«Devemos ser leitores puros que lêem para ler, que sabem ler e
lêem simplesmente. Homens que lêem uma obra só para a ver e compreender,
só para a ler e acolhê-la, para alimentar-se e nutrir-se, como de um
alimento precioso para crescer, para adquirir valor, interiormente,
organicamente.»
Homens que sabem ler e sabem o que significa ler, isto é,
penetrar dentro de uma obra. Muitas vezes fazer-me uma pergunta ingénua:
mas o senhor lê todos os livros que lê ou cita?
Ler é uma arte que se aprende com um pouco de paixão pessoal,
compromisso e exercício, mas também com uma predisposição de partida,
com um dote da natureza. E esta arte compreende a capacidade de
percorrer o texto com inteligência, sem o pedantismo de quem segue de
forma mecânica, linha por linha, sem gradações e capacidades
intuitivas.
Trata-se de uma arte cada vez mais abandonada nos nossos dias
televisivos, confiados ao imediatismo das imagens, à superficialidade da
piada, à banalidade da tagarelice.
Charles Péguy (1873-1914), poeta francês, recorda-nos com as
palavras que citei acima, quão importante é a leitura que «penetra
dentro de uma obra», a leitura autêntica que é o nutrimento da alma
("nutrimentum spiritus", lia-se no frontão de antigas bibliotecas.
Estilo e enredo, imagens e descrições estão - nas obras de valor
- intimamente entrelaçadas com a mensagem, e é por isso que sabem
conquistar fantasia e pensamento, emoção e vontade.
É claro que nem todos os livros são assim, muitas são as páginas
só para folhear, outras até a serem evitadas. Mas nos nossos dias é
necessário voltar a ler e a reflectir, a compreender e a acolher dentro
de si uma mensagem, na pacatez da verdadeira leitura.
P. (Card.) Gianfranco Ravasi
In Avvenire
Trad.: SNPC
Imagem: diy13/Bigstock.com
Publicado em 24.04.2018
In Avvenire
Trad.: SNPC
Imagem: diy13/Bigstock.com
Publicado em 24.04.2018
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