Mensagem do Sr. D. Jorge Ortiga aos participantes XIII Jornada da Família de Vila Nova de Famalicão
Família, um projecto de vida
Saúdo a todos os presentes e
peço desculpa por não participar fisicamente. Outras razões me impedem.
Saúdo ainda esta iniciativa, a
comunidade e o seu pároco. Reflectir sobre as realidades importantes, sobretudo
em grupo, é um dever de todos e, particularmente, dos católicos. Não podemos
viver acriticamente e guiados por meras tradições sem a mínima compreensão das
realidades. Um das realidades mais importantes é, como sabemos, a família.
Dizemos que ela é a célula da sociedade e da Igreja. Ninguém ignora que,
sociológica e cristãmente, dela depende a qualidade de vida das pessoas e da
sociedade.
Existe, infelizmente, uma ampla
confusão sobre aquilo que é essencial para o quotidiano das vidas das pessoas.
Neste contexto, o pior inimigo é, sem dúvida, a superficialidade do pensamento,
das opções e dos valores. Aquilo que hoje parece seguro, amanhã pode ser
substituído por outros critérios. Pensando na família, é então essencial que se
reconheça que quando duas pessoas se conhecem e decidem iniciar uma vida a
dois, devam discernir um sentido que envolva os dois. Existem muitas
coordenadas que devem ser equacionadas para se delinear um projecto a dois.
Aponto, desde já, duas: o diálogo e a partilha. O diálogo é a via preferencial
quando se deseja ultrapassar contratempos, dificuldades ou diferenças de
personalidade. A partilha, por sua vez, é um exercício diário de manifestação
do amor recíproco. É tão importante superar as dificuldades quanto alimentar o
amor no casal, manifestar o carinho e a paixão dos primeiros dias.
Lembro, por isso, aos casais
presentes a importância deste projecto já assumido há muitos ou poucos anos. Se
ainda não o foi, é a oportunidade para continuar o namoro e decidir para onde
se quer caminhar. Fundamental é saber para onde se deve caminhar.
Ao discernir ou confirmar este
projecto para a família cristã, torna-se urgente convidar Cristo para o
caminho. Aliás, o projecto deveria ser desenhado com Ele: que o casal se
questione sobre o seu presente e futuro mas, ao mesmo tempo, que se interrogue
sobre a vontade de Deus para a sua vida. Permanece uma pergunta. Como discernir
a vida com Cristo? A tradição da Igreja valoriza, é verdade, o silêncio e
contemplação, mas a leitura pode ser mais eloquente. Afirmo, por isso, que a
Sagrada Escritura é o código de conduta capaz de apontar os melhores caminhos.
Neste sentido, a vontade dos dois deve contar com este amigo sempre presente,
fiel, compreensivo e que nos indica, em todas as circunstâncias, o melhor
caminho.
Estar com Cristo é motivo de alegria e de
esperança e a esperança não desilude! É por isso importante abraçar
profundamente um caminho com Cristo e replicar ou lançar sementes de esperança
noutras circunstâncias ou casais. Não estarão as famílias a necessitar de
redescobrir a esperança, tornando-se instrumentos de salvação e de consolação
junto de tantos lares perdidos e desorientados?
É o desafio que vos deixo. Ter um projecto e
trabalhar para que muitos outros o tenham. A esperança raiará assim no coração das
famílias.
† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz
3 de fevereiro de 2018
Comentários
Enviar um comentário