Um homem morre por nós, a pena que seria nossa, assume-a ele. Ama-nos de tal forma que nem nós conseguimos compreender bem o porquê, pois não somos dignos de algo tão grande.
O que ouves quando falas? Apenas o que tu próprio dizes.
O que pretendes escutar quando rezas? Apenas o que tu próprio dizes?
Para escutar é preciso silêncio. A verdade murmura. Para a ouvir, importa esvaziarmo-nos de todas as distrações.
A verdade diz-se em silêncio. A presença de alguém é a sua verdade
mais sólida. Amar é escolher estar e decidir ser,ali, com aquela pessoa.
Sem grandes palavras.
O silêncio é uma arma poderosa na relação com o próximo. É capaz de
ser uma espada afiada com que defendemos o bem, mas também um
instrumento eficaz do mal. Importa saber usar o silêncio na certeza de
que a nossa vida é uma missão a cumprir, por obras e não por palavras.
Por vezes, falta-nos a fé e queremos, a todo o custo, amar por
palavras. Como se isso fosse importante, ou sequer possível. O amor que é
capaz de se colocar em palavras não é autêntico. As palavras são muito
pequenas e demasiado duras. O amor puro é grande e cheio de vida. Só o
silêncio o diz. Sendo que é também no silêncio que se costuma ocultar.
Diante do sofrimento, o que podemos dizer? Tudo. Mas o melhor mesmo é
não dizer nada e cuidar do que estiver ao nosso alcance. Escutar a dor.
Empenhando-nos em estar abertos aos significados profundos que a dor
possa ter, apesar de não os podermos compreender. Quem sofre não quer
discursos, quer a verdade mais clara: a paz que é amor. Por vezes, quer
partilhar a sua dor connosco… e isso, apesar de ser duro, está ao nosso
alcance.
Um homem morre por nós, a pena que seria nossa, assume-a ele. Ama-nos
de tal forma que nem nós conseguimos compreender bem o porquê, pois não
somos dignos de algo tão grande. Desconfiamos da verdade, preferimos
uma história qualquer que não nos comprometa de forma tão absoluta. Nos
silêncios diante de tudo isto… navegamos pelas nossas dores, sofrendo um
pouco, como se os nossos sofrimentos fossem maiores do que os daquele
que entregou a sua vida por nós.
Em alguns momentos, nos silêncios puros entre todo o ruído dos nossos
pensamentos, há uma escuridão enorme de onde nasce uma luz… que não se
vê, mas ilumina. Que não se escuta, mas é o caminho.
Quando rezamos, devemos entregar-nos. Abdicando de todos os pequenos
egoísmos em favor do que está diante de nós, amando-o. Sem grandes
palavras.
O silêncio é mais do que um deserto. É uma montanha por onde se sobe com paciência e, em paz, se escuta Deus.
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