Pais felizes pedem desculpa

Todos temos dias – e momentos – mais difíceis.
 
E termos a capacidade e a coragem suficiente para reconhecer as nossas próprias falhas é um dos desafios mais difíceis nesses em momentos.
Nós sabemos como funciona a paciência, a empatia – aliás quando estamos calmos, tranquilos e relaxados respondemos aos nossos filhos num tom correspondente. Mas há momentos em que parece que não conseguimos encontrar na nossa caixa interna de velocidades maneira de reduzir para uma mudança mais baixa. E numa fracção de segundo… excedemo-nos, erramos. Numa fracção de segundos – que é tudo o que é necessário – podemos provocar uma pequena – ou grande – fractura na relação com os nossos filhos. E pior, na sua estrutura emocional.
Aceitarmos que também cometemos erros – e muitos! – é uma das capacidades que melhor deve definir os pais.
Um pedido de desculpas é um dos actos mais nobres de um pai ou de uma mãe. Porque requer humildade, requer reconhecimento de que também se erra. Pedir desculpa aos filhos deve ser uma questão de honra.
É fundamental para a construção emocional dos filhos que os pais reconheçam quando reagem de forma excessiva. Devem arrepender-se das suas acções menos correctas e não ver qualquer tipo de ameaça em pedir aos seus filhos que os perdoem.

Pedir desculpa é um sinal de força, não um sinal de fraqueza. Pedir desculpa deve ser um acto cuidadoso e atento, quando os pais ferem os filhos de alguma forma. Porque todos cometemos erros, muitos deles sem nos darmos conta, não é verdade?
Saber pedir desculpa, dar esse exemplo, vai ensinar-lhes muito sobre a vida. Sobre o amor.
E não se trata de um pedido de desculpas seguido por uma justificação da acção. Mas um pedido profundamente honesto, sincero sem desculpas associadas. É assim que deve ser um verdadeiro pedido de desculpas para que seja válido.
“Desculpa se te magoei” ou “desculpa se feri os teus sentimentos” seguido de nada mais do que silêncio da nossa parte.
E depois de pedirmos desculpas, sabermos deixar os nossos filhos terem o tempo que eles precisam para aceitar as nossas desculpas.
Para quê ter medo que as crianças possam ficar mimadas ou estragadas ou que nos desrespeitem porque lhes pedimos desculpas? Antes pelo contrário. Vão respeitar-nos mais. Admirar-nos mais. O que estraga uma criança, o seu interior afectivo ou o que faz com que ela nos desrespeite são questões que se prendem com a carência emocional e com outros factores de desconexão parental ou relacional. Nunca com momentos de conexão, de compreensão ou de amor. E pedir desculpas aos nossos filhos é, sem dúvida, um acto de amor.

E porque é que nos custa tanto pedir desculpa aos nossos filhos?
Os pais que sabem pedir desculpa aos seus filhos sabem que eles vão crescer aprendendo a ser responsáveis pelas suas próprias acções. Vão aprender a humildade, a consciência, a empatia.
Desculpando-nos aos nossos filhos ajuda-os a perceber que não somos perfeitos. E isso ajuda os nossos filhos a entender que eles próprios não têm que ser perfeitos.
Desculparmo-nos perante os nossos filhos ensina-os a regular as suas próprias emoções, ensina-os a respeitarem-se a si próprios e, por consequência, a respeitarem os sentimentos dos outros. Pedirmos desculpa aos nossos filhos é mostrarmos-lhes que os amamos.
No entanto, muito mais do que isso, pedir desculpa permite que os nossos filhos percebam que estamos a escolher ser melhores pais, melhores pessoas a cada dia. E faz-nos a nós tornarmo-nos mais conscientes disso, também.
Quando estamos a trabalhar as nossas próprias emoções, modelamos para os nossos filhos um caminho para eles aprenderem a trabalhar os seus próprios sentimentos e reacções.
Os pais que têm melhores relações com os seus filhos são, sem dúvida os pais mais felizes e realizados. Numa casa cheia de empatia e compreensão, há maior cooperação e entendimento, há maior aceitação e felicidade.
Claro que um pedido de desculpas não apaga o que já está feito e não pode ser pretexto para um comportamento desnecessário ou excessivo com os nossos filhos. Precisamos de desenraizar a ideia de que somos donos e senhores dos nossos filhos e por isso, podemos fazer o que quisermos, falar como quisermos.

Se queremos ser pais mais felizes e que os nossos filhos cresçam mais felizes, temos de saber reconhecer que cada pequena acção, reacção ou palavra pode permanecer para sempre gravados nas gavetas da memória. Gravados no núcleo profundo do seu espírito emocional. E ele irá manifestar-se eventualmente. Imediatamente ou só mais tarde. Inevitavelmente. De uma forma ou de outra.
Há, infelizmente, muitas pessoas que passam a sua vida adulta a tentar curar as mágoas do passado. Eu li algures que, infelizmente, muitos adultos, mesmo sem estarem cientes disso, vingam a sua própria infância nos seus filhos. Pode parecer mórbido, mas é cheio de lógica e sentido. Eu podia escrever muitos artigos e livros só acerca deste assunto.
Talvez a sua infância não tenha sido fácil. Provavelmente não foi. E essa é mais uma razão pela qual estas palavras sejam para si.
Para ajudar a entender que o caminho que está a escolher diariamente, mesmo que inconscientemente, com seus filhos, é um resultado de seu próprio passado. A nossa resposta ao comportamento de uma pessoa ou a uma situação é activado pelas nossas próprias emoções, pelos nossos próprios sentimentos. As nossas respostas são movidas pelo nosso próprio diálogo interno e pelas experiências contínuas, repetidas que testemunhamos e registamos ao longo da nossa vida.
Devemos ficar muito atentos para não descarregar as desgraças do nosso mais profundo eu, as frustrações do nosso dia-a- dia nos nossos próprios filhos. E nunca é demais frisar isto. A nossa jornada é a nossa jornada. E ninguém é responsável por transformá-la a não sermos nós mesmos.
Temos de saber pedir desculpas sempre que ferirmos os sentimentos dos nossos filhos de alguma forma. Sabemos bem ver nos seus olhos quando isso acontece.

As crianças são pessoas, seres humanos, antes de serem crianças. E muito antes de serem nossos filhos.  
Temos de aprender a respirar e a escolher a mudança abaixo na nossa caixa de velocidades. Temos de saber ignorar certas situações, levar outras para a brincadeira, ou pedir calmamente uma pausa, caso seja necessário. Não podemos culpar os nossos filhos quando somos nós que chegamos maçados do emprego ou estamos cansados e reagimos impacientemente com eles. Quando somos nós que passamos das marcas. Simplesmente não é assim que funciona. Nós é que somos os adultos. Não somos perfeitos mas temos de ser nós a saber regular as situações. A saber gerir as nossas emoções. Pode não ser fácil quando estamos mais cansados ou irritados, mas se nos treinarmos a fazê-lo, os resultados são espantosos e surpreendentes.
Os pais felizes vibram numa dimensão extraordinária, olhando para os seus filhos com empatia e conexão, tirando experiências e benefícios a partir de tudo o que aprendem com eles. E levam essas experiências e benefícios para o mundo lá fora, para as suas vidas diárias.
Nos seus momentos mais difíceis, lembre-se sempre de parar, respirar e perguntar-se: O que faria o amor?


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