Há dores que nos fazem perder o
sorriso, mas também nos secam as lágrimas, de tão profundas que são. A
vida é dura, quase injusta. Chegam a ser incompreensíveis as tantas
adversidades contra as quais estamos obrigados a lutar pela
sobrevivência do que somos.
Há pessoas que se conseguem manter
puras, apesar de terem de passar por vales tenebrosos. Guardam-se na
esperança de que, mais adiante, haverá espaço e tempo para continuarem a
ser quem são. Uma fé que é força. Uma bondade que é paciência. Um amor,
não pelo que são, mas por aqueles a quem dão a sua vida.
Certos sofrimentos trazem o dom de nos
revelarmos a nós mesmos como mais fortes. Despem-nos de todo o lixo que
tantas vezes julgamos ser riqueza, proteção e beleza. O que fica? O que
somos e podemos ser, o que persiste e resiste face à tempestade. Não é
algo que a sociedade considere digno de contemplar, pois que a verdade
crua é sempre algo em que é difícil fixar o olhar.
Há mudanças na vida, mais ou menos
súbitas, que nos parecem tragédias, mas que depois se revelam como o
exato ponto de partida de uma enorme aventura. Sim, quase sempre as
longas viagens passam pelo menos um grande deserto árido.
O amor é a poesia da vida. Que cada um
de nós se faça poema. Há instantes mais valiosos do que coroas de reis…
são aqueles em que, de forma simples, chegamos a ser quem somos. Apesar
das dores, por causa das dores ou para vencer as dores.
Podemos ser as asas invisíveis que outros sentem a elevá-los quando são amados.
Da janela que das trevas se abre para a
luz pode contemplar-se uma beleza que parece resolver todos os problemas
e mistérios da existência. Demora a encontrar. A escuridão tenta
ocultá-la. Está no alto. É preciso construir uma escada e depois
subi-la…
Pode a existência ter um sentido que não
somos capazes de compreender? Sim. A inteligência humana é limitada
sendo capaz de ter consciência da verdade de outras dimensões que
ultrapassam o seu entendimento.
As asas que sinto ter, e aquelas que
quase oiço à minha volta, dão-me a estranha certeza de que algo não
deixa de ser verdade apenas porque não tenho provas.
Este mundo não é o todo. No entanto é nele que somos chamados a viver, a amar e a aceitar ser amados.
A vida quer viver. Sempre.
Desgraçado de quem julga que a vida é sua, que a verdade é determinada pela sua liberdade e que este mundo é tudo o que há.
O amor costuma despertar-nos com dores que animam.
Por José Luís Martins Nunes
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