Todas as questões fracturantes que a sociedade ocidental tem vindo a
debater, como o aborto, a eutanásia, as barrigas de aluguer ou a
procriação medicamente assistida, devem ser enquadradas nos conceitos de
“dominar” e “cuidar”, bem ao jeito da narrativa da criação no Livro do
Génesis, onde Deus mandou o homem dominar sobre os animais e cuidar da
vida humana.
Notemos como uma certa cultura ecológica nos alerta e comove quando apresenta espécies animais em extinção. Quando se organizam manifestações e campanhas para a defesa do panda, do rinoceronte branco, do jacaré. Ou quando luta contra as touradas e a caça como desporto.
Mas quando da espécie animal se passa para a espécie humana, a lógica do respeito pela natureza muda radicalmente. Quase parecendo que o direito à vida diga respeito apenas aos pandas, aos rinocerontes, aos jacarés ou aos touros, mas não aos seres humanos, mesmo que ainda não tenham nascido ou que vivam situações de grande sofrimento.
Esta cultura ecológica, aos animais bebés, tartarugas, pandas, etc., tudo faz para que sejam recolhidos, amorosamente tratados, alimentados e defendidos, antes de serem postos novamente em liberdade nos seus habitats naturais. Mas para os bebés humanos, parece que se torna válida aquela “licença de caça” que para os animais se procura impedir.
É possível que a ética cristã no passado tenha dado pouca atenção ao mundo animal e vegetal, absolutizando a atenção ao ser humano como centro do universo. Porém, este facto não autoriza que a atual situação seja precisamente o contrário, em que se absolutiza o mundo animal e vegetal em detrimento da natureza humana.
Diante da dialética da “cultura do domínio” e da “cultura do cuidar”, o conceito de limite deve inspirar toda a legislação e ação humana para que a vida humana não seja objeto de experimentações de modo a que tudo o que seja factível possa ser feito e tudo o que possa ser experimentável possa ser experimentado.
Seria contraditório que na nossa sociedade se produzisse legislação que favorece as espécies animais e vegetais e legislação que mortifica a vida humana. Infelizmente não estamos muito longe disso!
Por P.e José Carlos Nunes
Comentários
Enviar um comentário