O
IV Ciclo de Conferências “Nova Ágora” terminou ontem, dia 16 de Março, e
nem o frio que se fez sentir impediu os “Olhares sobre o Envelhecimento
e Qualidade de Vida” de lotarem novamente o Espaço Vita.
A noite contou com o contributo do
Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José Vieira da
Silva, do fundador do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da
Universidade do Porto, Manuel Sobrinho Simões, e do Coordenador da
reforma do Serviço Nacional de Saúde (Cuidados Continuados Integrados),
Manuel Lopes. A moderação esteve a cargo de Conceição Lino, jornalista
da SIC.
Depois da actuação do Coro Teresiano, o Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, subiu ao palco para o discurso de encerramento.
“Urge construir, com a colaboração de todos, uma sociedade onde a qualidade de vida não seja apenas um privilégio de alguns. A qualidade de vida é um bem universal. Importa, por isso, lançar o nosso olhar às periferias urbanas, assim como às aldeias mais recônditas. Que “nação valente, imortal” é esta que sonha em “levantar hoje de novo o esplendor de Portugal” e tem medo de tocar a miséria dos mais frágeis, que olha apenas e só para o seu bem-estar e descarta as suas responsabilidades?”, questionou.
O prelado explicou que a qualidade de vida, de forma integral, só
acontece quando são consideradas as várias carências das pessoas, como
as materiais e espirituais. Sobre estas últimas afirmou que são as mais
complicadas, carecem de uma abordagem delicada. “O equilíbrio entre o
corpo, a alma e o espírito é absolutamente necessário para uma qualidade
de vida sustentada. E, neste domínio, a Igreja Católica pode e deve ter
uma voz activa”, sublinhou.
D. Jorge Ortiga afirmou ainda que o panorama português é complexo e nem sempre tem as respostas sociais mais adequadas.
“Preocupa-nos a qualidade de vida mas também a qualidade do envelhecimento, ou seja, a garantia de uma vida com sentido, com beleza e com segurança. Falar em envelhecimento activo não é suficiente se não se olha para o todo da vida da pessoa. Desde o nascimento ao ocaso, deve ter-se sempre a preocupação por um equilíbrio entre a dimensão material e espiritual da vida”, adiantou.
O Ministro José Vieira da Silva foi o primeiro a subir ao palco nesta
noite, explicando de imediato que o envelhecimento e a qualidade de
vida constituem um dos grandes temas da actualidade, ou o maior da
sociedade.
"O INE prevê que o número de idosos passará de 2,1 para 2,8 milhões em 2080. São números que nos mostram uma sociedade em transformação profunda, com um duplo envelhecimento: no aumento da esperança de vida e numa queda crescente, intensa, da natalidade. Mas é preciso ver que estas projecções assentam em critérios mutáveis e que dependem muito das opções das comunidades, dos países, das opções que todos nós tomarmos sobre o nosso futuro", começou por dizer.
José Vieira da Silva fez uma espécie de interregno no discurso para explicar que aprecia a palavra "velho", tendo esta já sido positivamente referida em várias sociedades. "Estou também a referir-me a mim próprio", brincou.
"Velhos somos todos! Em que sentido? A parte da população que daqui a vinte anos vai estar envelhecida é constituída por todos nós! Não há uma clonagem dos idosos, o que se passa é que eles estão entre nós, nós é que estaremos lá. Não são aliens nem estrangeiros, somos nós que vamos fazer parte dessa realidade. E se a queremos mudar, é bom que comecemos a agir agora. A agir precocemente! Agir agora para que as transições sejam feitas de forma mais positiva, mais saudável, mais feliz, se possível", apelou.
O deputado insistiu na ideia de todas as pessoas já fazerem parte da referida comunidade que está a envelhecer e explicou que o processo de envelhecimento, além das inerentes coisas boas, também tem outras "menos boas", como o facto de a maioria das famílias não ter tantos filhos como gostaria. De novo afirmou falar de cenários possíveis, que "não têm efectivamente de ser assim".
"O mercado de trabalho pode e deve adaptar-se aos mais velhos. Temos
quase 1,5 milhões de pessoas em idade activa que não têm uma
contribuição para a economia formal. Esta é uma almofada que não estamos
a aproveitar, estamos a falar de pessoas que provavelmente não estão a
contribuir como poderiam para o bem comum de todos. Tem que haver melhor
emprego em termos de salários e de estabilidade. Podemos resolver todos
os outros problemas, mas se não resolvermos este défice de
estabilidade, dificilmente caminharemos para o que as pessoas querem,
ter uma família alargada", reiterou.
O Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social defendeu também uma tríade para um bom envelhecimento: eliminar barreiras, garantir incentivos, aprender ao longo da vida. Esta conjugação deve levar a um envelhecimento com dignidade, ideia patente na Declaração de Lisboa sobre o Envelhecimento Activo que irá guiar os governos europeus durante os próximos cinco anos.
"Temos uma sociedade que deixou de evoluir por estágios, por patamares, e passou a fazê-lo de escada rolante. Durante uns trezentos anos mudávamos e depois estabilizávamos durante décadas, quase séculos, e depois dávamos outro salto, outra ruptura. Agora é mais como uma escada rolante, sempre a andar", defendeu.
Foi com o exemplo do Japão, que protelou a idade de jubilação para os 80 anos, que José Vieira da Silva deu por concluída a sua intervenção.
"Não basta acrescentar anos de vida às pessoas se não realizarmos o potencial que esses anos significam. É um pouco como as crianças [Coro Teresiano] cantavam há pouco: o melhor de nós ainda está para vir…", concluiu.
"Agora fiquei enternecidíssimo porque eu acabei de me jubilar aos 70,
tenho imensa pena de não ser japonês", começou por brincar Manuel
Sobrinho Simões, para logo de seguida corroborar o gosto do Ministro do
trabalho pela palavra "velho ou velhinho".
"Estamos a viver um aumento enorme de doenças como a obesidade, a diabetes, a hipertensão, a SIDA, a tuberculose, o cancro, a depressão, as doenças neurodegenerativas. O envelhecimento não é uma doença, de forma alguma, mas feliz ou infelizmente o envelhecimento aumenta imenso as chatices associadas a essas doenças. Há aqui um ciclo vicioso horroroso", lamentou.
De seguida, o médico apontou a obesidade como a grande pandemia do século XXI, algo em que "infelizmente Portugal é um exemplo terrível", já que exibe das piores taxas em toda a Europa de obesidade, diabetes, hipertensão e insuficiência renal, quer em adultos, quer em crianças. Os genes foram afastados desta equação pelo especialista, que indicou a alimentação e estilo de vida como os agentes potenciadores deste quadro.
"O envelhecimento é um processo patológico? Não, não há nada mais biológico do que envelhecer! Todos nós começamos a envelhecer desde que fomos um ovo na barriga das nossas mães. Não há nada mais fisiológico do que envelhecer. Se estas doenças civilizacionais apareceram nos últimos 60 anos, nós não mudamos nada em termos genéticos nesse tempo, os genes são os mesmos. A mudança deve-se a factores ambientais. Temos os genes que temos e pronto! Em geral somos todos muito parecidos uns com os outros. Temos é que ter cuidado com a alimentação e o estilo de vida, isso faz a diferença. E isto começa logo ao nascer e nas primeiras idades. Só podemos começar a preparar uma velhice com qualidade de vida se começarmos a fazer isso desde crianças, aos nossos filhos. Não é uma coisa que se recupere a meio do caminho, depois de estragarmos as coisas não é fácil recuperar", adiantou.
Sobrinho Simões insistiu na ideia da educação — seja ela na escola ou
na família — como força capaz de modificar estilos de vida e
comportamentos.
"Se fizermos isso vamos melhorar as condições para termos uma boa velhice, uma velhice com actividade. E esta actividade tanto deve ser física como intelectual. É muito importante esta última: tricotar e jogar cartas é muito bom, mas ler jornais, ver televisão ou discutir com amigos pode ser ainda melhor", explicou.
As relações e a comunicação foram outra das ideias defendidas pelo médico no que diz respeito a um envelhecimento activo.
"Cada um de nós não se pode demitir de fazer para si e para o seu ambiente uma actividade promotora da saúde. E isto passa por duas coisas muito simples: relacionar-se e comunicar. Se queremos ter um envelhecimento com qualidade temos que pensar na comunicação, em conversar, escutar e viver. Não há palavras tão semelhantes como solitário e solidário. Temos que transformar as primeiras nas segundas", apelou.
Insistindo que o alvo de debate são as pessoas e não os números, o especialista afirmou que só com essa consciência se conseguem resolver problemas. A telemedicina e a telesaúde, associadas aos cuidados de proximidade, foram duas alternativas mencionadas para desafios que afectam a sociedade em geral.
Manuel Sobrinho Simões, que se pautou por uma apresentação formal e descontraída, disse ainda que o envelhecimento pode ser sinal de felicidade.
"Os velhinhos são felizes. As crianças são felizes, os adultos de meia idade com as chatices que têm estão infelizes, os velhinhos quando têm saúde são felizes!", brincou.
O Coordenador da Reforma do Serviço Nacional de Saúde, Manuel Lopes,
começou por apontar a questão do bem-estar como primordial, mencionando
um conjunto de indicadores publicados pelo Eurostat que incidem sobre o
bem-estar subjectivo.
A que é que a satisfação com a vida, uma das dimensões deste bem-estar, é sensível? À actividade que nós mantemos ou não. As pessoas têm menos satisfação com a vida quanto mais inactivas estão! Também é ssensível às questões dos rendimentos. E muito sensível em relação à auto-percepção da saúde. Mas por norma não tem nenhuma sensibilidade com a idade, ou seja, parece não haver nenhuma relação entre o avançar da idade e a satisfação com a vida. Só que em Portugal não é assim, em Portugal à medida que a idade avança, menor é a satisfação com a vida", explicou.
Manuel Lopes deu ainda o exemplo de dois conceituados estudos, um realizado na Europa, outro nos Estados Unidos, que tentaram determinar quais são os determinantes de um bom envelhecimento.
"Esqueçam o colesterol e a hipertensão, a diabetes, isso tudo... O mais importante são as relações de qualidade, próximas. Pelo contrário, a solidão mata! Neste momento é considerada um problema de saúde pública, há até estudos que indicam que equivale a fumar 15 cigarros por dia", alertou.
O coordenador explicou ainda que envelhecimento é sinal de desenvolvimento já que, em toria, só sociedades desenvolvidas é que constituem sociedades envelhecidas.
"Envelhecer não é um drama nem um problema, o problema não está no envelhecimento. Está noutras dimensões que lhe estão associadas. Temos uma elevadíssima carga de doença entre os idosos. A nossa esperança média de vida aos 65 anos é comparável com as melhores países da Europa, esperamos nessa viver pelo menos mais 20 anos. O problema é que a nossa esperança média de vida com saúde é das piores da Europa", afirmou, exemplificando que Portugal vive menos dez anos saudáveis quando comparado com a Suécia.
Manuel Lopes dirigiu de seguida o discurso para a assembleia que o escutava atentamente: "já começaram a pensar no vosso envelhecimento?", questionou.
Para o Coordenador da reforma, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi uma das mais importantes realizações do Portugal democrático, mas foi pensado para uma sociedade com características completamente diferentes das que existem actualmente.
"Quando o SNS foi construído, a esperança média de vida pouco ia para além dos 60 anos. O Serviço foi pensado para tratar doenças. Actualmente tem que dar resposta aos cuidados, não podemos deixar ninguém à sua sorte só porque está dependente. Não podemos garantir apenas o acesso aos cuidados — o que na nossa sociedade, graças a Deus, é um direito fundamental —, cada vez mais os cuidados continuados se afiguram como essenciais. Foi precisamente por esta razão que foi criada a Rede Nacional de Cuidados Continuados", explicou.
A transferência dos cuidados para casa foram o último tópico da apresentação de Manuel Lopes.
"Temos que ver até que ponto conseguimos fazer isso ao máximo por variadíssimas razões: produzem o mesmo efeito em termos de saúde, recebem a preferência das pessoas e são infinitamente mais baratos. Temos que decidir em conjunto, enquanto sociedade, quantos cuidados é que queremos transferir porque isso obriga-nos a garantir condições em casa e obriga a que nos mobilizemos de forma completamente diferente", concluiu.
ARQUIDIOCESE DE BRAGA
Depois da actuação do Coro Teresiano, o Arcebispo Primaz, D. Jorge Ortiga, subiu ao palco para o discurso de encerramento.
“Urge construir, com a colaboração de todos, uma sociedade onde a qualidade de vida não seja apenas um privilégio de alguns. A qualidade de vida é um bem universal. Importa, por isso, lançar o nosso olhar às periferias urbanas, assim como às aldeias mais recônditas. Que “nação valente, imortal” é esta que sonha em “levantar hoje de novo o esplendor de Portugal” e tem medo de tocar a miséria dos mais frágeis, que olha apenas e só para o seu bem-estar e descarta as suas responsabilidades?”, questionou.
D. Jorge Ortiga afirmou ainda que o panorama português é complexo e nem sempre tem as respostas sociais mais adequadas.
“Preocupa-nos a qualidade de vida mas também a qualidade do envelhecimento, ou seja, a garantia de uma vida com sentido, com beleza e com segurança. Falar em envelhecimento activo não é suficiente se não se olha para o todo da vida da pessoa. Desde o nascimento ao ocaso, deve ter-se sempre a preocupação por um equilíbrio entre a dimensão material e espiritual da vida”, adiantou.
Velhos? Somos todos!
"O INE prevê que o número de idosos passará de 2,1 para 2,8 milhões em 2080. São números que nos mostram uma sociedade em transformação profunda, com um duplo envelhecimento: no aumento da esperança de vida e numa queda crescente, intensa, da natalidade. Mas é preciso ver que estas projecções assentam em critérios mutáveis e que dependem muito das opções das comunidades, dos países, das opções que todos nós tomarmos sobre o nosso futuro", começou por dizer.
José Vieira da Silva fez uma espécie de interregno no discurso para explicar que aprecia a palavra "velho", tendo esta já sido positivamente referida em várias sociedades. "Estou também a referir-me a mim próprio", brincou.
"Velhos somos todos! Em que sentido? A parte da população que daqui a vinte anos vai estar envelhecida é constituída por todos nós! Não há uma clonagem dos idosos, o que se passa é que eles estão entre nós, nós é que estaremos lá. Não são aliens nem estrangeiros, somos nós que vamos fazer parte dessa realidade. E se a queremos mudar, é bom que comecemos a agir agora. A agir precocemente! Agir agora para que as transições sejam feitas de forma mais positiva, mais saudável, mais feliz, se possível", apelou.
O deputado insistiu na ideia de todas as pessoas já fazerem parte da referida comunidade que está a envelhecer e explicou que o processo de envelhecimento, além das inerentes coisas boas, também tem outras "menos boas", como o facto de a maioria das famílias não ter tantos filhos como gostaria. De novo afirmou falar de cenários possíveis, que "não têm efectivamente de ser assim".
O Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social defendeu também uma tríade para um bom envelhecimento: eliminar barreiras, garantir incentivos, aprender ao longo da vida. Esta conjugação deve levar a um envelhecimento com dignidade, ideia patente na Declaração de Lisboa sobre o Envelhecimento Activo que irá guiar os governos europeus durante os próximos cinco anos.
"Temos uma sociedade que deixou de evoluir por estágios, por patamares, e passou a fazê-lo de escada rolante. Durante uns trezentos anos mudávamos e depois estabilizávamos durante décadas, quase séculos, e depois dávamos outro salto, outra ruptura. Agora é mais como uma escada rolante, sempre a andar", defendeu.
Foi com o exemplo do Japão, que protelou a idade de jubilação para os 80 anos, que José Vieira da Silva deu por concluída a sua intervenção.
"Não basta acrescentar anos de vida às pessoas se não realizarmos o potencial que esses anos significam. É um pouco como as crianças [Coro Teresiano] cantavam há pouco: o melhor de nós ainda está para vir…", concluiu.
A envelhecer desde a barriga da mãe
"Estamos a viver um aumento enorme de doenças como a obesidade, a diabetes, a hipertensão, a SIDA, a tuberculose, o cancro, a depressão, as doenças neurodegenerativas. O envelhecimento não é uma doença, de forma alguma, mas feliz ou infelizmente o envelhecimento aumenta imenso as chatices associadas a essas doenças. Há aqui um ciclo vicioso horroroso", lamentou.
De seguida, o médico apontou a obesidade como a grande pandemia do século XXI, algo em que "infelizmente Portugal é um exemplo terrível", já que exibe das piores taxas em toda a Europa de obesidade, diabetes, hipertensão e insuficiência renal, quer em adultos, quer em crianças. Os genes foram afastados desta equação pelo especialista, que indicou a alimentação e estilo de vida como os agentes potenciadores deste quadro.
"O envelhecimento é um processo patológico? Não, não há nada mais biológico do que envelhecer! Todos nós começamos a envelhecer desde que fomos um ovo na barriga das nossas mães. Não há nada mais fisiológico do que envelhecer. Se estas doenças civilizacionais apareceram nos últimos 60 anos, nós não mudamos nada em termos genéticos nesse tempo, os genes são os mesmos. A mudança deve-se a factores ambientais. Temos os genes que temos e pronto! Em geral somos todos muito parecidos uns com os outros. Temos é que ter cuidado com a alimentação e o estilo de vida, isso faz a diferença. E isto começa logo ao nascer e nas primeiras idades. Só podemos começar a preparar uma velhice com qualidade de vida se começarmos a fazer isso desde crianças, aos nossos filhos. Não é uma coisa que se recupere a meio do caminho, depois de estragarmos as coisas não é fácil recuperar", adiantou.
"Se fizermos isso vamos melhorar as condições para termos uma boa velhice, uma velhice com actividade. E esta actividade tanto deve ser física como intelectual. É muito importante esta última: tricotar e jogar cartas é muito bom, mas ler jornais, ver televisão ou discutir com amigos pode ser ainda melhor", explicou.
As relações e a comunicação foram outra das ideias defendidas pelo médico no que diz respeito a um envelhecimento activo.
"Cada um de nós não se pode demitir de fazer para si e para o seu ambiente uma actividade promotora da saúde. E isto passa por duas coisas muito simples: relacionar-se e comunicar. Se queremos ter um envelhecimento com qualidade temos que pensar na comunicação, em conversar, escutar e viver. Não há palavras tão semelhantes como solitário e solidário. Temos que transformar as primeiras nas segundas", apelou.
Insistindo que o alvo de debate são as pessoas e não os números, o especialista afirmou que só com essa consciência se conseguem resolver problemas. A telemedicina e a telesaúde, associadas aos cuidados de proximidade, foram duas alternativas mencionadas para desafios que afectam a sociedade em geral.
Manuel Sobrinho Simões, que se pautou por uma apresentação formal e descontraída, disse ainda que o envelhecimento pode ser sinal de felicidade.
"Os velhinhos são felizes. As crianças são felizes, os adultos de meia idade com as chatices que têm estão infelizes, os velhinhos quando têm saúde são felizes!", brincou.
A solidão mata
A que é que a satisfação com a vida, uma das dimensões deste bem-estar, é sensível? À actividade que nós mantemos ou não. As pessoas têm menos satisfação com a vida quanto mais inactivas estão! Também é ssensível às questões dos rendimentos. E muito sensível em relação à auto-percepção da saúde. Mas por norma não tem nenhuma sensibilidade com a idade, ou seja, parece não haver nenhuma relação entre o avançar da idade e a satisfação com a vida. Só que em Portugal não é assim, em Portugal à medida que a idade avança, menor é a satisfação com a vida", explicou.
Manuel Lopes deu ainda o exemplo de dois conceituados estudos, um realizado na Europa, outro nos Estados Unidos, que tentaram determinar quais são os determinantes de um bom envelhecimento.
"Esqueçam o colesterol e a hipertensão, a diabetes, isso tudo... O mais importante são as relações de qualidade, próximas. Pelo contrário, a solidão mata! Neste momento é considerada um problema de saúde pública, há até estudos que indicam que equivale a fumar 15 cigarros por dia", alertou.
O coordenador explicou ainda que envelhecimento é sinal de desenvolvimento já que, em toria, só sociedades desenvolvidas é que constituem sociedades envelhecidas.
"Envelhecer não é um drama nem um problema, o problema não está no envelhecimento. Está noutras dimensões que lhe estão associadas. Temos uma elevadíssima carga de doença entre os idosos. A nossa esperança média de vida aos 65 anos é comparável com as melhores países da Europa, esperamos nessa viver pelo menos mais 20 anos. O problema é que a nossa esperança média de vida com saúde é das piores da Europa", afirmou, exemplificando que Portugal vive menos dez anos saudáveis quando comparado com a Suécia.
Manuel Lopes dirigiu de seguida o discurso para a assembleia que o escutava atentamente: "já começaram a pensar no vosso envelhecimento?", questionou.
O
mais importante são as relações de qualidade, próximas. Pelo contrário,
a solidão mata! Neste momento é considerada um problema de saúde
pública, há até estudos que indicam que equivale a fumar 15 cigarros por
dia!
Manuel Lopes
"Se começam a pensar nisso aos 65 anos ainda há tempo, mas começa a
ser tarde. Os 65 são apenas um marco administrativo. Se não começarmos a
pensar nisso cedo podemos ter um envelhecimento complicado.
Necessariamente temos que construir a nossa rede de relações com tempo,
não é aos 65 anos que o vamos fazer", insistiu.Para o Coordenador da reforma, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi uma das mais importantes realizações do Portugal democrático, mas foi pensado para uma sociedade com características completamente diferentes das que existem actualmente.
"Quando o SNS foi construído, a esperança média de vida pouco ia para além dos 60 anos. O Serviço foi pensado para tratar doenças. Actualmente tem que dar resposta aos cuidados, não podemos deixar ninguém à sua sorte só porque está dependente. Não podemos garantir apenas o acesso aos cuidados — o que na nossa sociedade, graças a Deus, é um direito fundamental —, cada vez mais os cuidados continuados se afiguram como essenciais. Foi precisamente por esta razão que foi criada a Rede Nacional de Cuidados Continuados", explicou.
A transferência dos cuidados para casa foram o último tópico da apresentação de Manuel Lopes.
"Temos que ver até que ponto conseguimos fazer isso ao máximo por variadíssimas razões: produzem o mesmo efeito em termos de saúde, recebem a preferência das pessoas e são infinitamente mais baratos. Temos que decidir em conjunto, enquanto sociedade, quantos cuidados é que queremos transferir porque isso obriga-nos a garantir condições em casa e obriga a que nos mobilizemos de forma completamente diferente", concluiu.
ARQUIDIOCESE DE BRAGA
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