Os espinhos à volta do bem

Ser capaz de arrancar a alguém um espinho que traz espetado no corpo, ao qual possa até já ter-se resignado, é algo de libertador, quase divino.

Todos temos espinhos cravados na carne que ninguém conhece e poucos imaginam. E são esses espinhos, os invisíveis, aqueles que doem mais fundo. Eles revelam a nossa enorme fragilidade, mas também a nossa força para seguir adiante, apesar de a sua presença nos doer em cada dia, a cada passo. Por vezes, estes ferrões escondidos, tornam-nos mais difíceis, intolerantes e duros para com os outros…
Ser capaz de arrancar a alguém um espinho que traz espetado no corpo, ao qual possa até já ter-se resignado, é algo de libertador, quase divino. É grande a luz de quem compreende que, para lá dos seus espinhos, há muitos outros, maiores e mais afiados, cravados noutras pessoas, talvez mais fracas e inocentes.
É certo que os espinhos fazem parte da vida. São mentira todos os sonhos com que nos iludimos ao ponto de imaginarmos que, chegando a um determinado ponto neste mundo, os espinhos deixarão de existir.
Os espinhos da vida podem servir para nos lembrarmos de quanto são valiosas as coisas boas. A vida é ampla e muito rica em bondade e maldades.
Por cada um de nós que conquista algo de sublime, haverá muitas pessoas boas que ficaram pelo caminho. Não por serem más, mas porque ao céu se chega por caminhos duros.
Haverá sempre espaço entre os espinhos. Quem quer crescer aí, mais tarde ou mais cedo tem de passar por eles, para ir florir mais além.
Os espinhos são passageiros, ainda que o seu tormento dure uma vida inteira.
Quase todos queremos alcançar o céu, mas quantos de nós estarão dispostos a ir por onde se deve ir para lá chegar?
O amor, a verdade e a vida estão envoltos em espinhos, que coroam as vidas de quem se dá.

Por José Luís Nunes Martins

RENASCENÇA

Comentários