os nomes que nos apetece chamar-lhe??? Pois, eu sei, mas o outro não está. Querem que fique em video chamada a sofrer em solidariedade? Mesmo que vos apetece dizer que sim, não é isso que querem! Importante é ser presente quando está. Isso podem cobrar, ao vivo e a cores.
Quando sentimos essa raiva acabamos por transparecer para os miúdos. E são esses os momentos em que vamos reagir de forma menos positiva quando os miúdos expressam saudades.
Dica prática: inspira, expira.
Como mantemos a relação? A nossa e a dos pais ou mães ausentes com os miúdos. Partilhando. E aproveitando muito quando há presença. A partilha pode ser feita com fotos, vídeos, mensagens, enviadas nos momentos mais oportunos e com a calma para receber a resposta num outro momento que pode não ser imediato.
É preciso dizer que temos saudades. É preciso dizer que gostamos. É preciso aproveitar muito os momentos vividos a dois e em família. São bolsas de oxigénio fundamental para a sobrevivência das relações.
E é preciso, sem tabu, falar sobre isto: muitas vezes quem está ausente desliga. Já pensaram no sofrimento que seria estar sempre a sofrer pela família que ficou longe? Eu sei que, para quem fica, há a sensação que é tudo muito difícil. E é. E não tem mal dizer isso. “Sabes, hoje estou mesmo cansada.” Mas temos que pensar no outro. Estar longe também não é fácil. “Sabes, hoje estou mesmo cansada mas e tu? Como estás?”
A relação à distância ou em proximidade faz-se de não calarmos o que sentimos mas de darmos atenção e valor ao outro.
Se o outro está fora em trabalho podemos dizer como temos orgulho no esforço. Se a viagem até envolve lazer podemos dizer o quanto gostamos que esteja a divertir-se, o quanto também precisa de descanso. E obviamente que, quando voltar, vai ter que compensar para que possa descansar quem ficou!
Dica prática: nisto de gerir ausências sejam para o outro o que gostariam que acontecesse se fosse ao contrário. Reajam com os miúdos como queria que a outra pessoa reagisse se vocês estivessem longe.
Sem culpa. Esta é para quem está longe. Esta é para as mães que trabalham por turnos, que fazem longas viagens de trabalho, ou apenas para aquelas que estão a marcar uns dias longe dos filhos. Antes de sermos mães (pais), somos mulheres (e homens). É esse o exemplo que damos aos nossos filhos: pessoas trabalhadoras, com mundo, com interesses. Também podemos estar presentes 24horas todos os dias e sermos uma referência. Somos como somos e importante é estar atento e vivermos tempo de qualidade. Para quem está ausente é muito duro mas não é traumatizante para os miúdos. Na verdade serão tão natural para eles quanto for para nós.
Dica prática: observem exemplos de normalidade e felicidade de miúdos que os pais estão nestas situações. Eu, por exemplo, fui para o infantário aos três meses e nunca senti os meus pais ausentes.
Algumas notas prévias. Cada caso é uma caso e cada família é uma estrutura. Posso falar de mim, deixar algumas dicas, mas em cada casa há uma história e uma realidade. Por outro lado escrevo sobre ausências em contexto saudável, ou seja, sem outros problemas que a ausência irá pior. Se um pai ou um marido (uma mãe ou mulher) já é ausente mesmo que presente isso daria outro post que não este. Aqui vamos falar sobre ausências físicas e justificadas como o trabalho, uma viagem (de trabalho ou lazer).
A primeira vez que tive de lidar com a ausência, num formato mais porlongado e na função de mãe, o Gonçalo tinha 5 anos e o pai dele foi quase um mês para fora. Não era meu namorado, era “apenas” pai do meu filho – nessa altura filho único, e razão de todas as minhas angústias e sentimentos de falha. Foi nessa condição que, numa primeira sensação, pensei que a pobre criança iria ficar traumatizada e sofrer horrores.
Depois pensei: ele é pequenino, nem tem noção dos dias. Na verdade, os miúdos sentem as ausências à imagem daquilo que nós sentimos. Leiam outra vez: aquilo-que-nós-sentimos e não aquilo-que-nós-achamos-que-estamos-a-mostrar-que-sentimos.
Por isso se há alguma coisa para trabalhar é a forma como encaramos as ausências. Depois fica tudo mais fácil.
Se a viagem do outro a(o) incomoda, diga! Esta coisa de fazermos o que achamos que vai parecer bem só resulta em sofrimento: para quem esconde o que está sentir e para o outro que vai acabar por sentir o nosso desconforto quando estiver longe. A sua opinião pode não contar para nada e a viagem vai acontecer na mesma mas assim não há mal entendidos. Quando falo nesta necessidade de verbalizar nos workshops percebo que há muitas pessoas que não o conseguem fazer. Tentem escrever, tentem pensar nas palavras mais simples e sinceras, sem enrolar, sem inventar, sem minimizar e principalmente sem atacar.
Dica prática: escrevam aquilo que estão a sentir, sem crítica, sem acusações, digam aquilo que vocês sentem:”Custa-me que vás embora porque vou sentir saudades. Custa-me que vás embora porque me sinto sozinha(o). Não gosto quando estás longe…”
À distância também podemos comentar mas não é fácil. Neste ponto começo pelos miúdos. Digo-o porque é a minha opinião mas também porque conversei sobre gerir ausências com alguns especialista em que acredito. Atenção porque cada caso é um caso mas a maioria dos bebés e crianças não entendem a questão do pai ou da mãe estarem ao telemóvel. A voz, a imagem, sem poderem tocar. A história dos telefonemas e video chamadas pode ser um momento maravilhoso ou pode ser uma choradeira e um sentimento de frustração imenso. Nas tais três semanas de que vos falei, claro que o Gonçalo perguntou pelo pai. E, nesses momentos, fazias alguma coisa para lhe oferecer quando ele voltasse. Sabem quando ligamos e os miúdos não serem falar? Não é por mal, é protecção. Encontrem a forma de contacto que for mais serena para filhos e pai (ou mãe) ausente.
Em relação aos casais deixo uma única regra: não se discute quando não se pode fazer as pazes. E muito menos se discute por mensagens que não têm tom. Se vos apetece discutir escrevam! Quando o outro chegar voltam a ler e analisam se ainda é preciso falar desse assunto. E se existisse outra regra: não deixem que as saudades vos impeçam de dizer as saudades que sentem.
Dica prática: testem aquilo que funciona com os vossos filhos e com a vossa dinâmica de casal. Se gerar desconforto, não forcem. E tomem mesmo nota: não se discute quando não se pode fazer as pazes. Arranjem um diário de ausência e vão pondo as queixas. As coisas boas enviem e digam.
O outro não está. Não cobrem o impossível. Sabem ao final da tarde, quando há banhos para dar, jantar para preparar, o caos instalado? Sabem quando nos sentimos exaustas(os) e o outro está a chegar ao hotel/casa para tomar um duche e jantar fora? Sabem todos os nomes que nos apetece chamar-lhe??? Pois, eu sei, mas o outro não está. Querem que fique em video chamada a sofrer em solidariedade? Mesmo que vos apetece dizer que sim, não é isso que querem! Importante é ser presente quando está. Isso podem cobrar, ao vivo e a cores.
Quando sentimos essa raiva acabamos por transparecer para os miúdos. E são esses os momentos em que vamos reagir de forma menos positiva quando os miúdos expressam saudades.
Dica prática: inspira, expira.
Como mantemos a relação? A nossa e a dos pais ou mães ausentes com os miúdos. Partilhando. E aproveitando muito quando há presença. A partilha pode ser feita com fotos, vídeos, mensagens, enviadas nos momentos mais oportunos e com a calma para receber a resposta num outro momento que pode não ser imediato.
É preciso dizer que temos saudades. É preciso dizer que gostamos. É preciso aproveitar muito os momentos vividos a dois e em família. São bolsas de oxigénio fundamental para a sobrevivência das relações.
E é preciso, sem tabu, falar sobre isto: muitas vezes quem está ausente desliga. Já pensaram no sofrimento que seria estar sempre a sofrer pela família que ficou longe? Eu sei que, para quem fica, há a sensação que é tudo muito difícil. E é. E não tem mal dizer isso. “Sabes, hoje estou mesmo cansada.” Mas temos que pensar no outro. Estar longe também não é fácil. “Sabes, hoje estou mesmo cansada mas e tu? Como estás?”
A relação à distância ou em proximidade faz-se de não calarmos o que sentimos mas de darmos atenção e valor ao outro.
Se o outro está fora em trabalho podemos dizer como temos orgulho no esforço. Se a viagem até envolve lazer podemos dizer o quanto gostamos que esteja a divertir-se, o quanto também precisa de descanso. E obviamente que, quando voltar, vai ter que compensar para que possa descansar quem ficou!
Dica prática: nisto de gerir ausências sejam para o outro o que gostariam que acontecesse se fosse ao contrário. Reajam com os miúdos como queria que a outra pessoa reagisse se vocês estivessem longe.
Sem culpa. Esta é para quem está longe. Esta é para as mães que trabalham por turnos, que fazem longas viagens de trabalho, ou apenas para aquelas que estão a marcar uns dias longe dos filhos. Antes de sermos mães (pais), somos mulheres (e homens). É esse o exemplo que damos aos nossos filhos: pessoas trabalhadoras, com mundo, com interesses. Também podemos estar presentes 24horas todos os dias e sermos uma referência. Somos como somos e importante é estar atento e vivermos tempo de qualidade. Para quem está ausente é muito duro mas não é traumatizante para os miúdos. Na verdade serão tão natural para eles quanto for para nós.
Dica prática: observem exemplos de normalidade e felicidade de miúdos que os pais estão nestas situações. Eu, por exemplo, fui para o infantário aos três meses e nunca senti os meus pais ausentes.
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