Mulheres
Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.
Elas cantam quando querem chorar.
Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.
Elas lutam por aquilo em que acreditam.
Elas levantam-se contra a injustiça.
Elas não aceitam um “não” como resposta quando
acreditam que existe melhor solução.
(...)
© Pablo Neruda
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A Luz que Vem das Pedras
A luz que vem das
pedras, do íntimo da pedra,
tu a colhes, mulher, a
distribuis
tão generosa e à
janela do mundo.
O sal do mar percorre
a tua língua;
não são de mais em ti
as coisas mais.
Melhor que tudo, o voo
dos insetos,
o ritmo noturno do
girar dos bichos,
a chave do momento em
que começa o canto
da ave ou da cigarra
— a mão que tal
comanda no mesmo gesto fere
a corda do que em ti
faz acordar
os olhos densos de
cada dia um só.
Quem está salvando
nesta respiração
boca a boca real com o
universo?
© Pedro Tamen
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MULHERES À BEIRA – MAR
Confundindo os seus cabelos com os cabelos do vento,
têm
o corpo feliz de ser tão seu e tão denso em plena liberdade.
o corpo feliz de ser tão seu e tão denso em plena liberdade.
Lançam os braços pela
praia fora e a brancura dos seus pulsos
penetra nas espumas.
penetra nas espumas.
Passam aves de asas agudas e a curva dos seus olhos
prolonga
o interminável rastro no céu branco.
o interminável rastro no céu branco.
Com a boca colada ao horizonte aspiram longamente a
virgindade de um mundo que nasceu.
virgindade de um mundo que nasceu.
O extremo dos seus dedos toca o sino de delícia e
vertigem
onde o ar acaba e começa.
onde o ar acaba e começa.
E aos seus ombros cola-se uma alga, feliz de ser tão
verde.
© Sophia de Mello Breyner Andresen
Lembrança
Fui Essa que nas ruas
esmolou
E fui a que habitou Paços Reais;
No mármore de curvas ogivais
Fui Essa que as mãos pálidas poisou...
Tanto poeta em versos me cantou!
Fiei o linho à porta dos casais...
Fui descobrir a Índia e nunca mais
Voltei! Fui essa nau que não voltou...
Tenho o perfil moreno, lusitano,
E os olhos verdes, cor do verde Oceano,
Sereia que nasceu de navegantes...
Tudo em cinzentas brumas se dilui...
Ah, quem me dera ser Essas que eu fui,
As que me lembro de ter sido... dantes!...
© Florbela Espanca
E fui a que habitou Paços Reais;
No mármore de curvas ogivais
Fui Essa que as mãos pálidas poisou...
Tanto poeta em versos me cantou!
Fiei o linho à porta dos casais...
Fui descobrir a Índia e nunca mais
Voltei! Fui essa nau que não voltou...
Tenho o perfil moreno, lusitano,
E os olhos verdes, cor do verde Oceano,
Sereia que nasceu de navegantes...
Tudo em cinzentas brumas se dilui...
Ah, quem me dera ser Essas que eu fui,
As que me lembro de ter sido... dantes!...
© Florbela Espanca
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Mulher
O que os olhos das mulheres
dizem
tem o suspiro das feridas ligeiramente encobertas
com o nevoeiro das promessas.
O que os seus braços abraçam
são as opções de todas as batalhas femininas.
A suas bocas não falam só de amor
gritam enquanto se batem nesta selva.
Lá fora as crianças carregam sorrisos em bombas por explodir
e as mães lavam o sangue na areia onde as vergaram.
O medo não tem direito a beijos, nem a lágrimas apressadas
por isso as mulheres guardam-nos em cada ruga, em cada poro.
Sabem tudo mas engasgam as palavras porque o vento as devolve
por vezes em látegos de dor.
Amam na raiva e na meiguice. Estão no lado errado da lua
mas a luz explode nelas.
Intrometem-se, polinizam, abandonam-se e embriagam-se de amor.
Fecham as asas da crença mas intrépidas soltam-nas em alto voo.
Para falar de amor, as mulheres ajoelham-se como quem reza
porque dentro delas há sempre sonhos por cumprir.
tem o suspiro das feridas ligeiramente encobertas
com o nevoeiro das promessas.
O que os seus braços abraçam
são as opções de todas as batalhas femininas.
A suas bocas não falam só de amor
gritam enquanto se batem nesta selva.
Lá fora as crianças carregam sorrisos em bombas por explodir
e as mães lavam o sangue na areia onde as vergaram.
O medo não tem direito a beijos, nem a lágrimas apressadas
por isso as mulheres guardam-nos em cada ruga, em cada poro.
Sabem tudo mas engasgam as palavras porque o vento as devolve
por vezes em látegos de dor.
Amam na raiva e na meiguice. Estão no lado errado da lua
mas a luz explode nelas.
Intrometem-se, polinizam, abandonam-se e embriagam-se de amor.
Fecham as asas da crença mas intrépidas soltam-nas em alto voo.
Para falar de amor, as mulheres ajoelham-se como quem reza
porque dentro delas há sempre sonhos por cumprir.
© Margarida Piloto Garcia
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Se virmos a realidade, as mulheres são mais sólidas, mais objetivas, mais
sensatas. Para nós, são opacas: olhamos para elas, mas não conseguimos entrar
lá dentro. Estamos tão empapados de uma visão masculina, que não entendemos. Em
contrapartida, para as mulheres nós somos transparentes. O que me preocupa é
que, quando a mulher chega ao poder, perde isso tudo.
©José Saramago
Dá a surpresa de ser
Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
Faz bem só pensar em ver
Seu corpo meio maduro.
Seus seios altos parecem
(Se ela tivesse deitada)
Dois montinhos que amanhecem
Sem Ter que haver madrugada.
E a mão do seu braço branco
Assenta em palmo espalhado
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.
Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Meu Deus, quando é que eu embarco?
Ó fome, quando é que eu como?
© Fernando Pessoa
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Aleluia
Era a mulher — a mulher nua e bela,
Sem a impostura inútil do vestido
Era a mulher, cantando ao meu ouvido,
Como se a luz se resumisse nela...
Mulher de seios duros e pequenos
Com uma flor a abrir em cada peito.
Era a mulher com bíblicos acenos
E cada qual para os meus dedos feito.
Era o seu corpo — a sua carne toda.
Era o seu porte, o seu olhar, seus braços:
Luar de noite e manancial de boda,
Boca vermelha de sorrisos lassos.
Era a mulher — a fonte permitida
Por Deus, pelos Poetas, pelo mundo...
Era a mulher e o seu amor fecundo
Dando a nós, homens, o direito à vida!
© Pedro Homem de Mello
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