Ainda falta tanto para não nos faltar nada!

Falta-nos tranquilidade a cada dia.


Falta-nos tempo. Vontade. Impulso. Motivação.

Falta-nos andar de cabeça erguida e sentir orgulho pelo caminho percorrido.

Falta-nos a luz que o sol não dá. Nem as estrelas.

Falta-nos a coragem para cortar com o que é venenoso e nos adoece. Ou com quem é venenoso e nos adoece.

Falta-nos a leveza e a frescura das coisas bem-feitas. Bem ditas. Feitas por bem e com bondade.

Falta-nos não ter vergonha das nossas asas, dos nossos voos, das nossas certezas, das nossas loucuras, dos nossos erros, dos nossos finais mais ou menos felizes.

Falta-nos imenso. Falta-nos o mundo inteiro. Falta-nos sempre tanto mesmo quando não nos falta nada. Somos reféns de uma inquietação por justificar. Queremos que nos aconteçam episódios emocionantes mas, quando acontecem, não sabemos beber (com entusiasmo) a alegria e a emoção de cada coisa.

Falta-nos imenso. Tanto. Falta-nos tudo. Somos peixes que querem aprender a voar e pássaros que querem aprender a nadar. Somos luas que querem dar brilho aos dias e somos sóis que querem iluminar as noites. Somos setas que apontam na direção de coisa nenhuma. Bússolas que não se orientam por nenhum Norte. Mapas de rios e ruas desencontrados.

Falta sossegar. Encontrar lugar para o essencial. Descalçar os dias de todas as pressas e estupidezes. Falta respirar fundo. Falta amanhecer. Falta dar mais mergulhos no mar. Ou no rio. Ou noutra qualquer água que nos apazigue o coração. Vale mais parar. Vale mais abrandar. O coração não é um conta-quilómetros.

A vida também não.

Por Marta Arrais

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